Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Dá para perder gordura em área específica do corpo? Veja o que ciência diz
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Estou há dias querendo escrever um pouco sobre os virais de danças ou workouts asiáticos que estão disponíveis na internet. Mas, como sempre, tento buscar base científica para mostrar os lados. Analisando mais a fundo, descobri que não há base científica nessa técnica e, sim, é um método —sem comprovação científica— utilizado por algumas influenciadoras asiáticas. Se funciona ou não, vamos conversar nesse texto sobre o tema.
Para quem não viu, esse é um dos vídeos similares aos que circulam e, tanto no Tik Tok quanto no Instagram, muitas pessoas replicam. Algumas dizem ser eficaz, outras fazem brincadeiras e outras são descrentes dos resultados.
A ideia é realizar a movimentação de tronco e quadril, para a frente e depois para trás, muito rapidamente, parecendo uma espécie de dança de 5 a 10 minutos todos os dias que visa atingir os músculos abdominais, prometendo reduzir a gordura abdominal e deixar a cintura mais fina.
Existem até algumas imagens de antes e depois com muitos usuários que você pode achar nas redes sociais dessa influenciadora aqui citada e de outras que também passam a sequência de exercício.
Mas será que é efetivo e reduz gordura abdominal? É possível reduzir a gordura em uma área específica?
Primeiramente, eu gostaria que você observasse seu corpo. Você percebe que onde você costuma estocar a gordura com facilidade é a região que mais demora para perder? Quando fazemos exercícios (associados a uma boa dieta) reduzimos a composição total de gordura do corpo, mas não podemos definir de que parte do corpo a gordura será usada como combustível.
A gordura nas células é encontrada na forma de triglicerídeos, que são gorduras armazenadas que o corpo pode usar para obter energia. Antes disso, os triglicerídeos devem ser divididos em seções menores chamadas ácidos graxos livres e glicerol, que são capazes de entrar na corrente sanguínea.
Durante o exercício, os ácidos graxos livres e o glicerol usados como combustível podem vir de qualquer parte do corpo, não especificamente da área que está sendo exercitada.
Um estudo com pessoas que realizaram apenas exercícios voltados para a musculatura abdominal por seis semanas não encontrou redução na gordura da região. Outro estudo que acompanhou mulheres com sobrepeso e obesidade por 12 semanas mostrou que o treinamento de abdominal não teve efeito na redução de gordura abdominal, em comparação com a intervenção dietética isolada.
Um estudo focado na eficácia do treinamento de resistência da parte superior do corpo teve resultados semelhantes. Este trabalho de 12 semanas incluiu 104 participantes que concluíram um programa de treinamento que exercitava apenas os braços não dominantes. Pesquisadores descobriram que, embora tenha ocorrido alguma redução de gordura, ela foi generalizada —para todo o corpo—, não somente para o exercício do braço.
Vários outros estudos tiveram resultados semelhantes, concluindo que o trabalho local não é eficaz para utilizar a gordura em áreas específicas do corpo.
No entanto, um pequeno número de estudos teve resultados conflitantes. Um realizado com um número de voluntários bem pequeno, 10 pessoas, mostrou que a redução de gordura era maior em áreas próximas à contração dos músculos. Outro estudo, com 16 mulheres, descobriu que o treinamento de resistência localizado seguido de 30 minutos de ciclismo resultou em aumento da redução de gordura em áreas específicas do corpo.
Apesar desses estudos conflitantes, a maioria das evidências científicas mostra que não é possível perder gordura em uma área específica exercitando apenas essa parte do corpo.
Além disso é necessário reforçar que, não importa quanto exercício você esteja fazendo, se sua nutrição não estiver equilibrada e se você não estiver se alimentando com um déficit calórico adequado para reduzir a composição geral de gordura corporal.
Outro ponto é adicionar o treinamento de força para manter ou até ganhar massa muscular, enquanto você reduz gordura corporal, para que você não perca músculo junto com a gordura —e devemos também levar em consideração questões genéticas.
De acordo com o site de dados de mercado e consumidor Statista, 32,5% dos usuários do Tik Tok nos EUA têm entre 10 e 19 anos, 18% são mulheres e 14% são homens. No geral, jovens de 16 a 24 anos representam 41% de todos os usuários do Tik Tok. Enquanto um adulto pode ser capaz de raciocinar que você não pode ficar tão magro e tonificado quanto as meninas neste vídeo apenas movimentando seu quadril e tronco por 5 minutos por dia, adolescentes podem acreditar nessas afirmações e sentir que fizeram, falharam e não obtiveram esses resultados.
Vale reforçar que, de fato, movimentação muito rápida e repetitiva pode ser considerada uma atividade por essa frequência, aumentando o gasto calórico comparado ao repouso. Contudo temos que notar as propagandas imediatistas e o que de fato a ciência mostra. Não há segredo e promessas em uma mudança de estilo de vida, é necessário constância, determinação e foco.
Referências:
- Overweight and Obesity. National Heart, Lung, and Blood Institute website. https://www.nhlbi.nih.gov/health-topics/overweight-and-obesity NIH external link. Accessed June 12, 2019.
- Magdalon, J.; et al. Controle da adiposidade por mTORC1. Einstein (São Paulo) vol.15 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2017.
- Metabolic Syndrome. National Heart, Lung, and Blood Institute website. https://www.nhlbi.nih.gov/health-topics/metabolic-syndrome NIH external link. Accessed June 12, 2019.
- Anouk A.J.J. van der Lans; et al. Cold acclimation recruits human brown fat and increases nonshivering thermogenesis. J Clin Invest. 2013 Aug 1; 123(8): 3395-3403.
- Dutchen, S. What Do Fats Do in the Body? National Institute of?General Medical Sciences 2010.
- Ten leading causes of death and injury, 2009. Centers for Disease Control and Prevention. Web-based Injury Statistics Query and Reporting System (WISQARS). www.cdc.gov/injury/wisqars/pdf/10lcd-age-grp-us-2009-a.pdf External link(PDF, 86 KB) . Updated 2011. Accessed January 2018.
- Hainer, V.; et al. Obesity Paradox Does Exist. Diabetes Care 2013 Aug; 36(Supplement 2): S276-S281.
- National Diabetes Statistics Report, 2017. Centers for Disease Control and Prevention. www.cdc.gov/diabetes/pdfs/data/statistics/national-diabetes-statistics-report.pdf External link (PDF, 1.35 MB) . Updated 2017. Accessed October 2017.
- Schulz, T.J.; et al. Brown-fat paucity due to impaired BMP signalling induces compensatory browning of white fat. Nature. 2013 Mar 21;495(7441):379-83. doi: 10.1038/nature11943. Epub 2013 Mar 13.
- Mekary, R.A.; et al. Weight training, aerobic physical activities, and long-term waist circumference change in men. Obesity (Silver Spring). 2015 Feb;23(2):461-7. doi: 10.1002/oby.20949. Epub 2014 Dec 19.
- Obesity and cancer risk. National Cancer Institute. www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/obesity/obesity-fact-sheet NIH external link. Reviewed January 17, 2017. Accessed January 4, 2018.
- Morgan K. Brown fat, white fat, good fat, bad fat. 2013.
- Schugar RC, et al. (2017). The TMAO-producing enzyme flavin-containing monooxygenase 3 regulates obesity and the beiging of white adipose tissue.
- Institute of Medicine and National Research Council. Weight Gain during Pregnancy: Reexamining the Guidelines. Washington, D.C.: The National Academies Press; 2009. www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK32813 NIH external link.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.