Topo

Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Hepatites virais matam 1,4 milhão de pessoas por ano no mundo

Colunista do UOL

02/08/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

No dia 28 de julho comemora-se o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, um sério problema de saúde pública no Brasil.

Essas doenças atingem o fígado e muitas vezes são silenciosas, fazendo com que o paciente descubra o diagnóstico quando a doença já está avançada. As hepatites virais mais comuns no país são as A, B e C; mais raramente, ocorrem casos de hepatites D e E.

No mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), as hepatites virais matam cerca de 1,4 milhão de pessoas por ano.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, de 2000 a 2021 foram notificados 718.651 casos confirmados de hepatites virais. Destes, 23,4% são referentes aos casos de hepatite A, 36,8% aos de hepatite B, 38,9% aos de hepatite C e 0,6% aos de hepatite D. Os óbitos por hepatite C são a maior causa de morte entre as hepatites virais. De 2000 a 2020, foram identificados 62.611 óbitos associados à hepatite C (76,2% do total de óbitos por hepatites virais).

Hepatite A

A hepatite A costuma causar quadros agudos e sua transmissão se dá pela via oral-fecal, por infecção direta ou através de objetos contaminados. A doença tem relação com alimentos ou água contaminados, baixos níveis de saneamento básico e má higiene pessoal.

Seus sintomas costumam ser febre alta, dores articulares, dores musculares e pele e olhos amarelados (icterícia). No entanto, grande parte das pessoas infectadas não tem nenhum desses sintomas ou apresenta sintomas tão leves que sequer obtém o diagnóstico da doença.

A maioria dos quadros se resolve espontaneamente em um ou dois meses; no entanto, numa minoria de casos, a evolução é atípica e a única possibilidade de tratamento é o transplante de fígado. São também raros os quadros fatais de hepatite fulminante causados pela necrose maciça das células do fígado.

Não há um tratamento específico para a doença, mas os pacientes devem evitar o uso de álcool durante o quadro agudo e por pelo menos três meses depois que as enzimas do fígado se normalizarem.

Para prevenir a doença, o Ministério da Saúde recomenda:

Lavar as mãos (incluindo após o uso do sanitário, troca de fraldas e antes do preparo de alimentos);

Lavar com água tratada, clorada ou fervida, os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;

Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;

Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;

Usar instalações sanitárias;

No caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária.

Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;

Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;

Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais.

No entanto, a forma mais eficaz de prevenção é a vacina contra a doença, que está disponível pelo SUS e deve ser tomada em dose única aos 15 meses e antes de completar 5 anos de idade.

As sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) recomendam a aplicação rotineira aos 12 e 18 meses de idade, ou o mais cedo possível, quando a vacinação não ocorrer nestas idades recomendadas.

Hepatite B

Na maioria dos casos, a hepatite B não causa sintomas e costuma ser diagnosticada anos após a infecção. É uma IST (infecção sexualmente transmissível) que provoca inflamação no fígado. A via sexual não é a única forma de a pessoa adquirir o vírus da hepatite B, ou HBV, mas seguramente é a mais importante delas. Ele pode penetrar no organismo também por via parenteral e perinatal (durante a gestação e o parto).

Assim, é essencial que todas as grávidas façam o exame para detectar o HBV durante o pré-natal, para realizar a profilaxia com tenofovir, ou TDF, a partir do 3º trimestre da gestação, caso seja necessário.

O vírus também pode passar por meio de objetos contaminados, como alicates para cortar cutículas e agulhas. Por ser muito resistente e permanecer nesses instrumentos por até mais de uma semana, ele é potencialmente infectante.

Muitas vezes, o HBV é eliminado naturalmente do organismo e a pessoa se torna imune a novas infecções. No entanto, quando isso não ocorre, o vírus causa uma reação inflamatória crônica que, embora contida e limitada, no decorrer de anos pode levar a complicações hepáticas muito graves como a cirrose e o câncer de fígado.

A melhor forma de se prevenir contra a hepatite B é por meio da vacina, oferecida pelo SUS. Apesar de gratuita, a vacina tem sido pouco procurada nas Unidades Básicas de Saúde. O Brasil fechou o ano de 2021 com apenas 76% das crianças menores de 1 ano imunizadas contra a doença. Dados preliminares de 2022 registraram queda ainda mais acentuada no último ano: 75,2% das crianças foram vacinadas.

Em 2018, 86% das crianças dessa faixa etária foram vacinadas contra a doença. Os dados são de estudo feito pelo Observa Infância, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com o Unifase (Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto).

O esquema oferecido pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) é de quatro doses: uma dose ao nascimento e doses aos 2, 4 e 6 meses de vida, incluídas na vacina pentavalente (garante a proteção contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria Haemophilus influenzae tipo b).

Para crianças mais velhas, adolescentes e adultos não vacinados no primeiro ano de vida, o PNI, a SBP e a SBIm recomendam três doses, com intervalo de um ou dois meses entre primeira e a segunda doses e de seis meses entre a primeira e a terceira.

Hepatite C

A hepatite C costuma evoluir de forma silenciosa e sem tratamento pode se tornar uma doença crônica grave, aumentando o risco de cirrose e câncer de fígado.

É transmitida principalmente pelo contato com sangue ou material contaminado pelo sangue, como seringas, alicates de unha e objetos cortantes que não estejam devidamente esterilizados. As transmissões por via sexual e de mãe para filho são menos comuns, mas podem acontecer.

De acordo com o Ministério da Saúde, a transmissão da hepatite C pode ocorrer por:

Contato com sangue contaminado, pelo compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas (cachimbos);

Reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos;

Falha de esterilização de equipamentos de manicure;

Reutilização de material para realização de tatuagem;

Procedimentos invasivos (ex: hemodiálise, cirurgias, transfusão) sem os devidos cuidados de biossegurança;

Uso de sangue e seus derivados contaminados;

Relações sexuais sem o uso de preservativos (menos comum);

Transmissão de mãe para o filho durante a gestação ou parto (menos comum).

As hepatites B e C são as principais causas de doença hepática crônica, cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (câncer), o que as tornam um problema grave para o SUS.

O tratamento da hepatite C evoluiu muito nos últimos anos, e atualmente é feito com os chamados antivirais de ação direta (DAA), que apresentam taxas de cura de mais 95% e são realizados, geralmente, por 8 ou 12 semanas.

Todas as pessoas com infecção pelo vírus da hepatite C, ou HCV, podem receber o tratamento pelo SUS.