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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasil tem a 2ª pior taxa de vacinação em bebês da América Latina

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

26/04/2023 04h00

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Foi-se o tempo em que o Brasil tinha uma das maiores coberturas vacinais do mundo. Elogiado nacional e internacionalmente, o PNI (Programa Nacional de Imunizações), criado em 1973, fornece, de forma gratuita e para toda a população brasileira, as vacinas contra as principais doenças infectocontagiosas para as quais existem imunizantes.

No entanto, a cobertura de todas as vacinas ofertadas pelo programa vem caindo desde 2015 e hoje está abaixo da meta estabelecida, de cerca de 95% do público-alvo, fazendo com que o país corra o risco de ver de volta doenças evitáveis já erradicadas ou pouco prevalentes.

De acordo com dados do DataSUS, a cobertura da vacinação contra a poliomielite caiu de 98,3% em 2015 para 76,7% em 2022. A da primeira dose da vacina tríplice viral (o esquema básico é de duas doses) — que protege contra sarampo, caxumba e rubéola— caiu de 96,1% para 80,4% no mesmo período. E a cobertura da vacina pentavalente —contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e a bactéria haemophilus influenza tipo b— passou de 96,3% para 76,8%.

Na semana passada, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançou um relatório em que afirma que o Brasil tem a 2ª pior taxa de vacinação em bebês da América Latina, ficando atrás apenas da Venezuela.

Entre 2019 e 2021, 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose da vacina DPT, que protege contra tétano, difteria e coqueluche. O esquema básico da vacina é de três doses.

O mesmo número de crianças, 1,6 milhão, também não recebeu a vacina contra a poliomielite nos últimos três anos.

De acordo com o relatório, o mundo vive o maior retrocesso contínuo na imunização infantil em 30 anos, agravado pela pandemia de covid-19. No Brasil, a pandemia reforçou as desigualdades socioeconômicas. Não à toa, a maioria das crianças não vacinadas vive em comunidades socialmente vulneráveis

Além disso, ainda segundo o Unicef, a confiança da população nas vacinas caiu depois da pandemia: antes, 99,1% dos brasileiros confiavam nas vacinas infantis, taxa que hoje está em 88,8%.

Os motivos para a hesitação vacinal são muitos, segundo a Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), e vão desde o horário de funcionamento limitado das UBS até o aumento da circulação de desinformação, problema que se agravou muito nos últimos anos, com a campanha ostensiva de grupos antivacinistas durante a pandemia.

Existem várias pesquisas em andamento para compreender a influência dos movimentos antivacinistas, que nunca foram muito expressivos no país, na queda da cobertura vacinal.

Ainda faltam dados sólidos a respeito do número de membros e das formas de atuação desses grupos, mas uma coisa pesquisadores dão como certo: a atuação do governo anterior, que lançou desinformação a respeito da segurança e da eficácia das vacinas contra a covid-19 e contou com o apoio de muitos profissionais de saúde ignorantes ou inescrupulosos, fortaleceu esses movimentos.

Para tentar reverter o quadro, o Ministério da Saúde lançou o Movimento Nacional pela Vacinação, cuja meta é retomar as altas coberturas vacinais.

O Unicef também recomenda que as crianças não vacinadas sejam identificadas e que haja uma busca ativa para que sua caderneta de vacinação seja atualizada.

Se começarmos a correr atrás do prejuízo agora, talvez retomemos nossa cobertura vacinal em alguns anos. É isso ou voltarmos ao passado, quando nossas crianças morriam de doenças para as quais hoje existem vacinas.