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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uso de máscaras: é hora de flexibilização com consciência

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

23/03/2022 04h00

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Boa parte dos municípios brasileiros está suspendendo a obrigatoriedade do uso de máscaras, depois de mais de dois anos de restrições para tentar controlar a pandemia de covid-19. No entanto, os critérios para a decisão não ficaram muito claros, o que gerou dúvidas na população.

Definir quando começa e quando termina uma pandemia não é algo simples, e a tarefa certamente deve ficar a cargo das autoridades em saúde pública. Durante toda a pandemia, houve falhas na comunicação do Ministério da Saúde, órgão que deveria ter sido responsável por definir e comunicar as diretrizes de enfrentamento, e coube aos estados e municípios decisões que deveriam ter sido coordenadas nacionalmente.

Em relação ao uso de máscaras, houve resistência de setores do governo federal e do próprio presidente da República em recomendar seu uso, mesmo nos momentos em que sequer tínhamos vacinas disponíveis e, portanto, as máscaras eram a principal ferramenta de proteção individual e coletiva.

A pandemia é dinâmica, e requer avaliação constante. Na fase em que estamos, com queda no número de casos novos, internações e óbitos e com alta cobertura vacinal é possível flexibilizarmos algumas recomendações, como a obrigatoriedade do uso de máscara em todos os ambientes.

Contudo, isso tem de ser feito com cautela. Já passamos por períodos de calmaria que foram sucedidos por outros bastante turbulentos. Retroceder em uma recomendação não é fácil, mas é possível, se houver critérios epidemiológicos bem definidos e uma boa comunicação.

De acordo com o infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), devemos deixar as máscaras para situações mais arriscadas, como os locais com aglomerações, onde não seja possível manter o distanciamento físico, independentemente de ser ambiente aberto ou fechado.

Para o médico, é essencial focarmos na conscientização, o que exige uma boa comunicação. Ressaltar a importância da terceira dose para todos os adultos com mais de 18 anos, reforçar que os lugares abertos sem aglomeração devem ser priorizados, recomendar que pessoas com sintomas gripais usem máscara em todos os lugares. "Temos que sair do modelo focado na obrigatoriedade e insistir na conscientização", ressaltou.

O infectologista Júlio Croda concorda com as recomendações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), que indica fortemente o uso de máscaras para indivíduos sintomáticos, populações mais vulneráveis a desenvolver covid grave (não vacinados, imunossuprimidos, pessoas com mais de 60 anos e gestantes) e pessoas que frequentem locais fechados e abertos com aglomeração, regiões com risco maior de transmissão do Sars-CoV-2 e unidades de saúde.

Não sabemos se e até quando a pandemia estará mais controlada, portanto é legítimo que as pessoas, após tanto tempo de restrições, desejem retomar as atividades sociais com alguma liberdade. E agora é a hora de fazer isso, desde que avaliemos as situações com cuidado.

Vai a um local fechado, com aglomeração? Coloque a máscara. As taxas de transmissão diminuíram, mas ainda estão altas, e a cobertura da terceira dose não passa dos 45%.

Resolveu passear no parque com a família? Pode dispensar a máscara, mas leve-a com você, para o caso de haver aglomeração.

Pretende fazer uma reunião em casa, com poucos presentes? Mantenha o ambiente arejado e o distanciamento entre as pessoas. Certifique-se, também, de que estão todos vacinados e que não há pessoas com risco elevado de desenvolver covid-19 grave.

Vacine as crianças e explique que elas devem dar preferência para brincadeiras ao ar livre. Se possível, peça para elas usarem máscara nas salas de aula, mesmo que não seja obrigatório.

A máscara é uma medida de proteção individual e coletiva bastante eficaz. Vale investir em uma de boa qualidade, que se ajuste bem ao rosto (os especialistas têm recomendado o modelo PFF2). É muito provável que tenhamos que recorrer a ela por um bom tempo.

O momento é de relativa calmaria, mas alguns países como China, Itália, Reino Unido e França estão vendo as taxas de transmissão aumentarem. Aproveite, mas avalie seu risco individual e pense também no coletivo ao fazer suas escolhas.