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Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Técnicas que podem amenizar alterações respiratórias em gestantes

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

25/05/2021 04h00

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Durante a gravidez, o corpo da mulher passa por diversas mudanças que o preparam para a chegada do bebê. Algumas são perceptíveis desde o início da gestação, já outras aparecem mais entre o segundo e terceiro trimestre.

Além de mudanças aparentes como o crescimento da barriga e da mama, você sabia que o sistema respiratório é um dos que mais sofrem alterações?

Principais modificações do sistema respiratório durante a gestação:

  1. Alterações anatômicas Conforme o útero se expande, ele empurra e desloca o diafragma entre 4 cm a 5 cm para cima, aumentando a circunferência torácica e diminuindo a mobilidade pulmonar. Por isso, é muito comum que as gestantes sintam falta de ar —dispneia—, principalmente entre o segundo e terceiro trimestres gestacionais.

  2. Alterações dos hormônios estrogênio e progesterona O estrogênio causa hiperemia, hipersecreção e edema (inchaço). Tente reparar, é muito comum a voz ficar fanha e o nariz edemaciado. A progesterona leva ao aumento da PaO2 (a quantidade de moléculas de oxigênio dissolvidas no sangue) e diminuição do CO2 (a quantidade de moléculas de gás carbônico dissolvidas no sangue) por ajuste de quimiorreceptores. Ainda que a frequência respiratória permaneça igual, isto é, o ritmo de vezes que a gestante inspira e expira, a gravidez está associada à hiperventilação pelo aumento da demanda de oxigênio do bebê em crescimento.

  3. Peso do útero Quando a mulher deita de barriga para cima pode ocorrer a compressão sobre a veia cava, responsável pelo retorno do sangue dos membros para o coração. Devido a esse fator, as gestantes são orientadas a dormir em decúbito lateral esquerdo (deitadas sobre o lado esquerdo do corpo).

Técnicas respiratórias para alívio dos sintomas

Na fisioterapia obstétrica ou também conhecida como pélvica, entre as condutas de manejo e preparação para o trabalho de parto estão as técnicas respiratórias e de relaxamento. A respiração adequada deve ser realizada com a prática de exercícios físicos específicos para gestantes, o que auxilia na ansiedade, alivia sintomas de desconforto e previne dores decorrentes do período gestacional. Além disso, há vários estudos que apontam que é fundamental promover uma boa consciência respiratória não só durante o período gestacional, mas também durante o trabalho de parto.

Estudo recente revelou que gestantes que não possuíam a orientação prévia de respiração e relaxamento durante o trabalho de parto realizaram respirações curtas e ofegantes, o que intensificou ainda mais o estado de ansiedade e fadiga, consequentemente aumentando a dor e prolongando a duração do trabalho de parto.

Para se ter ideia, o relaxamento associado aos exercícios respiratórios alivia o estresse ao diminuir a secreção de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que atua no mecanismo do estresse em resposta à dor, tanto na fase latente quanto na ativa do trabalho de parto. Pesquisadores apontaram que a falta de consciência da respiração e a manobra de valsalva (prender o ar e aumentar a pressão interna do corpo) durante as contrações do trabalho de parto levam à baixa oxigenação sanguínea e sistema cardiovascular e não permite o relaxamento da musculatura perineal e sua distensão gradual o que eleva o risco de laceração perineal.

Como o exercício pode ajudar a gestante a respirar melhor e se manter mais relaxada?

Exercícios físicos, de relaxamento e respiratórios —realizados sob orientação e acompanhamento de especialistas— são extremamente importantes durante toda a gestação, minimizando os sintomas de dispneia e fadiga. Além de auxiliar, e muito, no maior controle da ansiedade, estresse e até na consequente regulação e melhora da imunidade.

Quando se pensa no trabalho de parto, essas mesmas técnicas respiratórias e de relaxamento possuem um papel essencial para melhorar a oxigenação mãe-bebê, além de diminuir a dor e reduzir o risco de disfunções. Receber a orientação adequada, se preparar para esse momento e estar consciente do seu corpo e da sua respiração podem tornar a experiência da gestação e do parto mais leves. Sempre faça o acompanhamento pré-natal, se informe e procure profissionais de saúde que trabalhem com essa área de especialização.

Gestantes e puérperas se tornaram prioritárias na vacinação contra a covid. Por quê?

Mulheres nessa fase são suscetíveis devido a um reajuste de sua imunidade para gestar o bebê, o que as torna mais vulneráveis para infecções. Além disso, uma série de estudos tem se aprofundado em pesquisas relacionando a covid ao risco de parto prematuro, pré-eclâmpsia e trombose. Mas o mais importante nesse momento é que todas as mulheres mesmo após serem vacinadas se mantenham com os mesmos cuidados de não se expor desnecessariamente.

*Colarboração de Juliana Satake, Fisioterapeuta Especializada pelo CAISM - UNICAMP, sócia da Clínica La Posture e Dra. Renata Luri, Fisioterapeuta Doutorada pela UNIFESP @renataluri

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