Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Medo da gravidez e do parto? Veja dicas que podem ajudá-la nestes momentos
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Tocofobia é o medo excessivo de engravidar e do parto. Você conhecia esse termo específico para a condição? Se você tem medo do parto, independente se a via for normal ou cesárea, não se sinta sozinha!
Estamos inseridos numa cultura e sociedade que já espera e pressiona a mulher no estereótipo de que há um instinto natural para a maternidade ou de que todas nascem prontas para serem mães e, por isso, pode parecer um contrassenso a mulher ter medo de engravidar ou de parir, o que pode gerar um grande tabu em relação ao tema, e gera nas mulheres depressão, isolamento e culpa.
Mas saiba que o medo e ansiedade na gestação ou ao pensar sobre o parto acontece de forma muito mais comum do que se imagina, e afeta cerca de 75% das mulheres, incluindo ainda 25% delas que têm um medo excessivo e paralisante.
Vale reforçar que é bastante comum que a mulher sinta algum grau de ansiedade ou até receio diante de uma gravidez e isso não significa que há algo de errado. No entanto, há um sinal de alerta em situações em que tudo se torna mais intenso e acentuado.
A tocofobia é considerada um transtorno psicológico na qual é necessário dar atenção especial e indicar tratamentos adequados. A fobia limita a vida, gerando sofrimento e afetando de forma importante a saúde mental da gestante. Alguns sintomas incluem instabilidade emocional ao se tocar no assunto parto e gestação, crises de pânico, vômitos ao falar e pensar no assunto, pesadelos frequentes e depressão.
Estudos mostram que o medo não é apenas um sentimento, ele afeta o corpo da mulher e altera toda a fisiologia da gestação, elevando níveis de hormônio do estresse, o cortisol e aumentando a pressão arterial.
Consequentemente, pode predispor à pré-eclâmpsia, parto prematuro, cesárea de emergência ou parto vaginal com intervenções, maior tempo de dilatação do colo uterino, e no pós-parto pode aumentar o risco de depressão pós-parto, baixos índices de amamentação e maior admissão de recém-nascido em UTIs.
Além disso, o medo pode influenciar diretamente no nascimento do bebê, resultando em um aumento significativo de escolha por partos cirúrgicos. Quem passa por isso, muitas vezes, acaba desistindo da maternidade e vale dizer que nessas situações se inclui quem tem medo da gestação ou apenas do momento do parto. A origem do medo pode ser multifatorial, e vou apontar alguns mais relevantes.
- Sentir dor.
- Sofrer alguma intervenção médica como a episiotomia ou corte grande como cesárea.
- Perder o controle e não saber como lidar com a sensação de vulnerabilidade.
- Não ter apoio necessário.
- Medo da própria morte.
Além disso, há também questões hospitalares envolvidas no medo, como:
- Não ter possibilidade de tomar decisões durante o parto.
- Solidão. Despreparo da equipe médica.
Fatores de risco para tocofobia
Pessoas com predisposição a transtornos de ansiedade, fraca rede de apoio, baixo autoestima, relacionamentos abusivos e/ou nocivos, experiências negativas prévias com parto e perda gestacional são fatores de risco a esse medo do parto.
Agora entendi que a tocofobia é um transtorno psicológico. Mas será que o medo que eu sinto é considerado transtorno ou é normal?
Há questionários validados até na língua portuguesa para avaliar o quanto de medo você possui —há um que se chama Questionário sobre o Medo Percebido do Parto (QMPP), versão portuguesa do Wijma Delivery Expectancy/Experience Questionnaire (W-DEQ) —que você pode encontrar na internet mesmo.
A pontuação desse questionário varia de 0 a 165, sendo reconhecido que escores inferiores a 85 é considerado medo administrável por ser de leve a moderado. Quando acima de 85 é considerado medo intenso, e quando passa de 100 é considerado tocofobia. Caso você tenha curiosidade, faça esse questionário como ferramenta de autoconhecimento!
Mas lembre-se sempre de falar com um profissional de saúde que poderá te orientar e proporcionar o acolhimento e cuidados médicos quando necessário.
Independente do nível de medo, separei algumas dicas que podem te ajudar a se conhecer melhor, conhecer seu corpo melhor e ter a confiança necessária para o dia do nascimento do seu filho.
- Mude a forma de enxergar o parto
Quando se foca na palavra "parto" muitas associam com dor e sofrimento. No entanto, parto é o nascimento! A chegada do seu filho que tanto desejava ou imaginava é um evento de comemoração e alegria.
Você foi capaz de desenvolver e formar um ser completo dentro de você, isso significa que seu corpo é inteligente e forte o suficiente, mesmo que você não saiba, para fazer a criança sair. Confie no seu corpo! No final da gestação, você começará a sentir que sua pelve vai estar mais solta, a famosa sensação de estar "descadeirada", o que representa que o seu corpo está se abrindo para o nascimento do bebê.
Saiba que é normal e esperado que a partir da 32ª semana você comece a ter contrações espaçadas e indolores chamadas Braxton-Hicks, que nada mais são do que contrações de treinamento. Seu útero, assim como qualquer músculo do corpo, treina e fica cada vez mais forte para lhe ajudar! Quanto mais treino, mais confiança e menos medo terá.
- Exercite seu corpo com profissionais especializados em gestação e parto
Treinar com um fisioterapeuta ou educador físico especialistas na área de saúde da gestante, isso é, que compreendam o processo gestacional, te dará mais confiança em todo o processo.
Saiba que o nascimento requer movimento. Seu corpo precisará se movimentar conforme a necessidade do seu filho. Para tal, é importante que você tenha consciência do corpo e tenha condicionamento físico para andar, rebolar, subir escada, fazer força com os braços quando lhe solicitar ou sentir necessidade.
Assim como seu útero começa a treinar para que esteja forte para ajudar seu filho a nascer, o restante do seu corpo também precisa se exercitar! Além de treinar força muscular, você precisará também de um treino cardiorrespiratório, a fim de ter fôlego no final da gestação e no ato do nascimento.
Sugiro treino respiratório para treinar não apenas o diafragma, mas a mente a se manter calma. Treino de alongamento e relaxamento do corpo também são ótimos para permitir que seu corpo relaxe e ganhe espaço para seu bebê crescer o suficiente dentro de você.
- Exercite seu assoalho pélvico
Fisioterapeutas pélvicos trabalham especificamente com esta parte mais interna da pelve, que é a última porta de saída do seu filho para vir ao mundo. Quando falo treino não é exercício de pompoarismo nem de Kegel, mas, sim, um treino para aprender a conhecer melhor essa região, senti-la em várias posições que poderão variar no parto, perceber quais situações fazem o assoalho pélvico tensionar e como relaxá-lo também.
Em outras palavras, ganhar familiaridade com o períneo. Angela May, fisioterapeuta especializada em saúde da mulher pela Unicamp, revela que é muito comum que as mulheres não se toquem e nem se conheçam. A nossa cultura pouco estimula o conhecimento e percepções acerca do assoalho pélvico, e as mulheres chegam sem ter consciência nenhuma da região.
E, atenção, caso essas dicas não sejam o suficiente, busque conversar bastante com seu obstetra, obstetriz, enfermeira obstetra, fisioterapeuta e doula, pois eles estarão ao seu lado auxiliando no momento do parto e podem oferecer conhecimento técnico e recursos médicos e não farmacológicos para alívio de dor, medo e ansiedade.
Além disso, busque ajuda psicológica para lidar com esse medo específico que você tem, ou mesmo quando não conseguir reconhecer a origem dele. A acupuntura também pode ser uma aliada no seu tratamento para a redução de ansiedade, clareando os pensamentos e equilibrando corpo e mente.
Gestação não é doença e parto não é um evento assustador! Converse sobre o tema, se conheça melhor e conte com uma equipe profissional de confiança para lhe trazer mais tranquilidade nessa fase da sua vida.
*Colaboração Angela May, gestora da fisioterapia da mulher na Clínica La Posture, e Renata Luri, fisioterapeuta doutora pela Unifesp
Referências:
Demsar K, Svetina M, Verdenik I et al., Tokophobia (fear of childbirth): prevalence and risk factors. J Perinat Med, 2018, Feb 23; 46(2): 151-4.
Dencker A, Nilsson C, Begley C et al., Causes and outcomes in studies of fear of childbirth: A systematic review. Women Birth, 2019, Apr, 32(2): 99-111.
Haines HM, Pallant JF, Fenwick J et al., Identifying women who are afraid of giving birth: a comparison of the fear of birth scale with the WDEQ-A in a large Australian cohort. Sex Reprod Heathc, 2015, Dec6(4): 204-10.
Mello RSF, Toledo SF, Mendes AB, et al., Medo do parto em gestantes. Femina, 2021, 49(2):121-8.
Rondung E, Thomten J, Sundin O. Phychological perspectives of fear of childbirth. J Anx Dis, 2016, 44: 80-91.
Loureiro SAM. O medo do parto. Contributo para validação do W-DEP para grávidas portuguesas. Tese de mestrado, 2013.
Morgan MF. Hypnobirthing, the Morgan Method. A natural approach to a safe, easier, more comfortable birthing. 4th edition, 2015.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.