Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Entenda a relação entre má alimentação, depressão e obesidade
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Todos os dias, somos expostos a uma rotina diária turbulenta, intensa, repleta de horários, regras e convenções que nos tornam mais vulneráveis a uma vida estressante e sem a possibilidade de desfrutarmos o momento presente.
O resultado desse estilo de vida é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças não transmissíveis e de ordem mental, como depressão e ansiedade. Cerca de 4,4% da população mundial sofre com depressão e, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil e os Estados Unidos são os países com maiores taxas relacionadas ao uso de medicamentos antidepressivos (cerca de 5,8% da população).
A OMS classifica a depressão como a maior causa de problemas de saúde e doenças incapacitantes em todo o mundo. Segundo as suas últimas estimativas, mais de 300 milhões de pessoas estão vivendo agora deprimidas. Um recente levantamento realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro aponta o adoecimento mental como a terceira maior causa de concessão de licença médica em esfera nacional.
A depressão e a obesidade são doenças que se associam fortemente. Evidências baseadas em dados epidemiológicos e clínicos sugerem que esta correlação possa acontecer em mais de 50% dos casos e um dos mecanismos de associação é a dieta baseada em alimentos processados, grãos refinados e açúcar, além do baixo consumo de dietas ricas em frutas, vegetais, legumes, azeite, peixes, grãos integrais como a Dieta do Mediterrâneo. Esses achados sugerem que muitos comportamentos relacionados à alimentação estão ligados aos estados de humor.
A motivação, por vezes emocional, que impulsiona as escolhas alimentares e o comer emocional tem sido extensivamente associada à obesidade, tendo estudos que demonstram e comprovam a relação entre a maior frequência do comer buscando a sensação de prazer e a gravidade de obesidade —medida pelo IMC (Índice de Massa Corporal).
A ferramenta para lidar com essas disfunções tem sido buscar uma saúde mental positiva. Como foram encontradas associações entre estados afetivos e comportamentos alimentares, a adesão frequente às diretrizes de comportamento relacionadas à alimentação pode resultar em uma rotina alimentar mais saudável e regular, e maior capacidade de autorregular a ingestão alimentar.
Evidências científicas descrevem que a prática de mindfulness favorece a mudança de comportamento alimentar a partir do desenvolvimento de uma variedade de mecanismos, incluindo maior consciência das experiências internas (fome, humor), enfrentamento emocional adaptativo e flexibilidade cognitiva, além da melhora metabólica caracterizada pelo controle do perfil lipídico, melhora da resistência à insulina, entre outros.
Alguns estudos com metodologia bem estruturada identificaram uma relação direta entre o grau de obesidade e a ocorrência de episódios de descontrole alimentar marcado por atitudes impulsivas relacionadas às escolhas alimentares. Os pesquisadores comprovaram que a prática de mindfulness com consequente desenvolvimento de uma atitude não julgadora e de aceitação, associada a intervenções comportamentais baseadas em orientação dietética e prática de exercícios físicos, apresentou efeitos positivos na perda de peso e/ou melhora de parâmetros metabólicos, em indivíduos com obesidade.
Podemos perceber a importância da saúde mental em nossa saúde como um todo e, para isso, além da prática de mindfulness, algumas outras atitudes farão toda a diferença. Sugiro que, de maneira gradativa, você introduza estas ações e em pouco tempo sentirá a diferença:
- Tenha uma boa noite de sono: pelo menos 8 horas de sono são essenciais para preservar todas as suas funções corporais — temos vários estudos relacionando a qualidade de sono ao controle de pressão arterial e glicemia, aumento na produtividade intelectual, melhora da saúde mental, impacto positivo sobre a genética (epigenética) e o ritmo biológico;
- Exercite-se pelo menos uma hora por dia, faça algo que goste e consiga manter a adesão e comprometimento. O treino libera serotonina e promove bem-estar, o que ajuda a manter um bom peso corporal e controle metabólico;
- Evite o consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcares e bebidas alcoólicas;
- Mantenha distância de alimentos ricos em cafeína e substâncias excitantes, como café, chá preto, chá verde, chocolate e refrigerantes à base de cola; a maioria das pessoas são sensíveis a estes alimentos;
- Prefira alimentos fermentados ou germinados, pois eles têm mais nutrientes disponíveis e contribuem com a manutenção da flora intestinal; a sua saúde intestinal tem conexão direta com a saúde mental;
- Mude a sua forma de pensar, cultive a positividade e distribua boas vibrações.
- Seja a sua prioridade; cuide de sua saúde e mente e desfrute o bem-estar que estas pequenas atitudes de proporcionarão.
*Com colaboração de Samantha Rhein, nutricionista e doutora pela Unifesp
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alamount MM, Rahmanian M, Aghamohammadi V, Mohammadi E, Nasiri K. Effectiveness of Mindfulness based cognitive therapy on weight loss, improvement of hypertension and attentional bias to eating cues in overweight people. Int J Nurs Sci (2019) 7(1):35-40.
Alvarenga, M; Polacow, V; Scagliusi, F. Dieta e seus efeitos no comportamento alimentar. In: Nutrição Comportamental. São Paulo: Editora Manole; 2015.
A. Ruffault et al. The effects of mindfulness training on weight-loss and health-related behaviours in adults with overweight and obesity: A systematic review and meta-analysis. Obesity Research & Clinical Practice (2017) 11, 90--111.
Corsica J, Wilson R, Hood M, Bradley L. Mindfulness in a weight loss intervention: Some utility and some challenges. Obesity (Silver Spring). 2016 Apr;24(4):792. doi: 10.1002/oby.21472. Epub 2016 Mar 9. PMID: 26956099.
Daniel C Cherkin, Karen J Sherman , Benjamin H Balderson , Andrea J Cook , Melissa L Anderson , Rene J Hawkes , Kelly E Hansen, Judith A Turner. Effect of Mindfulness-Based Stress Reduction vs Cognitive Behavioral Therapy or Usual Care on Back Pain and Functional Limitations in Adults With Chronic Low Back Pain: A Randomized Clinical Trial. JAMA, 2016 Mar 22-29;315(12):1240-9.
Sophie Bostock, Alexandra D Crosswell , Aric A Prather , Andrew Steptoe. J Occup Health Psychol, 2019 Feb;24(1):127-138.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.