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OPINIÃO

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Avanços da tecnologia contra o câncer precisam ser oferecidos a mais gente

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Imagem: iStock

Colaboração para VivaBem

19/06/2023 04h00

O congresso americano de oncologia é conhecido por ser o maior evento mundial da área em termos de trabalhos científicos de alta qualidade que modificam a prática clínica.

Neste ano, entre os dias 2 e 6 de junho, em Chicago (EUA), foram apresentados vários estudos com estratégias inovadoras, que têm como objetivo principal melhorar cada vez mais as chances de cura e promover uma vida mais longa e com mais qualidade. O tema escolhido em 2023 foi: "Parceria com os pacientes: a pedra angular do tratamento e pesquisa do câncer".

Umas das estratégias mais estudadas são as medicações orais que bloqueiam especificamente mecanismos que os tumores exercem para crescer, invadir os órgãos ao redor e causar as metástases.

Neste sentido, um medicamento chamado osermetinibe, que age em aproximadamente 20% dos pacientes com um tipo específico de câncer de pulmão que apresenta mutação de EGFR, reduziu o risco de morte em 50%, quando dado a pacientes operados a fim de evitar uma recidiva.

Do mesmo modo, uma outra medicação chamada vorasidenibe reduziu a chance de progressão da doença ou morte em 61%, em estudo com 371 pacientes com tumor cerebral chamado glioma de baixo grau, e que apresenta uma mutação IDH1/2 (ocorre em 70% dos pacientes com este tumor).

Uma outra estratégia muito estudada, e que já apresenta resultados concretos para a prática do dia a dia, são os anticorpos conjugados a droga, que vêm revolucionando o tratamento contra o câncer e promovendo resultados muito promissores em pacientes com tumores muito avançados e refratários a diversos tratamentos.

Essas novas classes de drogas estão sendo usadas isoladamente ou em combinação com outros agentes como a própria imunoterapia e drogas alvo-dirigidas.

Os anticorpos conjugados a droga têm um mecanismo de ação único: são capazes de atingir certas células tumorais pela ligação a um receptor super expresso no tumor e não nos tecidos normais. E após esta ligação ser feita, libera um agente químico letal dentro da célula tumoral somente.

Além de promover grande eficácia através de elevadas taxas de resposta, seu perfil de efeitos colaterais é menor, pois o quimioterápico não atinge células saudáveis em grande concentração.

Neste congresso, um dos anticorpos conjugados chamado sacituzumabe govitecan, que liga-se ao receptor do tumor chamado Trop 2 e libera um quimioterápico, dentro da celular maligna, muito tóxico chamado SN-38, foi comparado a tratamentos quimioterápicos convencionais em 543 mulheres com câncer de mama avançado e já refratário a várias terapias. A estratégia mostrou redução do risco de morte em 21% neste estudo.

Uma outra medicação desta classe, o mirvetuximabe, que se liga aos receptores de folato e libera internamente um agente quimioterápico que bloqueia a proliferação do tumor, demonstrou redução do risco de morte de 33%, comparado a quimioterapia clássica, em estudo incluindo 453 mulheres com câncer de ovário refratário.

Além destes estudos, os anticorpos conjugados a droga têm sido usados em vários outros tumores como câncer de bexiga, de pulmão, de estômago, e útero.

Na área da terapia celular, também grandes avanços vêm sendo atingidos, com a tecnologia do CAR-T cell, estratégia aprovada em tipos específicos de leucemias, mielomas e linfomas pelas respostas fantásticas, e que agora mostram resultados promissores em vários tumores sólidos.

Como exemplo, um estudo de CAR-T cell em 25 mulheres com câncer de ovário refratários a uma média de oito tratamentos anteriores mostrou um controle de doença temporário de 85%.

Por outro lado, a tecnologia passa somente a ser mais completa na sua missão se uma significativa parcela da população é beneficiada pelos seus melhores resultados e esse importantíssimo aspecto também foi abordado neste congresso como um ponto de elevado destaque e preocupação.

Como exemplo, um estudo incluindo 6.380 pacientes adolescentes ou adultos jovens com diagnóstico de câncer reportou que negros apresentavam mortalidade 35% maior que os pacientes brancos.

Do mesmo modo, outro estudo americano que incluiu 8.318 mulheres com diagnóstico de câncer de mama avançado demonstrou que pacientes pretas tinham uma chance 55% menor de receber uma droga, chamada inibidor da ciclina, importantíssima no combate a doença.

Neste Encontro Anual da Asco apresentamos um estudo que compilou informações do banco de dados de 19 hospitais do Rio Grande do Sul. A análise de mais de 130 mil pacientes demonstrou que aqueles que se tratam no SUS, na comparação aos que tinham convênio médico, apresentam 40% e 43% mais chances de morrer de câncer de mama e colorretal, respectivamente.

O estudo, desenvolvido por pesquisadores brasileiros de diversos centros, revelou números ainda piores para os tumores de estômago e cabeça e pescoço, em que a mortalidade é 60% maior.

Portanto, como debate mais relevante do evento, fica o desafio de desenvolver novos tratamentos que possam mudar a história do câncer no mundo e Brasil, superando diferenças socioeconômicas e raciais.

Precisamos ampliar meios de acesso a prevenção e diagnóstico para que toda a população tenha acesso ao melhor tratamento oncológico possível, que possa trazer maior chance de cura e melhor qualidade de vida.