Novos medicamentos revolucionam o tratamento do câncer de mama
Nos últimos anos, novas classes de medicamentos, como imunoterapia e anticorpos conjugados à droga, vêm revolucionando o tratamento do câncer de mama localizado e metastático. Isto representa uma mudança no paradigma, com remédios que conseguem entregar melhores resultados, com menos efeitos colaterais.
No caso do câncer de mama, as novidades ganham mais importância, já que este é o tipo de tumor mais incidente no mundo e, também, entre as mulheres no Brasil (depois do câncer de pele não melanoma).
Existem três tipos principais de tumores de mama:
O primeiro é o luminal, que se alimenta de hormônio e que não tem uma molécula chamada HER2, e corresponde a mais ou menos uns 60% dos casos.
O HER2 positivo representa mais ou menos 20% dos registros.
E o triplo negativo, que não expressa nem o HER2 nem os receptores hormonais, que também correspondem a cerca de 20% dos casos.
Atualmente, na oncologia, há uma classe de medicamento que vem em paralelo com a imunoterapia, que são os anticorpos conjugados à droga. São drogas que se ligam a um receptor que é muito expresso ou só é expresso no tumor e que não se manifesta ou é pouco manifestado no tecido ao redor, nos tecidos normais. Ao se ligar à célula com câncer jogam para dentro dela uma substância incrivelmente tóxica.
Um destes medicamentos, chamado datopotamab deruxtecan, foi avaliado em mulheres com câncer de mama metastático que são receptores hormonais positivos e HER 2 negativo.
Um estudo com 732 mulheres que já haviam falhado uma ou duas linhas de quimioterapia prévia mostrou que esta droga, para este grupo, teve a capacidade de reduzir o risco de progressão da doença ou morte na ordem de 37%. Além disso, esse medicamento teve menor número de efeitos colaterais.
Novidades para o câncer de mama localizado
Outra classe de medicamento promissora para determinados tipos de câncer de mama é o inibidor de ciclina. Para explicar rapidamente, a ciclina é responsável pelo crescimento do tumor, em grande parte por seu poder de gerar metástase.
No estudo Monarch, o inibidor de ciclina foi usado para prevenir uma recorrência em mulheres que foram operadas, mas que tinham um alto risco de recidiva. Os pesquisadores avaliaram 5.500 mulheres que passaram por cirurgia para câncer de mama que era receptor hormonal positivo e HER2 negativo.
As pacientes foram randomizadas entre tratamento com hormonioterapia ou hormonioterapia mais essa droga chamada abemaciclibe, por dois anos.
O que foi visto na atualização desse estudo é que a redução do risco de uma recidiva da doença foi 32% menor em pacientes de alto risco, quando essa medicação foi introduzida no pós-operatório como preventivo da metástase.
Já para o câncer de mama triplo negativo, de alto poder de metástase e alta taxa de proliferação, um estudo muito importante com 1.184 mulheres (com tumores de dois centímetros ou mais, ou com comprometimento linfonodal) analisou o tratamento com quimioterapia ou quimioterapia mais pembrolizumabe, um tipo de imunoterapia que aumenta a potência dos linfócitos no ataque ao tumor.
No seguimento mediano de cinco anos, os resultados mostraram que a introdução da imunoterapia evitou 10% de casos de recidiva a mais, comparado com quimioterapia isolada. Portanto, um ganho extremamente importante.
Superinteressante também é a resposta completa na peça cirúrgica, significativamente maior quando a imunoterapia é introduzida com a químio.
Ainda nessa linha de tratamento, um outro estudo avaliou a introdução da imunoterapia em mulheres com tumor luminal, com doenças localmente avançadas ou pelo tamanho ou pelo envolvimento do linfonodo.
A pesquisa randomizou pacientes entre quimioterapia ou quimioterapia mais imunoterapia com uma droga chamada nivolumabe. A introdução da químio mais imunoterapia foi responsável por um aumento significativo na ausência do tumor na peça cirúrgica, o que foi algo bastante relevante.
Nesse mesmo grupo de pacientes receptores hormonais positivos e HER2 negativo também foi avaliado o próprio pembrolizumabe, do qual falamos um pouco acima. Um grupo de 1.278 mulheres foi dividido em dois grupos, e um deles recebeu a combinação de químio e imunoterapia.
Os resultados mostraram que, com a combinação de terapias, o risco não ter tumor na peça cirúrgica foi de 15% para 24%, demonstrando também um ganho significativo para este grupo de pacientes.
Que novas pesquisas possam trazer mais boas notícias e qualidade de vida para as pacientes com câncer de mama!
*Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é livre-docente.
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