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Paola Machado

Não é só porque é diet ou light que é saudável; entenda os motivos

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Imagem: Thinkstock

Colunista do UOL

08/10/2020 04h00

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No final da década de 60, surgiram no Brasil os primeiros alimentos considerados diet ou dietéticos e light, e deste momento em diante inúmeras pessoas começaram a buscá-los, considerando serem mais saudáveis.

Mas será mesmo? Você busca estes produtos acreditando fazer escolhas mais equilibradas e nutritivas?

Para começar, vamos compreender o que significa ser saudável: para a OMS (Organização Mundial de Saúde), ter saúde é "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de afeções e enfermidades".

Certamente dentro deste conceito não está preestabelecido o uso de adoçantes, alimentos dietéticos ou light, uma vez que estes devem ser utilizados em situações específicas, respeitando sua quantidade segura, e sempre sob orientação de um profissional de saúde.

Segundo a Portaria SVS/MS 29/1998 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os alimentos dietéticos são aqueles destinados a dietas com restrição de nutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas, sódio), ou seja, com a retirada total de um ou mais nutrientes para atingir a necessidade de pessoas em dietas de ingestão controlada (diabéticos, renais crônicos, hipertensos).

Estes produtos são claramente destinados a pessoas que sofrem de alguma doença, na maioria das vezes crônica, e que necessitam de intervenções mais restritivas para controlar sua saúde e evitar consequências decorrentes da evolução desta doença. Pense se você está nesta condição!

Com relação aos termos light e zero, estes são aplicados aos alimentos que apresentam a diminuição de 25% ou mais de um determinado nutriente em sua composição. O termo light pode ser utilizado em duas situações: quando é baixo ou quando é reduzido em algum nutriente (açúcares, gorduras totais, gorduras saturadas, colesterol ou sódio); ou quando um produto é baixo ou reduzido em valor energético (caloria).

Ler o rótulo é essencial

A leitura de rótulos é fator determinante na escolha do melhor produto para a sua saúde. Muitas vezes quando a indústria de alimentos retira ou reduz um determinado ingrediente como o açúcar, por exemplo, precisam incorporar outros ingredientes como a gordura saturada e aditivos para garantir as suas características sensoriais, o que não irá tornar este alimento mais saudável.

Por isso é importante abrir a sua mente e compreender que consumir este tipo de produto não irá obrigatoriamente melhorar a qualidade de sua alimentação. Outra questão bastante relevante é que o uso destes alimentos não deverá ser utilizada como justificativa para comer mais.

Faça esta reflexão também ao observar a lista de ingredientes deste tipo de produto/alimento. A redução ou destituição mais comum em produtos alimentícios acontece com o açúcar, nestes casos, este ingrediente é substituído por um produto chamado de edulcorante (conhecidos como adoçantes); eles são substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo sabor doce, e não são necessariamente isentos de calorias e contraindicações.

Essas substâncias possuem o poder adoçante maior do que o açúcar comum, e os principais encontrados no mercado são: ciclamato de sódio, sacarina, aspartame, acessulfame-K, sucralose, steviosídeo, xylitol, sorbitol e manitol. Três novos aditivos edulcorantes são encontrados no mercado, a taumatina, o eritritol e o neotame (Resolução RDC 18/08, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa), estes últimos também são artificiais, porém, aparentemente, bastante promissores.

O neotame é parcialmente absorvido no intestino delgado, rapidamente metabolizado e eliminado nas fezes e na urina. Estudos sugerem que o neotame não afeta a glicemia de jejum ou os níveis de insulina em pacientes com diabetes tipo 2.

Seu uso é considerado seguro pela Associação Americana de Diabetes, pois não foi evidenciado efeito tóxico em estudos experimentais, e a ingestão diária máxima recomendada é de 2 mg/kg/dia.

No Brasil, o neotame já foi incluído na lista de aditivos em alimentos pela Anvisa, embora ainda possamos encontrar alguns estudos discutindo a possibilidade de efeito tóxico em quantidades específicas —converse com um profissional a respeito.

Alguns edulcorantes não-nutritivos (ou não calóricos) ainda aguardam mais estudos científicos para serem aprovados pela FDA (Food and Drug Administratiom, dos EUA), são o caso do alitame, neosferidine e taumatina.

Porém, no Brasil, a taumatina e o eritritol já estão liberados na lista de aditivos em alimentos pela resolução da Anvisa, RDC nº 18, de 24 de março de 2008. Os adoçantes são seguros quando utilizados na dose correta, ou seja, dentro de seu limite de segurança. Nesta condição, alguns grupos de indivíduos não têm indicação para seu consumo: crianças, gestantes, nutrizes, portadores de fenilcetonúria, sendo esta última limitação mais específica ao aspartame e, provavelmente, ao neotame.

No quadro abaixo, podemos notar os vários tipos de edulcorantes, suas indicações e contraindicações, além de outras informações práticas importantes.

Tabela - Fonte: Organização Mundial de Saúde / United States Recommended Daily Allowance (USRDA) - Fonte: Organização Mundial de Saúde / United States Recommended Daily Allowance (USRDA)
Imagem: Fonte: Organização Mundial de Saúde / United States Recommended Daily Allowance (USRDA)

De todos os edulcorantes, aqueles que têm um limite de consumo maior e, consequentemente, mais seguro são o acessulfame K e a sucralose, mas lembre-se de que estes aditivos estão presentes e diluídos em vários produtos (bebidas, biscoitos, bolos, entre outros), o que dificulta muito o controle da dose diária ingerida.

Para não ultrapassar esta dose segura, devemos controlar o consumo e, de tempos em tempos, promover uma troca, mas lembro que sempre com acompanhamento de um profissional da área da saúde.

*Colaboração da nutricionista comportamental Samantha Rhein (Unifesp).

Referências: