Opinião

Vamos falar sobre obesidade e câncer

O Dia Mundial da Obesidade, lembrado anualmente em 4 de março pela Federação Mundial da Obesidade, propõe um debate mais amplo sobre esta doença crescente no Brasil e no mundo, que merece a atenção de toda a sociedade.

Neste ano, o slogan da campanha é "Let's talk about obesity &?" (Vamos falar sobre obesidade e...). Eu completaria esta frase com a palavra "câncer" por que precisamos atuar no combate à obesidade como um dos pilares da prevenção de diversos tipos de tumores.

Estima-se que pelo menos 13 tipos de câncer estejam associados à obesidade. Listo aqui os tumores de mama, intestino, útero, vesícula biliar, rim, fígado, ovário, próstata, mieloma múltiplo, esôfago, pâncreas, estômago e tireoide.

A inflamação causada pelo excesso de gordura corporal, combinada ao aumento nos níveis de determinados hormônios, fazem crescer a probabilidade de desenvolvimento da doença ao promover o crescimento de células cancerígenas.

Um estudo divulgado no início deste ano no periódico Annals of Oncology, da ESMO (Sociedade Europeia de Oncologia Médica), destacou que o excesso de peso e a obesidade estão contribuindo para o aumento das taxas de mortalidade por câncer de intestino na população da União Europeia e do Reino Unido, especialmente na faixa etária entre os 25 e os 49 anos.

Os pesquisadores apontam que o excesso de peso, a obesidade e comorbidades, como níveis elevados de açúcar no sangue e diabetes, são fatores que contribuem para o aumento das taxas de tumores de cólon e reto entre os adultos jovens.

Precisamos abordar este assunto com seriedade, empatia e ciência. Hoje sabemos que a obesidade é uma doença crônica, que atinge 22% dos homens e cerca de 30% das mulheres adultas no Brasil. Por isso precisa ser diagnosticada e tratada com atenção e conhecimento. Por outro lado, precisamos combater preconceitos e estereótipos e garantir o tratamento para a pessoa obesa.

E essas ações precisam ser urgentes. Dados divulgados na revista Lancet na semana passada, com informações da OMS (Organização Mundial da Saúde), mostram que uma em cada oito pessoas vive com obesidade no planeta. São 159 milhões de crianças e adolescentes e 879 milhões de adultos, somando mais de um bilhão de pessoas afetadas pela obesidade.

Já segundo estatísticas da Federação Mundial da Obesidade, em pouco mais de 10 anos, teremos 1,9 bilhão de obesos no mundo.

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Em 2035, o impacto econômico global do excesso de peso e da obesidade chegará a US$ 4,3 trilhões, quando a obesidade infantil terá registrado um aumento de 100% em 15 anos.

Enfrentamos, então, duas epidemias que caminham lado a lado e podem ser controladas com um esforço conjunto de prevenção, de estímulo à adoção de hábitos mais saudáveis, com informação e acesso ao tratamento.

*Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é livre-docente.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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