Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
As estratégias mais eficientes para fortalecer a sua saúde são de graça
O meu pai teve covid-19 no fim de fevereiro, aos 82 anos. Além de toda a preocupação que a doença gera, o mais estressante foi lidar com a guerra de narrativas e com informações conflitantes acerca do tratamento ideal, vindas de amigos próximos a ele, que criaram um terrorismo emocional e propuseram formas de automedicação controversas e arriscadas. Nesse momento, o mais importante é manter a calma e seguir as orientações dos médicos de referência.
Como aprendi, a covid-19 pode avançar sobre qualquer fragilidade orgânica, demandando um olhar diário e atento do médico que acompanha o processo. Por exemplo, o uso de corticoide pode se fazer necessário. Porém, se essa medicação entrar antes da hora, pode favorecer o agravamento do quadro.
Temos visto, cada vez mais, atletas ou pessoas supostamente saudáveis tendo enorme dificuldades em lidar com esse ataque viral, ou mesmo chegando a óbito. Por que isso acontece? Muitas questões os cientistas ainda buscam responder e não sabemos ao certo.
Mas uma coisa é fato: nossa saúde depende de diversos fatores que agem conjuntamente para garantir o bom funcionamento e proteger o organismo. Um cenário em que alguns fatores negativos estão potencializados no corpo vai gerar uma vantagem para que qualquer vírus ou patógeno oportunista se prolifere velozmente. E, no caso do coronavírus, estamos falando de um vírus traiçoeiro, extremamente perigoso, que pode tirar proveito de inúmeras deficiências que o organismo de alguém apresenta.
No caso do meu pai, um check-up completo, feito um mês antes de ele ter covid-19, já apontava alguns dos seus pontos fracos: o sódio estava perigosamente baixo, assim como a vitamina D.
O sal e o sol são dois elementos essenciais: a falta de exposição ao sol e uma retirada radical do sal em sua alimentação tinham gerado débitos perigosos em seu organismo. Embora ele tenha uma "saúde de ferro", sem comorbidades, nunca tendo ficado internado antes, essa fragilidade, somada a uma perda gradual da qualidade do sono e um estresse pontual no trabalho certamente enfraqueceram o seu organismo, que não teve condições de suportar todos os problemas trazidos pela covid. A doença o levou a passar 15 dias no hospital, em um quadro delicado, que inspirava preocupação, embora ele não tenha ido para a UTI.
Quais são os principais fatores que fortalecem o sistema imunológico?
Se pudéssemos fazer uma lista com os principais fatores que fortalecem a nossa resistência imunológica, iriamos verificar que os primeiros itens podem ser adquiridos de graça.
São eles: sono de qualidade, atividade física moderada e exposição regular à luz solar.
Por incrível que pareça, essa é a explicação por trás do fato de o mercado de consumo não explorar muito a comercialização desses pilares essenciais da saúde. Afinal, se você souber que cuidar do sono, dar uma simples caminhada regularmente e tomar sol pode ser infinitamente mais eficaz que a maioria dos produtos que são comercializados, isso poderia impactar negativamente na venda de tais produtos.
Essa é a dura realidade, é mais fácil e lucrativo empacotar e vender em escala produtos menos eficientes e determinantes em nossa saúde, do que coisas realmente essenciais, que poderiam ser adquiridas gratuitamente.
Um aluno já tinha me "cantado essa bola", ele é fazendeiro e mora em uma cidade do interior, de médio porte. Desde o início da pandemia, notou que o pessoal da roça não precisou tanto do hospital para tratar da covid-19, ao contrário das pessoas que moravam na cidade.
Quando vamos observar o estilo de vida e os hábitos do povo que mora na roça, constatamos que os pilares essenciais da saúde ainda estão bem preservados. Bingo!
Não por coincidência, o sono, a atividade física e o sol, caso sejam consumidos em excesso, causam um efeito contrário, levando a uma queda do sistema imune.
O meu conselho é: em época de pandemia, torna-se ainda mais importante cuidar, com muito carinho e moderação, da sua saúde corporal, administrando, com todo cuidado e atenção, os fatores essenciais que impactam seu sistema imunológico. Além das comorbidades, isso poderá ser determinante na progressão e gravidade do adoecimento.
Por último, fique atento ao estresse físico, mental ou emocional, o quarto elemento a impactar esse processo.
Resumo: somos como uma pilha, se não carregar a bateria a gente não funciona. Basicamente, a nossa pilha precisa de poucas coisas para funcionar bem:
- Bons nutrientes (alimentação saudável);
- Colocar o corpo na tomada para ser recarregado à noite (dormir);
- Criar movimento para alimentar o nosso dínamo interno (atividade física moderada);
- Tomar sol;
- Beber água;
- Não queimar muito o circuito interno com um estresse mental ou emocional excessivo.
Confiamos em tudo, menos no maior responsável pela manutenção e o resgate da nossa saúde!
A gente confia na medicina tradicional, nas diversas formas de medicina alternativa.
Alguns confiam na tecnologia, nas descobertas da ciência, nas pesquisas, nos suplementos milagrosos, nas centenas de técnicas e métodos ligados à nutrição e ao treinamento do corpo. Outros confiam nos curandeiros modernos e suas técnicas misteriosas, mas, no fim, tudo isso são apenas meios e ferramentas para ajudar o seu próprio organismo a reagir e se autorregular.
Confiamos em tudo, menos no poder intrínseco da natureza, na capacidade inata do nosso próprio organismo de curar a si mesmo e se reequilibrar.
Ou seja, todo o poder já está em nosso próprio corpo.
No entanto, a mente se acostumou a depender de intermediários para acessar esse poder.
Sem que pudéssemos perceber, aos poucos, a indústria de consumo ligada à saúde tem colaborado em anular e destruir a confiança e independência para cuidar do nosso próprio equilíbrio orgânico, nos lançando em um turbilhão de técnicas milagrosas, comerciais, e oportunistas, associadas a teorias radicais que estimulam a dependência e a fidelização do cliente.
Antigamente, para combater a falta de ar advinda de uma bronquite leve, por exemplo, podíamos simplesmente fazer uma inalação caseira, colocando duas gotas de óleo essencial de eucalipto em uma panela ou fazer um escalda pé. Agora, a maioria de nós prefere ir à farmácia e comprar diversas opções de remédios, muito mais agressivos à saúde, para esse mesmo fim.
Essa dependência do mercado de consumo surge em diferentes aspectos. Por exemplo, na semana passada uma aluna minha de 41 anos me contou algo muito interessante. Há mais de uma década lutando contra o excesso de peso, ela já havia tentado de tudo, porém, sempre de uma forma radical, com pressa, seguindo as principais estratégias lançadas pelo mercado de consumo.
Como era de se esperar, no longo prazo, esses procedimentos se mostraram um "tiro pela culatra", levando-a a ganhar ainda mais peso, e, depois de várias derrotas seguidas, destruíram por completo a sua autoconfiança. É como ela me disse:
"Nuno, pela primeira vez, sinto que estou no controle do meu processo de emagrecimento, sem pressa, sem estratégias radicais.
Tudo o que você me sugeriu é extremamente gradativo, um passo de cada vez —e, um passo fácil, sustentável, como você mesmo diz. Sinto que agora as minhas conquistas são verdadeiramente minhas, não fruto de algo milagroso, algo que vem de fora e vai me salvar (risos)."
É como diz meu pai, o organismo é sábio, busque a saúde e o equilíbrio e, como consequência, seu corpo retornará ao seu peso ideal, naturalmente, sem pressa. No entanto, inverter o processo, com o foco em acelerar os resultados, pode ser extremamente danoso à sua saúde física e mental.
Resumindo: encontrar a chave para o processo de cura depende prioritariamente de você, ou seja, não entregue esse poder a pessoas que queiram roubar-lhe esse protagonismo, vendendo soluções instantâneas e milagrosas.
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