Mariana Varella

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Reportagem

A moda do zolpidem: veja perigos de usar o remédio sem orientação médica

Você provavelmente só escutou falar do zolpidem nos últimos anos, embora ele tenha sido lançado na França em 1988. Isso porque a medicação se tornou mais conhecida a partir de 2007, quando sua patente expirou e a droga pôde ser comercializada por vários laboratórios em sua versão genérica.

De lá para cá, a venda desse hipnótico não benzodiazepínico só cresceu. A Anvisa calcula que foram vendidas 13,6 milhões de caixas de zolpidem em 2018. Dois anos depois, em 2020, esse número saltou para 23,3 milhões — um aumento de 71%.

O zolpidem é indicado para tratar determinados casos de insônia e deve ser administrado por tempo determinado, em geral algumas semanas.

De acordo com o Ministério da Saúde, 72% dos brasileiros sofrem de alterações do sono, mas nem todos os casos podem ser classificados como transtorno de insônia crônica, cujos sintomas têm duração média de três anos.

Por induzir o sono por tempo mais curto que os benzodiazepínicos como diazepam e clonazepam, o zolpidem caiu nas graças dos insones que desejam um sono rápido sem efeitos colaterais prolongados.

Embora seja vendido com prescrição médica, o uso por conta própria do zolpidem e de outros remédios que induzem o sono é comum entre os brasileiros.

Muitas pessoas utilizam o medicamento a longo prazo, de forma contínua e sem nenhum acompanhamento médico. Isso interfere na criação de hábitos saudáveis de sono e ainda pode colocar a pessoa em perigo devido à chamada amnésia anterógrada, em que o indivíduo se lembra perfeitamente das ocorrências a longo prazo, porém não se recorda dos acontecimentos recentes.

São relativamente comuns os relatos de pessoas que fizeram compras e postagens inadequadas nas redes sociais, mandaram mensagens e até saíram de casa e não se recordam depois.

Além disso, o medicamento pode induzir dependência e tolerância, fazendo com que as pessoas precisem de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito.

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Médicos de outras áreas que não a psiquiatria ou a neurologia têm receitado zolpidem de forma indiscriminada, às vezes por tempo indeterminado.

Muitos desses profissionais carecem de conhecimento a respeito do uso correto de hipnóticos (indicação, posologia, tempo indicado de tratamento, etc.) e seus efeitos colaterais, induzindo os pacientes ao uso abusivo.

Segundo afirmou o dr. Fernando Gomes, neurocirurgião, neurocientista e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em entrevista à jornalista Beatriz Zolin para o Portal Drauzio, o uso de medicamentos para dormir sem acompanhamento médico pode causar:

  • Piora da qualidade do sono;
  • Dificuldade de memorização;
  • Camuflagem de outros problemas: em muitos casos, quando a insônia é causada por um transtorno como depressão ou ansiedade, o uso do zolpidem pode ocultar a origem do problema e atrasar o diagnóstico;
  • Dependência química e psicológica: depois de um tempo, a pessoa passa a precisar do estímulo neuroquímico para que o cérebro entre no ciclo do sono. Ela também faz disso um hábito, se desesperando se não tiver o remédio à disposição. É uma situação semelhante à adição do cigarro.

Se a automedicação deve ser sempre evitada, no caso dos medicamentos psiquiátricos os cuidados precisam ser redobrados.

Só use remédios que induzem o sono se você tiver recebido a prescrição médica e sempre respeite as seguintes orientações:

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Siga as instruções (posologia, horário, tempo de uso etc.) passadas pelo médico, de preferência um psiquiatra, para tomar o medicamento;

Ao tomar o comprimido, deite na cama imediatamente;

Utilize o medicamento apenas pelo tempo receitado pelo médico. Às vezes, o tratamento precisa ser um pouco mais prolongado, mas apenas o profissional especializado poderá orientá-lo. Converse com ele e tire suas dúvidas;

Procure o médico caso tenha efeitos colaterais;

A longo prazo, adote hábitos de higiene do sono, como ir dormir sempre no mesmo horário, criar um ambiente que induza o sono, desligar aparelhos eletrônicos próximo da hora de dormir, entre outros.

Avise o médico se você faz uso de outros medicamentos e jamais tome bebidas alcoólicas junto com o remédio.

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Cada vez mais a ciência vem entendendo a importância do sono para a saúde em geral. Um sono de má qualidade pode causar mau humor, cansaço, dificuldade de concentração, maior propensão a erros e, a longo prazo, até aumentar o risco de uma série de doenças, como hipertensão. Além disso, dormir mal também pode causar impactos negativos à memória.

Medicamentos podem ser úteis para algumas pessoas que sofrem de insônia, mas nunca devem ser usados por conta própria ou por tempo indeterminado.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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