Opinião

De veneno de abelha a jejum: sugestões que já recebi para curar dor crônica

Quando publiquei o primeiro texto da minha coluna aqui em VivaBem, em que conto minha experiência com a dor crônica, eu só tinha certeza de uma coisa: receberia muitas sugestões de tratamento para curar a minha doença. Tem sido assim há quatro anos, desde que comecei a sentir dor o tempo inteiro, 24 horas por dia.

Já li e ouvi centenas de pessoas com uma solução fácil, mas ainda assim consigo me surpreender. Dessa vez, me perguntaram se eu já tinha tentado veneno de abelha. Uma pessoa me garantiu que os banhos nas águas termais radioativas de Santo Amaro da Imperatriz, em Santa Catarina, resolveriam tudo.

Também me disseram que eu precisava canalizar a minha energia espiritual, fazer terapia de vidas passadas, jejum prolongado e até mesmo uma corrente de cura na Igreja Universal especificamente em uma terça-feira. Logo eu, ateia por formação.

Passei muito tempo buscando respostas e testando tratamentos que pudessem, como num passe de mágica, eliminar todas as minhas dores. Eu achava que já tinha passado dessa fase, mas, quando você tem uma condição crônica, qualquer coisinha parece acender um ponto de luz. Do nada, eu me pego no Google pesquisando sobre ho'oponopono mágico, neuromodulação e captação psíquica.

Na época em que comecei a ter dor, em 2021, topava absolutamente tudo. A primeira coisa que fiz foi realizar todos os exames possíveis, para descartar qualquer questão física. Depois, comecei a maratona para entender tudo —como se eu estivesse estudando para uma prova e precisasse acertar todas as questões.

Essa maratona rendeu praticamente um dossiê —centenas de documentos que escrevi ao longo desses quatro anos. Entre eles: páginas e páginas desabafando sobre o meu sofrimento; ideias para escrever artigos e um projeto de documentário; uma lista de todas as especialidades médicas que já tinha procurado; uma lista detalhada de todos os meus sintomas e das sensações que passavam pelo meu corpo ("pressão, pontadas, formigamento, choques"); e uma terceira lista com todos os tratamentos que testei.

Lembro especificamente de um que me tomou alguns meses. Um psiquiatra com quem me consultava (ele achava que a solução era apenas fazer exercício) me contou que uma mulher havia curado uma dor no pé de um jeito "rápido e fácil".

O tratamento consistia em sessões semanais de acupuntura que duravam cerca de uma hora, com agulhas enfiadas por todas as partes do meu corpo. Parecia um experimento científico. Ao mesmo tempo, deveria fazer uma mudança radical na minha alimentação: consumir apenas produtos orgânicos, e nada mais. Havia também uma série de restrições: não podia comer grãos nem farinhas, carnes, leite e derivados e muito menos glúten (diga isso para uma viciada em pão).

É preciso lembrar que, nessa parte da história, eu estava apelando para qualquer coisa que pudesse aliviar minhas dores, que já estavam insuportáveis a ponto de me deixar de cama.

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O grand finale desse tratamento seria tomar, todos os dias, uma garrafa de 1 litro e meio de um suco verde especialmente preparado por ela. Não era permitido usar água: todo o líquido deveria vir apenas de verduras, legumes e frutas (segundo ela, eram necessárias muitas horas de trabalho para extrair o suco).

Isso realmente me tornou uma pessoa mais saudável, mas com a sensação de que a minha vida estava sendo arrancada de mim. Acho que nem seria preciso contar o final: fiquei triste e melancólica por não poder comer pão, comecei a fazer xixi verde e continuei com muita dor. Essa senhora gostava de repetir que ninguém pisava fora de lá doente, e lá estava eu, fracassando em outra tentativa.

Mas chega uma hora que você entende que não há soluções simples para questões complexas. Quando você tem uma condição crônica —que pode ser dor, uma doença autoimune ou até uma depressão resistente—, ninguém vai aparecer com um suco mágico para te salvar. Ninguém vai ter uma solução fácil ou conhecer um tratamento que você nunca tinha pensado antes (e que já curou o primo do marido da tia da pessoa).

Não questiono a eficácia de nenhum tratamento, até porque o que funciona para um não funciona para outro, e muito menos a boa intenção das pessoas. Mas sempre tem alguém que acha que me trará uma iluminação, algo que eu nunca descobri, mesmo procurando incessantemente há quatro anos. Hoje em dia eu entendo que tenho uma doença, e que ela se chama dor crônica.

O problema é que essa quantidade enorme de sugestões acaba gerando ainda mais ansiedade em pessoas com doenças crônicas, porque, se você parar para pensar, a busca pode ser eterna. Sempre vai haver um novo tratamento, uma nova pesquisa, uma ideia genial. É preciso saber a hora de parar

Eu parei não apenas pela exaustão e pela frustração, aquele sentimento que te deixa completamente sem ar, mas também porque entendi que estava procurando em vão. Entendo que a minha doença está bem longe de ser compreendida por completo —se fosse óbvio, porque milhões de pessoas ainda estariam vivendo com dores que não passam? Não é nossa obrigação saber tudo, e às vezes tá tudo bem não entender.

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Além disso, não se trata dor crônica com uma única abordagem —os cuidados precisam ser multidisciplinares, porque a dor é um universo inteiro. Ela sempre vai envolver aspectos biológicos, emocionais, sociais e culturais, e sempre vai estar relacionada com as nossas memórias e a nossa própria história. E cada história é uma história.

Hoje em dia, faço tudo o que considero essencial para ter um mínimo de qualidade de vida, algo que me faça querer viver até o fim. O que inclui exercícios físicos, terapia, meditação e remédios, mas também tempo de descanso, vida social ativa, trabalho e atividades que me tragam prazer, como cozinhar, ir ao parque, aproveitar a agenda cultura da cidade, ouvir música e dançar. Tudo isso também é tratamento.

Tenho sorte de ter uma rede de apoio presente, que me ampara nos piores momentos, e privilégios por ter esse tempo pra cuidar de mim. Tento todos os dias não me revoltar com o que está acontecendo comigo, aceitar a imprevisibilidade das coisas e reconhecer quão pouco conhecemos do nosso sistema mente-corpo, que são uma coisa só. Mas somos seres humanos e, meu Deus, como é difícil abrir mão do controle!

Por ora, deixarei de lado as sugestões recebidas em nome da minha saúde mental. Talvez, quando receber a próxima mensagem do tipo (porque sempre haverá uma próxima), responderei apenas: "Obrigada, mas estou ótima!"

* Larissa Agostinho Teixeira (@dadoreoutrosdemonios) é jornalista formada pela USP com mais de 10 anos de experiência como repórter, redatora e editora de vídeos e documentários. Escreve sobre dor crônica em VivaBem e produz conteúdo para o Canal UOL. Estudou na Universidad Carlos III de Madrid e passou por veículos de imprensa como Editora Abril, Editora Trip, Estadão e Folha de S.Paulo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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