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Mariana Varella

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Saúde anal: preconceito esconde o interesse pelo tema

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

01/02/2023 04h01

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As pessoas têm bastante interesse nas informações a respeito do ânus e temas relacionados: desde que comecei a trabalhar com jornalismo de saúde na internet, e lá se vai mais de uma década, todas as matérias que realizei sobre o assunto receberam milhares de acesso.

Sangramento anal, hemorroidas, coceira, fissuras, sexo anal, higiene e frequência das evacuações são assuntos que despertam os leitores, talvez porque ainda haja muito preconceito e desinformação envolvendo o tema.

O ânus é a parte final do intestino grosso, por onde são eliminadas as fezes e os gases. Além disso, é uma região com muita irrigação sanguínea e terminações nervosas, sendo, assim, considerada uma área de prazer sexual para muitas pessoas, independentemente do sexo e da orientação sexual.

Para ajudar a esclarecer as dúvidas e reduzir o preconceito a respeito do ânus, separei alguns temas que frequentemente suscitam dúvida e curiosidade.

Higiene do ânus

O ideal é sempre lavar a região anal com água e sabonete após a evacuação e no banho diário. É importante, também, secar bem a área com uma toalha macia após a higiene, para não deixar o local úmido.

É possível utilizar lenço umedecido após ir ao banheiro, caso não seja possível realizar a higiene com água e sabão, mas é preciso escolher um produto neutro, para evitar irritar o local.

"O sonho dos proctologistas é tirar o papel higiênico do mercado", brinca Aline Amaro, proctologista do Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP). "Os lenços umedecidos neutros são mais eficientes, quando não for possível usar água e sabão", explica a médica.

Mulheres devem sempre se limpar de frente para trás. Essa é a forma mais recomendada para evitar contaminação da região vaginal com resíduos fecais.

Se notar a presença de sangue ao evacuar ou se limpar, é preciso atenção. Embora o uso inadequado de papel higiênico seja a principal causa de fissuras no ânus, que podem provocar sangramento pouco abundante e de cor vermelho-vivo, se o sintoma não melhorar, é preciso procurar um proctologista. "Sangramento anal não é normal, e pode ser sinal de fissura, hemorroida ou câncer de intestino. Portanto, é preciso investigar sua origem", ensina.

Hemorroidas

A constipação é um dos principais fatores de risco para a doença hemorroidária. Isso porque pessoas com prisão de ventre tendem a fazer muita força para evacuar, aumentando a pressão no canal anal e nos vasos sanguíneos da região. Assim, esses vasos ficam mais dilatados, gerando a doença hemorroidária.

Além disso, a constipação torna as fezes mais ressecadas e endurecidas, aumentando o risco de lesão do canal anal. Uma alimentação que inclua fibras e uma hidratação adequada, além da prática de atividade física, ajudam a manter o bom funcionamento dos intestinos.

O papel higiênico não provoca hemorroida, mas piora seus sintomas, já que não remove totalmente as fezes e altera o pH da região, causando prurido anal.

Por outro lado, embora o senso comum afirme o contrário, pimenta não provoca hemorroida, mas pode intensificar os sintomas de quem já tem a doença. Isso porque alguns componentes da pimenta, que não são digeridos pelo intestino, têm alta capacidade de causar irritação ao saírem nas fezes, agravando os sintomas.

As hemorroidas tampouco são contraindicação para o parto normal. Durante o procedimento, a parturiente pode apresentar piora do quadro, por conta do esforço pélvico excessivo, mas isso não impede o parto normal. Nesse caso, é recomendado acompanhamento com o coloproctologista durante a gestação, para amenizar os sintomas e os riscos.

O sexo anal, por sua vez, pode intensificar os sintomas de quem já tem hemorroida, porém ele não gera a doença. É importante sempre lembrar do lubrificante para evitar qualquer lesão na região. "A relação sexual anal não é um fator causal de hemorroida, mas pode piorar os sintomas", explica o proctologista Danilo Munhóz, fellow em cirurgia laparoscópica avançada no Instituto Lubeck, em Salto (SP). Para quem tem doença hemorroidária, é essencial o uso de lubrificantes na hora da relação sexual anal.

Sexo anal

O sexo anal não prejudica o funcionamento do intestino, e quando feito seguindo as orientações, como uso de preservativo e lubrificantes, não causa nenhum prejuízo à saúde. "É sempre indicado utilizar lubrificante à base de água, que não danifica o preservativo, que deve ser usado nas relações sexuais para evitar ISTs [infecções sexualmente transmissíveis]. É importante lembrar de usar o lubrificante também durante a relação, e não apenas no início", ensina o médico

Um hábito frequente entre as pessoas que praticam sexo anal é realizar a lavagem retal, conhecida como "chuca", antes da relação. Se feita conforme as orientações corretas, não há problema em realizar o procedimento. Para reduzir o risco de traumas na região, é necessário ter cuidado com a quantidade de líquido introduzido e preferir acessórios próprios para a realização da lavagem.

"Não existe um número mágico de vezes, mas o que orientamos é que o procedimento não seja um hábito obrigatório em toda relação, pois quando em excesso pode alterar a microbiota intestinal", explica ele.

O uso de brinquedos sexuais também está liberado, desde que a pessoa siga as mesmas recomendações do sexo anal: uso de lubrificante e preservativo, caso o objeto seja introduzido em outra pessoa ou em outro local além do ânus.

Rastreamento e prevenção do câncer colorretal

A colonoscopia é um exame que usa técnica semelhante à da endoscopia, mas que analisa principalmente o intestino grosso com o objetivo de diagnosticar infecções, tumores e pólipos (crescimento anormal do tecido da mucosa), que podem ser precursores de tumores malignos.

O exame não causa nenhuma dor, já que é realizado com o paciente anestesiado. A parte mais desagradável do exame é o preparo: para que seja possível visualizar o intestino grosso e a parte final do delgado, é preciso que os intestinos estejam limpos. Assim, algumas horas antes da colonoscopia o paciente deve tomar uma solução laxativa ou laxantes que promovem o esvaziamento dos intestinos.

"No Brasil, a orientação é que todas as pessoas a partir dos 50 anos realizem a colonoscopia para rastreio e prevenção do câncer colorretal, embora as sociedades americana e europeia do câncer recomendem o exame a partir dos 45 anos", afirma Munhóz. "Caso o primeiro exame dê normal e a pessoa não tenha histórico familiar da doença, ela pode repetir a colonoscopia depois de 10 anos", explica o especialista.

Ainda de acordo com o médico, quem tem familiar de primeiro grau com a doença deve começar a fazer o exame 10 anos antes do parente ter recebido o diagnóstico de câncer, ou a partir dos 40 anos.