Opinião

Câncer de pulmão e mutações genéticas: novas drogas podem mudar tratamento

O câncer de pulmão é, certamente, um dos tumores mais letais. Em vários países é a principal causa de mortalidade por câncer.

Hoje, com o avanço da tecnologia, existe um número considerável de opções terapêuticas, que foram desenvolvidas a partir da caracterização de subtipos da doença que, na verdade, possuem alguns aspectos diferentes entre si.

A classificação dos tipos moleculares das neoplasias pulmonares promoveu uma revolução no tratamento. Temos hoje um percentual considerável de diagnósticos que apresentam alterações mutacionais. Para elas, existem medicações específicas.

Na doença localizada, o tratamento para câncer de pulmão envolve cirurgia ou radioterapia, geralmente precedido ou sucedido por terapias sistêmicas para tentar evitar uma recidiva. E, nesse sentido, um estudo importante apresentado no último Congresso Europeu de Oncologia, realizado em outubro, avaliou essas estratégias.

Os pesquisadores analisaram, em 261 pacientes com doença localizada e que não tinham nenhum tipo de mutação específica para alguma droga direcionada para essa alteração, qual era o impacto de utilizar a imunoterapia (que melhora o sistema imunológico em atacar o tumor) combinada à quimioterapia pré-operatória versus apenas quimioterapia antes de operar.

O estudo avaliou a taxa de negativação do tumor na peça cirúrgica —ou seja, se há indícios da doença no órgão operado. Os resultados mostraram que a chance de uma resposta completa na patologia, ou seja, de não encontrar mais a presença do câncer, foi cinco vezes maior no grupo que utilizou a quimioterapia com imunoterapia (com uma droga chamada nivolumabe).

Os achados são extremamente relevantes, já que esta nova estratégia reduziu risco de uma recorrência da ordem de 42%.

Portanto, em pacientes com doença localizada sem evidência de metástase, que não tenham nenhuma alteração mutacional que exija uma droga específica para esse tipo de situação, a químio mais a imunoterapia representa o novo padrão ouro no tratamento.

Tratamento também evolui para pacientes com mutações genéticas

Por outro lado, sabemos que uma das alterações mutacionais importantes no câncer de pulmão é a alteração do gene ALK.

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Em outro estudo apresentado também para a doença localizada, a avaliação de diferentes protocolos ocorreu entre pacientes que passaram por cirurgia e foram divididos em grupos que receberam quimioterapia por quatro ciclos ou uma droga alvo-dirigida, que é um inibidor do ALK, chamado alectinibe.

Nesta pesquisa, que incluiu 257 pacientes, o braço que recebeu o medicamento oral anti-ALK teve uma redução de 76% do risco de a doença voltar. O risco de a doença retornar no cérebro foi reduzida em 78%.

Estes foram, portanto, dados superiores em relação ao tratamento quimioterápico. Além disso, a droga apresentou uma tolerabilidade positiva.

Estes são, então, dois estudos que avaliam o papel de tratamentos além da cirurgia para diminuir a chance de recorrência do câncer de pulmão de modo significativo.

O primeiro estudo em pacientes sem nenhuma alteração mutacional, introduzindo a quimioterapia junto com a imunoterapia pré-operatória; e o segundo, em pacientes operados, para evitar recorrência com droga-alvo específica, na população com uma alteração do gene ALK.

Novidades também para tumores metastáticos

Outra alteração mutacional que pode acontecer no câncer de pulmão é a chamada RET. Essa mutação leva o tumor a crescer, aumentar sua agressividade e o poder de metástase.

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Nesse sentido, um inibidor específico do RET, o selpercatinibe, foi avaliado em um estudo também comparativo com 261 pacientes selecionados. E a comparação desse estudo foi com quimioterapia. Os resultados mostraram a utilização desta terapia-alvo apresentou uma redução do risco de progressão de doença ou morte de 54%.

Além disso, a medicação evitou ou prolongou o tempo até a progressão para doença cerebral, reduzindo este risco em 74%. Trata-se de outra droga promissora para pacientes com a alteração RET, dentro do conceito de medicamentos específicos para cada subtipo de tumor.

São novidades promissoras, que proporcionam novas opções de tratamento, com melhores taxas de sobrevida para pacientes, mesmo em casos mais graves.

*Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é livre-docente.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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