Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O médico do futuro não prescreve medicamentos nem suplementos
Pedro, 55 anos, me procurou há algumas semanas, por indicação de um amigo de trabalho. Em nosso primeiro encontro, passou um filme em minha cabeça. Quantas vezes eu já tinha escutado aquela mesma história, um roteiro que se repete incansavelmente com pequenas variações?
Ele me contou que vem subindo de cargo, desde os 25 anos, e que agora enfrenta uma pressão sobre-humana para entregar resultados.
Nessa correria insana dos últimos 30 anos, o seu estilo de vida foi ficando pelo caminho, o peso corporal foi aumentando e as consultas médicas foram se acumulando. Somando apenas as consultas feitas nos últimos dois anos, ele havia passado pelo cardiologista, psiquiatra, endocrinologista, gastroenterologista, reumatologista, entre mais meia dúzia de especialistas.
Apesar de gastar uma pequena fortuna com médicos nos últimos 20 anos, sua saúde só piora a cada dia que passa. A cada visita que ele faz ao médico, sai de lá com uma nova receita. Desesperado com o acúmulo de medicamentos e de comorbidades, levou um susto quando se viu obrigado a trocar novamente a sua caixinha de medicamentos diários por uma maior do que havia adquirido antes.
Agora, os problemas se acumularam de forma assustadora. Além do colesterol e da pressão alta, ele tinha fibromialgia, gordura acumulada no fígado, gota em estado crítico, enorme dificuldade para dormir, depressão, gastrite, refluxo e outros "probleminhas" mais.
Cadê o profissional da prevenção?
Como ele estava com sérios problemas para dormir e sentia uma fadiga crônica que não se resolvia, seguiu o conselho de um amigo e procurou, em São Paulo, um famoso doutor em medicina integrativa formado nos EUA. Saiu de lá com uma dúzia de prescrições de suplementos que iriam finalmente resolver seus problemas.
A sua esposa levou um susto quando viu que, agora, ao tomar seus medicamentos e suplementos noturnos, ele precisava de dois copos d'água para dar conta da enorme quantidade de pílulas à sua frente.
Sem problema! Pelo menos ele estaria se hidratando melhor à noite. Como ele havia aprendido nos livros de autoajuda, devemos sempre enxergar o lado positivo das coisas. Só de suplementos, ele estava gastando mais de R$ 6 mil ao mês em um laboratório indicado pelo próprio médico.
Além do mais, como se preocupava com a saúde, havia se tornado um frequentador habitual dos "melhores" e mais famosos profissionais da nutrição, seguindo inúmeros dietas restritivas nos últimos 20 anos. Porém, de forma misteriosa, seu peso só havia aumentado durante esse tempo, por mais que ele obtivesse bons resultados no curto prazo. Nos últimos 10 anos, ele tinha como hábito perder de 10 kg a 15 kg durante 6 meses e ganhar tudo novamente nos meses seguintes, conquistando mais alguns quilos nessa brincadeira.
Quando chegou a 120 kg, percebeu que estava na hora de se movimentar e, finalmente, começar a ter um estilo de vida "saudável", indo atrás do corpo dos seus sonhos, conforme lhe prometiam.
Foi então que ele iniciou o seu calvário, matriculando-se em academias e tentando se adaptar ao esquema cruel das modas do treinamento. Como a rotina de exercícios era muito sofrida, não obtinha o resultado esperado ou ele acabava se machucando ou desistindo, resolveu dar a sua última cartada. No ano passado, inscreveu-se em um método alternativo à musculação que entrega resultados rápidos.
Seria melhor nem ter tentado. Depois de apenas dois meses, o resultado dessa aventura foi uma tendinite no ombro e uma lesão no joelho. Como era de se esperar, atividades extremas podem não ser a melhor opção para alunos que estão com 140 kg, como era o seu caso agora.
Como você pode notar após esse breve relato, atualmente, seguir os conselhos do mercado de consumo pode levar a uma roubada de proporções catastróficas para sua saúde física e mental
O que dizer de uma sociedade que leva as pessoas a um desgaste desumano e propaga um estilo de vida que provoca uma falência exponencial dos seus corpos?
Como diria Krishnamurti, o mais brilhante e influente guia espiritual contemporâneo, não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente!
Cuidar da saúde é diferente de cuidar da doença
Uma nova vertente da medicina está nascendo. Infelizmente, alguns profissionais da saúde ainda não se dedicam à divina missão de atuar de forma preventiva com efetividade e pragmatismo. Não é culpa deles, a medicina da nova era ainda está engatinhando.
O conceito por trás dessa mudança é óbvio, se o estilo de vida é o fator mais determinante na cura e prevenção das doenças modernas, é aí que devemos atuar.
Há pouco tempo, comecei a perceber que o meu trabalho consistia em preencher um enorme buraco deixado pela medicina tradicional. Apenas em 2004, quando iniciei a pesquisa para explicar e entender de forma profunda a minha própria maneira de trabalhar, o que acabou se tornando um livro, me dei conta, por meio de inúmeros feedbacks dos meus alunos, que eu fazia algo inusitado.
O meu pai, Nuno Cobra, mestre e criador do nosso método de autocuidado consciente, sempre me ensinou que em nossa sociedade não existe realmente algo como um ministério da saúde ou um plano de saúde que seja efetivo. Como costumava dizer em suas palestras, em tom de brincadeira, o que existiria na verdade é um "ministério da doença", uma vez que o principal foco da medicina tradicional é atuar nos sintomas e não na causa.
Para citar um exemplo, em 2021, o Brasil gastou 43 bilhões de dólares apenas com o diabetes e as suas complicações, ficando em terceiro lugar no ranking mundial. O "american way of live" lidera o ranking com a quantia obscena de 340 bilhões de dólares gastos anualmente. Tente imaginar quanto poderíamos economizar na saúde pública caso o foco fosse de fato a prevenção.
Em nossa visão, o único plano de saúde que vai lhe trazer imunidade e vitalidade, lhe protegendo realmente do adoecimento de forma eficaz, consiste em mudanças estruturais de hábitos em relação aos pilares fundamentais da nossa saúde física e mental: sono, atividade física e alimentação, entre outros.
Em homenagem ao meu pai, postei no YouTube um depoimento de um aluno que trabalhou com ele há 30 anos. Depois de uma cirurgia e de índices extremamente preocupantes de colesterol e glicemia, ele percebeu que o seu estilo de vida estava o matando. No entanto, em vez de se acomodar e se refugiar nos medicamentos, controlando os sintomas, como é mais comum, ele deu uma guinada radical em seu modo de vida e cinco meses depois já estava fora de risco. Veja o vídeo:
Desde 1984, uma parte dos meus alunos é formada por empresários e executivos, o que chamo de "atletas corporativos", pois eles necessitam atuar em alta performance.
Com o tempo, observei que a missão do nosso método era algo palpável e efetivo. Realmente, ao equilibrar e mudar o estilo de vida, muitos alunos conseguiam reverter graves quadros de adoecimento corporal e, com o tempo, tirar todos os remédios que consumiam, retomando a saúde e higidez física e mental.
Um dia, um grande empresário me disse:
- Nuno, eu já passei por todos os médicos que você possa imaginar. Por que ninguém nunca me ensinou o que você me ensina em relação ao sono, a formas saudáveis de atividade física, como lidar com a fome emocional e tudo o mais? São coisas extremamente simples, mas que fazem toda a diferença.
A única resposta que me veio à mente é que tais profissionais não estariam comprometidos com a prevenção, e sim com estratégias fundamentadas na remediação ou solução rápida para o problema. Aliás, essa é uma boa maneira de identificar um profissional consciente ou não, se ele lhe propuser um atalho ou solução rápida, saiba que você está adentrando no universo do "fast-consumo", como chamo.
Como reconhecer um genuíno profissional da saúde?
Curiosamente, os profissionais da saúde não estão onde os clientes acham que eles deveriam estar, por isso muitos encontram enorme dificuldade em encontrá-los. Essa procura pode ser recheada de armadilhas.
Veja bem, não busco tirar o mérito da medicina atual, algo que nos trouxe enormes avanços no tratamento das doenças, mas cuidar da saúde requer uma abordagem terapêutica adicional e diversa
De forma marginal, os genuínos profissionais da saúde foram relegados a um sistema alternativo que vai na contracorrente das principais modas e tendências do mercado.
Um profissional da saúde deve estar comprometido com a prevenção, de forma terapêutica, gradativa e cuidadosa, atuando sobre as verdadeiras causas que estão por trás dos nossos desequilíbrios orgânicos.
Um genuíno profissional da saúde deve cumprir o papel de um dedicado companheiro de viagem, propondo e coordenando mudanças suaves, sustentáveis e gradativas em nosso estilo de vida.
Dessa forma, diferentemente do médico que "apaga incêndio" e só encontra o paciente raramente, quando o problema já amadureceu e evoluiu, o caminho de uma terapêutica realmente efetiva requer um acompanhamento regular, algo como a atuação de um consultor em qualidade de vida e um especialista em mudanças de hábitos.
Na nutrição, encontramos esse profissional na nova linha terapêutica da alimentação consciente, evitando as dietas restritivas, atuando nos hábitos e no comportamento do aluno.
No treinamento físico, infelizmente, o foco na saúde é uma raridade, uma vez que quase todo o mercado está focado na estética e na performance. Sendo assim, os treinadores conscientes serão representados por profissionais dedicados ao movimento de resistência da verdadeira educação física, alguns profissionais da fisioterapia, do ioga, do pilates e outros métodos alternativos mais equilibrados e funcionais realmente comprometidos com a saúde do aluno.
Graças a Deus, o médico tradicional, alguém que mal conversa com o paciente e apenas prescreve a receita de algum medicamento, e diz boa tarde, já está em vias de extinção. Afinal, evoluir não é mais uma opção, agora é uma questão urgente que irá definir a sobrevivência da nossa espécie aqui no planeta azul.
A nova medicina integral já é uma realidade! Para saber mais, conheça o Movimento Treinamento Consciente:
*Obs: em minha última coluna, eu havia prometido contar em detalhes uma história real que me aconteceu. Como um insight urgente se interpôs no meio do caminho, a história ficará para uma próxima oportunidade.
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