Por que mulheres são mais sedentárias que homens?
Que os exercícios são benéficos à saúde ninguém contesta. Há ampla literatura científica demonstrando que a prática de atividade física reduz o risco de condições como diabetes, AVC, infarto, câncer, hipertensão, obesidade, osteoporose, entre muitas outras.
Além disso, exercitar-se aumenta a massa muscular e melhora a condição cardiorrespiratória, o equilíbrio e a mobilidade, ajudando na execução de tarefas do dia a dia, em especial nas idades mais avançadas.
Não à toa, o sedentarismo vem sendo considerado o "novo cigarro", devido aos inúmeros malefícios que a falta de movimentação traz para a saúde física e mental.
Especialistas em saúde do mundo todo recomendam a prática diária de atividade física, que não inclui apenas exercícios aeróbicos como corrida e andar de bicicleta, mas qualquer tarefa que nos tire do sofá ou da cadeira.
No entanto, poucos atentam para uma realidade relacionada à desigualdade de gênero: homens se exercitam e praticam mais atividade física que mulheres.
A jornalista estadunidense Danielle Friedman, que estuda a relação das mulheres com a prática de atividades físicas ao longo da história, escreveu um artigo para o New York Times nesta segunda-feira (11), em que aborda essa desigualdade.
Friedman citou um estudo feito nos Estados Unidos com 400 mil pessoas que revelou que apenas 33% das mulheres praticavam a quantidade de exercícios físicos aeróbicos semanais recomendada, ante 43% dos homens.
Outro estudo, também citado pela jornalista e realizado em 147 países, mostrou que o problema não ocorre apenas no país norte-americano: mulheres são mais sedentárias em todos os países pesquisados, com exceção de oito.
Motivos
A diferença entre homens e mulheres começa na infância e piora com a idade. Em geral, as brincadeiras executadas pelos meninos envolvem mais atividade física, e o oposto pode ser notado entre as meninas.
A ideia de que meninos são mais agitados e ativos que meninas nos é ensinada desde sempre. Por outro lado, é comum que meninas recebam estímulos para realizar brincadeiras mais calmas, como brincar de boneca e de casinha. Já os meninos ganham brinquedos como bola, espadas e skate ainda bem pequenos, e com mais frequência aprendem a gostar de esportes coletivos.
Nas escolas, os meninos são mais estimulados a praticar exercícios, e no Brasil não é difícil encontrar um grupo de crianças e adolescentes do sexo masculino jogando futebol em qualquer quadra ou campo aberto disponíveis, pois o esporte faz parte da socialização dos jovens.
Em 2019, a revista científica Lancet publicou um estudo conduzido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) com 1,6 milhão de jovens de 11 a 17 anos, em 146 países.
Os dados revelaram que, quando separados por gênero, o número de meninas sedentárias supera o de meninos inativos em todos os países pesquisados, com exceção de quatro regiões (Zâmbia, Samoa, Tonga e Afeganistão).
Essa diferença não parece, segundo o estudo, sofrer influência de fatores econômicos, e tanto países menos desenvolvidos, como Armênia, Senegal e Albânia, quanto países mais economicamente desenvolvidos, como França, Austrália e Finlândia, apresentam diferenças de gênero quando o assunto é exercício físico.
No Brasil, de acordo com os dados da OMS, 78% dos meninos não fazem atividade física suficiente, enquanto 89,4% das meninas são menos ativas do que deveriam.
Na vida adulta, com o acúmulo de funções em casa e no trabalho, a prática regular de atividade física fica longe da vida das mulheres.
Friedman cita o fato de que as mães em geral privilegiam a saúde dos filhos, e todo tempo livre é dedicado às necessidades da família.
Esse é um erro comum às mulheres, que esquecem que negligenciar a própria saúde é, em última instância, deixar não apenas de se priorizar, mas de manter a saúde para viver melhor: para si, para a família e para o que mais lhes aprouver.
Para ajudar a reduzir o sedentarismo, crianças e adolescentes devem ser incentivados a praticar atividades que estimulem a socialização e os tire das telas dos aparelhos eletrônicos.
Já adultos precisam reservar tempo para as atividades físicas, não importam sua idade, gênero ou condição física. Qualquer atividade física traz benefícios à saúde.
Antes considerada privilégio de poucos, a prática de atividades físicas deve ser vista como cuidado com a saúde. Assim, não apenas indivíduos devem se conscientizar da sua necessidade, mas responsáveis por políticas públicas devem ajudar a criar condições que facilitem sua prática.
Os sistemas de saúde de cidades cujos espaços são hostis à prática de atividade física pagarão um preço alto. Aliás, já estão pagando.
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