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Mariana Varella

REPORTAGEM

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Pacientes de geriatria estão cada dia mais jovens e mais adoecidos

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

19/04/2023 04h01

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A expectativa de vida do brasileiro, que era de 52,5 anos em 1960, segundo o IBGE, passou para 76,7 anos em 2020. Estamos vivendo mais, mas isso não significa que estejamos vivendo bem.

Hoje o mundo enfrenta o que muitos especialistas em saúde pública chamam de epidemia de doenças não transmissíveis, também conhecidas como doenças crônicas, como as doenças cardiovasculares, diabetes e câncer.

O aumento da longevidade da população, associada a maus hábitos de vida, como sedentarismo e má alimentação, mudou o perfil da saúde de parte significativa da população mundial, que antes morria principalmente de doenças infectocontagiosas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 74% das mortes atuais ocorram devido a esses eventos, sendo 86% em países de baixa e média renda.

De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, 46% dos 16,7 milhões brasileiros com diabetes sequer tinham o diagnóstico da doença em 2019.

Cerca de 30% da população brasileira adulta tem hipertensão, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia; estima-se que apenas 20% dos hipertensos estejam devidamente tratados.

A OMS estabelece que a velhice começa aos 60 anos, embora a organização faça questão de ressaltar que a idade cronológica não é um marcador preciso para as mudanças que acompanham o envelhecimento.

Segundo a geriatra Ana Cláudia Arantes, a quem entrevistei para o Portal Drauzio Varella, o envelhecimento começa a partir do momento em que o corpo alcança seu melhor status. "Isso ocorre muito cedo, por volta dos 23 ou 25 anos, quando alcançamos o melhor desempenho físico", explicou.

Depois disso, o organismo começa a perder a reserva funcional, que, grosso modo, é a diferença entre o que normalmente é exigido de cada órgão no dia a dia e o que temos disponível para utilizar. Um organismo jovem tem uma capacidade superior de responder adequadamente às demandas funcionais do que o de um idoso, por exemplo. Com o envelhecimento fisiológico, perdemos progressivamente essa característica vantajosa e isso favorece o surgimento de determinadas doenças.

Embora caracterize o processo de envelhecimento, a perda funcional não ocorre da mesma forma para todo mundo. Cada vez mais as evidências científicas têm mostrado que se é fato que o processo de envelhecimento é inexorável, também é verdade que ele depende de uma série de hábitos e fatores (genéticos, socioeconômicos, culturais, psicológicos e ambientais) que variam de indivíduo para indivíduo.

A abordagem atual da geriatria, área da medicina que cuida dos eventos de saúde de uma pessoa idosa, entende que é possível e desejável planejar o envelhecimento, não para fugir dele, mas para torná-lo mais saudável.

"A velhice não é sinônimo de doença. Existem doenças mais comuns em idosos, mas elas podem ser evitadas ou amenizadas e tratadas se houver cuidado antes", explicou a dra. Ana Cláudia.

Assim, muitos pacientes têm procurado o geriatra antes dos 60 anos, para planejar a velhice. A vantagem disso é que o médico geriatra tende a tratar o paciente como um clínico geral, e não como a maioria dos especialistas, que cuidam de determinados órgãos e doenças.

"É possível investir em prevenção primária desde cedo. Muitas vezes nem é preciso fazer um monte de exames, como muita gente faz, mas entender quais as doenças mais frequentes na sua família, quais são seus maiores riscos e como cultivar um corpo saudável", falou a dra. Ana Cláudia.

Infelizmente, nem todas as pessoas com menos de 60 anos que procuram um geriatra o fazem para planejar o envelhecimento.

"Nosso consultório está cada dia mais jovem e mais envelhecido", alertou a médica.

Para evitar o adoecimento de suas populações e gastos oriundos dos tratamentos de milhões de pessoas, todos os sistemas de saúde do mundo terão um grande desafio pela frente: investir e organizar programas de prevenção de doenças não transmissíveis.