Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Para tirarmos máscaras ao ar livre, devemos reforçar uso em local fechado
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A notícia de que os estados de São Paulo e Rio de Janeiro discutem o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos trouxe um enorme receio à população. Será que já é hora de abandonarmos as máscaras? Não é cedo demais para fazê-lo com segurança?
Em maio deste ano, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos anunciou que pessoas vacinadas não precisariam mais utilizar máscaras. Dois meses depois, diante da circulação da variante delta e da recusa de boa parte da população americana em se vacinar, o país viu o número de casos e óbitos disparar.
O CDC voltou atrás na orientação, mas o estrago já estava feito, e o órgão foi acusado de ter deixado a ciência de lado em nome da pressão pela retomada das atividades econômicas.
O episódio serviu de alerta para o mundo. Retirar a recomendação do uso de máscaras cedo demais pode colocar em risco meses de esforço para o controle da pandemia.
No entanto, faz parte de uma boa comunicação em emergências sanitárias informar os riscos com clareza, para que as pessoas façam sua gestão individual de riscos com base em dados.
Para isso, é importante saber que não existe risco zero. Qualquer pessoa que precise conviver socialmente em meio a uma pandemia de um vírus respiratório altamente contagioso vai correr algum risco. Portanto, conhecer as situações mais ou menos arriscadas é fundamental para que a população tome boas decisões.
Hoje sabemos que o Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19, passa basicamente pelo ar. Isso significa que ficar em ambientes fechados, em especial quando houver aglomerações, é muito inseguro. Locais assim exigem máscaras de boa qualidade, como as PFF2, aquelas cujo elástico passa por trás da cabeça.
Por outro lado, o risco de se contaminar ao ar livre é extremamente baixo. Segundo o engenheiro biomédico Vitor Mori, pesquisador da Universidade de Vermont, nos EUA, estima-se que menos de 1% das transmissões ocorre nesses espaços.
Hoje, o Brasil tem cerca de 45% da população totalmente vacinada. Ainda não é uma taxa que nos possibilite deixar de lado as medidas preventivas, mas já nos permite começar a pensar em algumas flexibilizações.
Assim, é natural que a discussão sobre o fim do uso de máscaras comece por ambientes abertos, em locais em que dê para manter o distanciamento entre as pessoas, visto que interações face a face e por períodos prolongados aumentam o risco de contaminação. Quando não for possível manter o distanciamento físico, o ideal é usar máscara.
Mori defende que a flexibilização do uso de máscaras ao ar livre venha acompanhada do reforço, por parte de autoridades políticas e sanitárias, da sua necessidade em locais fechados.
Por algum motivo que me escapa à compreensão, muita gente acha que ao entrar em um restaurante fechado e lotado, a máscara se torna desnecessária. Também não entendo por que alguns pensam que ficar em uma sala fechada com amigos e familiares sem máscara não tem perigo. Será que julgam que apenas estranhos transmitem o vírus?
Locais sem ventilação oferecem alto risco para as pessoas, e abandonar a máscara nesses espaços provavelmente será a última medida a ser adotada após o fim da pandemia.
Outra confusão é em relação ao risco de transmissão entre vacinados. Embora ele exista, sabemos que imunizados têm uma probabilidade muito menor de se contaminar e de desenvolver quadros graves do que aqueles que não tomaram a vacina.
Se não fazemos essa distinção e dizemos que vacinados e não vacinados transmitem igualmente o vírus e que locais abertos e fechados apresentam o mesmo risco de contaminação, além de não ser verdade, por que as pessoas, então, se vacinariam e optariam por espaços ao ar livre para encontros sociais?
Não concordo com aqueles que acham que as pessoas não têm condições de fazer boas escolhas. Elas precisam, contudo, de informações. Saber que a vacina é essencial para conter a pandemia, que o vírus passa pelo ar e que, portanto, locais fechados e sem ventilação são mais arriscados que espaços ao ar livre ajuda na tomada de decisões.
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