Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Europa prevê epidemia de câncer na próxima década. Que lições podemos ter?

iStock
Imagem: iStock

Colaboração para VivaBem

19/12/2022 04h00

No mês de novembro, a Comissão de Oncologia da revista The Lancet, um dos periódicos científicos mais renomados do mundo, publicou um relatório com dados europeus, projetando que o Velho Continente pode enfrentar uma epidemia de câncer na próxima década.

A justificativa é que a doença já era uma das principais causas de morte prematura mesmo antes da pandemia de covid-19. Com as restrições e dificuldades impostas pelo coronavírus, a previsão é de que o diagnóstico e o tratamento representarão cerca de 10 anos de atraso na região.

"O câncer na Europa está em uma encruzilhada", definem os autores do texto.

Uma das maneiras apontadas para tentar reduzir essa defasagem nos atendimentos seria o investimento em pesquisas científicas.

Segundo o texto, "a pesquisa do câncer é um pilar crucial para os países oferecerem cuidados mais acessíveis, de maior qualidade e mais equitativos". Neste ponto, pede-se um foco maior na Europa Central e Oriental. Os pesquisadores admitem uma "crescente lacuna na atividade de pesquisa do câncer, capacidade e resultados, em comparação com o resto da Europa. Cidadãos e pacientes, não importa onde estejam, devem se beneficiar dos avanços na pesquisa do câncer".

Faço aqui minha primeira observação, reforçando o apelo dos investigadores europeus não só para a ampliação da pesquisa científica em oncologia para todos os habitantes da Europa, mas para todo o mundo, principalmente para as áreas menos desenvolvidas.

Estes estudos de ponta são inequivocadamente uma das soluções para abrandarmos a inequidade no tratamento do câncer, especialmente em países como o Brasil. Nós, por exemplo, representamos o sétimo mercado farmacêutico no mundo. Porém, no ranking mundial de pesquisa clínica, ocupamos apenas a 24ª posição. Precisamos ter mais previsibilidade de análise, menos burocracia e mais investimentos.

Outra questão, também, é democratizar o acesso a essas pesquisas, com mais centros distribuídos pelo país, o que vem sendo feito por programas como o Projeto Amor à Pesquisa Contra o Câncer no Brasil, desenvolvido pelo Instituto Vencer o Câncer, que está consolidando o trabalho de núcleos de investigação em hospitais públicos em filantrópicos em Manaus, Belém, Campo Grande, São Luís, Feira de Santana e João Pessoa.

Desigualdades socioeconômicas no câncer

Outro artigo recente, publicado por um grupo liderado por pesquisadores da International Agency for Research on Cancer, órgão da Organização Mundial da Saúde, defende a imediata redução nas desigualdades socioeconômicas na oncologia.

Mais uma vez, foram verificados dados europeus de mortalidade específica por câncer. As informações analisam posição socioeconômica, por nível educacional e sexo, de adultos de 40 a 79 anos, de 18 países, no período de 1990 a 2015.

Os achados mostram que em toda a Europa "indivíduos com baixa escolaridade têm taxas de mortalidade mais altas para quase todos os tipos de câncer em relação a seus colegas com alta escolaridade, particularmente para cânceres relacionados ao tabaco".

O câncer de pulmão foi o maior contribuinte para as desigualdades na mortalidade total por câncer. Segundo o artigo, "32% das mortes por câncer em homens e 16% em mulheres foram associadas a desigualdades educacionais".

Os pesquisadores ressaltaram que o tamanho das desigualdades varia muito de acordo com o país e ao longo do tempo, sendo geralmente maiores nas regiões do Báltico e da Europa Central/Oriental. E uma ressalva importante foi feita: foram encontradas grandes e crescentes desigualdades entre as mulheres no Norte da Europa.

Como conclusão, afirmam que os resultados "exigem uma medição sistemática, monitoramento e ação sobre as notáveis desigualdades socioeconômicas no câncer existentes na Europa".

E, afinal, o que podemos tirar de exemplo para o Brasil? Nosso país também reflete essas diferenças regionais, sociais, de escolaridade, de raça e de gênero na prevenção, na descoberta e no tratamento do câncer.

Recentemente, o Instituto Nacional de Câncer divulgou as estimativas de casos para a doença no Brasil. Teremos mais de dois milhões de novos diagnósticos até 2025.

Como vamos tratar esses brasileiros com câncer? Estamos nos preparando para evitar que estes números cresçam ainda mais? Como vamos conseguir diagnosticar mais precocemente, dando mais chances ao paciente e reduzindo os custos com os tratamentos?

Temos muitos desafios pela frente, que só podem ser superados com investimento na ciência e uma ação colaborativa efetiva entre governos e a sociedade.