Opinião

Órfãos do câncer: por hora, 120 crianças perdem a mãe devido a tumores

Recentemente, a Iarc (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer) fez um importante alerta sobre efeito das mortes de mulheres por câncer. A entidade lançou o documento "Órfãos Maternos Devido ao Câncer: O Impacto Intergeracional das Mortes por Câncer em Mulheres", um resumo de evidências que destaca a necessidade de ações e apoio para as crianças cujas mães faleceram por causa da doença.

Segundo o texto, a cada ano, mais de 1 milhão de crianças perdem suas mães devido aos diversos tipos de tumores. Os pesquisadores da Iarc ressaltam, ainda, que "as mortes por câncer afetam desproporcionalmente mais as mulheres em idades mais jovens do que os homens". Como exemplo, citam o "Estudo de Disparidades nos Resultados do Câncer de Mama na África (ABC-DO)", mostrando também que "o número de órfãos maternos devido ao câncer de mama superou o número de mortes causadas por essa doença".

A partir destes dados regionais, os pesquisadores procuraram avaliar a extensão deste problema em todo o mundo.

As estimativas apontam que, por hora, 120 crianças perdem a mãe devido ao câncer, especialmente tumores de mama e colo de útero. Nos países em desenvolvimento, este risco é maior. Em 2020, quase metade (48%) dos novos órfãos maternos estavam na Ásia, e mais de um terço (35%) estavam na África.

Precisamos, então, analisar os aspectos emocionais, sociais, familiares e financeiros destes números. A Iarc aponta a necessidade de "implementar políticas e programas de apoio que ofereçam assistência emocional, educacional e financeira às famílias afetadas".

Não podemos aceitar, passivamente, as mortes de mulheres por câncer, principalmente por tumores rastreáveis e evitáveis como mama e colo de útero

Essas informações enfatizam a importância das estratégias de prevenção, do diagnóstico no tempo oportuno e do acesso ao tratamento contra o câncer, com um olhar mais dedicado em regiões de vulnerabilidade socioeconômica.

Este é um desafio que precisamos reconhecer e um compromisso que devemos firmar globalmente, de cuidado e apoio aos adultos jovens que cada vez mais recebem o diagnóstico de câncer, além de acolher as crianças que enfrentam a perda precoce de suas mães para a doença.

*Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é livre-docente.

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