Mariana Varella

Mariana Varella

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Um terço das crianças tem miopia; falta de luz solar pode estar por trás

Uma em cada três crianças tem miopia ou dificuldade para ver de longe, revelou uma revisão sistemática e meta-análise publicada no British Journal of Ophthalmology, que analisou pesquisas com mais de 5 milhões de crianças de 50 países dos seis continentes.

Para os pesquisadores, o isolamento social imposto durante a pandemia de covid-19 teve um impacto negativo na visão das crianças, que ficaram mais tempo expostas a telas e menos ao ar livre.

O aumento dos casos de miopia tem sido uma preocupação no mundo todo. Entre 1990 e 2023, houve um aumento de 36% dos casos, em especial depois da pandemia. De acordo com os pesquisadores, até 2050 o problema irá afetar mais milhões de crianças.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), por sua vez, estima que até 2050 metade da população mundial será míope.

Miopia

A miopia, distúrbio visual caracterizado por um globo ocular mais "longo", o que provoca a formação da imagem antes que a luz chegue até a retina, tem fatores genéticos e ambientais. Filhos de pai ou mãe míopes têm risco maior de desenvolver o problema.

Estudantes jovens, em especial as crianças em fase pré-escolar, são os mais vulneráveis aos fatores ambientais relacionados à condição.

No geral, a miopia começa na infância e tende a progredir na adolescência até o início da vida adulta.

O principal sintoma da miopia é a dificuldade para enxergar à distância. Preste atenção se seu filho:

Continua após a publicidade

Apresenta dificuldade para ler à distância na escola (não consegue enxergar o que está escrito na lousa, por exemplo);

Senta-se muito perto da televisão ou do computador ou ainda segura o celular muito próximo ao rosto;

Sofre de dor de cabeça;

Esfrega ou "aperta" os olhos com frequência.

As Sociedades Brasileiras de Pediatria e de Oftalmologia Pediátrica recomendam que os pais levem seus filhos para a primeira consulta oftalmológica entre os seis meses e um ano de idade.

Leste asiático

As maiores taxas de miopia ocorrem na Ásia, ainda de acordo com os pesquisadores. No Japão, 85% das crianças são míopes; na Coreia do Sul, 73%, e na China, 40%.

Continua após a publicidade

O início precoce da vida escolar, muito comum na Ásia, e a alta carga horária nas escolas, com pouco tempo livre, são fatores apontados como causadores.

Isso porque passar muito tempo concentrado em livros e telas no início da infância tensiona os músculos oculares e pode levar à miopia, de acordo com os pesquisadores.

Na África, onde as crianças costumam começar a frequentar as escolas entre seis e oito anos, o número de crianças com miopia é sete vezes mais baixo do que no Leste Asiático. Em Uganda, por exemplo, apenas 1% das crianças tem a condição.

Pandemia de covid-19

Durante a pandemia de covid-19, quando milhões de pessoas precisaram ficar restritas em casa por longos períodos, a visão das crianças e adolescentes foi afetada.

Um artigo publicado no periódico Jama Ophalmology afirma que 2020 foi o "ano da miopia de quarentena". O problema não tem nada a ver com o vírus da covid-19, ao menos não diretamente, mas com o confinamento rígido imposto, em especial nos países asiáticos.

Continua após a publicidade

O artigo cita um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos e chineses que revelou um aumento de 1,4 a três vezes na prevalência de miopia entre crianças de seis a oito anos em 2020, comparado com cinco anos anteriores.

Prevenção

As crianças devem passar ao menos duas horas por dia em ambientes abertos, com luz solar, para reduzir o risco de desenvolver miopia.

Ainda não está claro se é a presença da luz natural do sol, o exercício ao ar livre ou o fato de os olhos das crianças estarem focados em objetos mais distantes que fazem a diferença, mas não há dúvidas de que estar ao ar livre ajuda a prevenir o problema.

"Acredita-se que a exposição à luz solar, não ao sol direto, mas à luz do dia estimule a produção da dopamina, um neurotransmissor ligado aos mecanismo de recompensa e prazer e que promove o crescimento saudável do olho", explicou ao Portal Drauzio o pediatra e sanitarista Daniel Becker.

Além da falta de luz solar, outro fator que parece estar relacionado ao aumento de casos de miopia é a falta de estímulo da visão à distância. "A falta de alternância da fixação do foco do olho em pequenas e longas distâncias parece ser prejudicial", comentou Becker.

Continua após a publicidade

Pesquisadores afirmam que intervenções que visem aumentar a permanência de crianças em ambientes com luz natural podem reduzir a incidência de miopia em aproximadamente 50% e diminuir em 32,9% a progressão do distúrbio em crianças já míopes. "A luz natural ajuda a controlar a progressão da miopia", explicou ao Portal Drauzio Andréa Zin, oftalmologista pediátrica do Instituto Brasileiro de Oftalmologia, no Rio de Janeiro.

Um estudo em duas escolas de Taiwan mostrou a importância da luz na redução de casos de miopia. Alunos de uma das escola foram encorajados a passar 80 minutos diários ao ar livre, enquanto os estudantes da outra escola da região não faziam atividades ao ar livre. Após um ano, 8% das crianças da primeira escola foram diagnosticadas com miopia, ante 18% da segunda escola.

E as telas?

Embora ainda não seja possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre o uso excessivo de telas e o aumento de casos de miopia, há estudos mostrando uma associação entre ambos. Uma meta-análise publicada no The Lancet sugere que a exposição a aparelhos eletrônicos pode estar associada à miopia.

De toda forma, especialistas e organizações médicas do mundo todo têm alertado para os danos que o uso excessivo desses aparelhos pode causar à saúde e à socialização das crianças, em especial as pequenas.

Limitar seu uso, portanto, é recomendado pela OMS e outras entidades médicas brasileiras e internacionais.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes