Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Escuta ativa: por que é importante o profissional da saúde ouvir o paciente
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Quantas vezes você já conversou com alguém tendo a certeza de que a pessoa não estava prestando a menor atenção no que você dizia?
Muitos de nós já nos deparamos com esta situação cotidianamente, com amigos e com profissionais da saúde, durante consultas impessoais e sem muitas interações. Você consegue se sentir à vontade e confiante o bastante para aderir às orientações de saúde, ou por vezes aceitar os conselhos destas pessoas que apenas te ouvem, mas não escutam aquilo que você está dizendo?
Vivemos em um mundo marcado pela produtividade, correria e tecnologia e, por conta disto, grande parte das pessoas vive sobrecarregada sem focar naquilo que está acontecendo no momento presente.
O sentido de escutar vai além do ouvir e inclui o silêncio e o tempo para processar ou simplesmente receber determinada informação de forma acolhedora e atenta. A escuta é um processo de recepção, atribuição de significado e de resposta, a partir de uma mensagem verbal ou não verbal. Podemos considerar que a escuta é um ato social, contextual e dialógico, ou seja, não é individual, nem meramente psicológico, já que a atribuição de significados, assim como a recepção da mensagem e a resposta que será gerada posteriormente são fundamentadas pelo contexto social
No campo da saúde, muito se discute sobre o atendimento mais humano e baseado na escuta ativa —uma habilidade de alto nível que permite a comunicação mais próxima, acolhedora e efetiva. Portanto, a valorização da escuta é uma forma de oferecer cuidado de forma integral e altamente eficaz.
A escuta ativa é um pré-requisito para um encontro bem-sucedido no âmbito do cuidado em saúde e tem um grande valor terapêutico, especialmente naquelas situações que não requerem intervenção médica direta por meio de procedimentos, anestésicos ou intervenções mais invasivas.
Quando um profissional da saúde acolhe e escuta seus pacientes, isso pode proporcionar maior comprometimento com o tratamento. Com a troca de ideias, dificuldades e obstáculos a serem ultrapassados fluem com mais facilidade e produtividade
A adesão ao tratamento como um processo multifatorial que se estrutura em uma parceria entre quem cuida e quem é cuidado diz respeito à frequência, à constância e à perseverança na relação com o cuidado em busca da saúde. Sendo assim, o vínculo entre profissional e paciente é fator essencial e que certamente promoverá a consolidação de todo o processo.
Nesta perspectiva, a adesão ao tratamento inclui fatores terapêuticos e educativos, abordando aspectos ligados ao reconhecimento e à aceitação de suas condições de saúde, a identificação de fatores de risco no estilo de vida, ao cultivo de hábitos e atitudes promotores de qualidade de vida e ao desenvolvimento da consciência para o autocuidado. Elementos relacionados ao profissional também entram nestes fatores e são explicados pelas condutas centradas na pessoa e não exclusivamente nos procedimentos, que aliam orientação, informação, adequação dos esquemas terapêuticos ao estilo de vida do paciente, esclarecimentos, suporte social e emocional.
A arte do aconselhamento não deve se limitar a "proibir" e "permitir"; o aconselhamento é um momento de selar o acordo e compartilhamento de informações. Portanto, deve ser pautado em um processo de confiança, bastante dinâmico e que considera as reais necessidades deste indivíduo que está a sua frente. O momento do aconselhamento deve garantir suporte técnico, sem se esquecer do emocional, para que o paciente consiga desenvolver a sua capacidade pessoal em realizar suas próprias escolhas, permitindo uma relação educativa diferenciada e voltada para a tomada de decisões e atitudes situadas no contexto de suas vivências.
Algumas habilidades podem ser consideradas essências no cultivo desta relação: a empatia, a tolerância, a compreensão e a flexibilidade, sem atitudes julgadoras ou orientações impossíveis de serem compreendidas ou aplicadas, principalmente no campo da nutrição —quem nunca recebeu um planejamento alimentar com orientações que não se aplicavam a sua realidade e, por conta disto, abandonou o tratamento?
O profissional precisa ter empatia, ou seja, a habilidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias. E, se adicionarmos uma pitada de compaixão, traremos um sentimento que envolve o altruísmo e a capacidade de sentir a dor do outro, despertando maior vulnerabilidade e compreensão do universo e dificuldades que provavelmente esta pessoa enfrenta.
O paciente tem a obrigação de tentar, perseverar e manter-se focado nas orientações que foram cordialmente combinadas buscando um objetivo comum. Compartilhar sempre as dificuldades de forma clara e aberta oferecerá elementos para o profissional atribuir orientações mais assertivas.
Assim, estabeleceremos uma relação de parceria que fortalece o vínculo e favorece a adesão a qualquer tratamento. Isto é o fator mais importante para inúmeros componentes de um tratamento, inclusive o controle efetivo necessário em muitas doenças, principalmente as crônicas.
Busque profissionais que te escutem atentamente, de forma ativa, não julgadora e compassiva. Desta forma, o processo do cuidar se tornará mais leve, bem-sucedido e sustentável.
*Colaboração da nutricionista comportamental Samantha Rhein (Unifesp).
Referências:
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Moura. K, D, C. O LUGAR DA ESCUTA NA EDUCAÇÃO, NA SAÚDE E NA NUTRIÇÃO. Natal 2016.
Macedo, I.C; Aquino, R.C. O Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para Políticas Públicas no Brasil no contexto do atendimento nutricional. Demetra; 2018; 13(1); 21-35.
Barbosa, R.G.B.; Lima, N.K.C. (2006). Índice de adesão ao tratamento anti-hipertensivo no Brasil e mundo. Rev Bras Hipertens vol.13(1): 35-38.
Porto et al., Por que os pacientes não aderem ao tratamento? Dispositivos metodológicos para a educação em saúde. RIO DE JANEIRO, V. 38, N. 101, P. 338-346, ABR-JUN 2014.
Manoela, M; Do Carmo, E.D. A ESCUTA ATIVA COMO CONDIÇÃO DE EMERGÊNCIA DA EMPATIA NO CONTEXTO DO CUIDADO EM SAÚDE. Atas de Ciências da Saúde, São Paulo, Vol. 9, pág. 41-51, JAN-DEZ 2020.
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