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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como, como, como e não engordo: o que acontece comigo?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

19/09/2022 04h00

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Para alguns, pode até parecer injustiça saber que existem pessoas que comem de tudo e não aumentam nem um grama na balança. Por isso acontece?

Não há uma resposta simples e nem sempre é algo bom —pois em certos casos a pessoa não ganha peso por problemas de saúde. Geralmente, há fatores genéticos, nutricionais e até comportamentais envolvidos. Contudo, o mais provável é que a manutenção do peso —além desses possíveis fatores biológicos— está relacionada com um equilíbrio energético. Ou seja, a pessoa gasta durante o dia a mesma quantidade de calorias que consome.

Então, antes de pensar que seu amigo que come um sorvete todos os dias e não engorda é "abençoado", saiba que a resposta muitas vezes está nas outras coisas que ele come durante o dia e em seu nível de atividade —que não é só o treino, mas também todas as movimentações do dia (caminhas, subir escadas etc.).

Existem evidências de que algumas pessoas são geneticamente predispostas a querer mover seu corpo. Esse movimento extra também pode acelerar o metabolismo do corpo ou quanta energia seu corpo gasta ao longo do dia, sem incluir o treino. Quanto mais você se move, mais as mitocôndrias dentro das células dos músculos aumentarão em número e em sua atividade —e essas são as usinas de energia que usando energia para o movimento.

Há poucas evidências que sugerem que, sem exercício, algumas pessoas nascem gastando significativamente mais calorias do que outras, mas pode haver diferenças fisiológicas que permitem que alguns moderem naturalmente o número de calorias que consomem sem exercer um tremendo autocontrole —e acabam não dando tanta importância para isso. Cascatas de sinais do sistema nervoso e hormônios que circulam em nosso sangue interagem para nos dizer quando estamos com fome ou satisfeitos, sendo isso chamado de sistema regulador do apetite, que pode ser mais sensível em algumas pessoas do que em outras.

Um importante hormônio envolvido nesse sistema é a leptina. Ela ajuda a regular a quantidade de comida que queremos comer por longos períodos, não apenas na próxima refeição, podendo recalibrar seu equilíbrio de energia porque seu sistema de sinalização de apetite está ok energeticamente.

Questões genéticas

A genética pode desempenhar um papel na tendência de uma pessoa para ganhar ou perder peso. Pesquisadores identificaram mais de 250 regiões diferentes de DNA associadas à obesidade. Para este estudo, os pesquisadores compararam 1.622 pessoas saudáveis com baixo índice de massa corporal (IMC) contra 1.985 pessoas com obesidade grave e 10.433 pessoas de controle de peso normal.

Eles descobriram que os participantes magros tinham menos genes associados à obesidade. Vale lembrar que os genes sozinhos não determinam seu peso. Por outro lado, o resultado não só mostrou que pessoas magras tinham menos variantes genéticas que sabemos que aumentam o risco de uma pessoa engordar, mas também tinham novas regiões genéticas envolvidas no ser magro de forma saudável.

As pessoas que parecem não ganhar peso podem ter fatores biológicos favoráveis, como um metabolismo mais rápido, mais tecido magro ou mais massa muscular. Inerentemente, eles podem queimar mais calorias.

O que devemos ter em mente é que essa resposta é complexa: nossa tendência de ganhar peso ou manter nosso peso não é pré-determinada, mas também não está totalmente sob nosso controle. Não existe um interruptor genético que permita que algumas pessoas comam tudo o que quiserem sem ganhar peso; ao mesmo tempo, uma tendência a ganhar peso não é necessariamente devido à falta de autocontrole.

Condições médicas que dificultam o ganho de peso

Hipertireoidismo Uma tireoide hiperativa causa um excesso de hormônio tireoidiano no corpo. O hormônio da tireoide é responsável por muitos elementos do metabolismo, incluindo a regulação da taxa metabólica. Pessoas com hipertireoidismo têm um metabolismo hiperativo e muitas vezes queimam mais calorias ao longo do dia. Sem a medicação adequada, o hipertireoidismo pode causar problemas para ganhar peso, mesmo quando a ingestão de alimentos aumenta.

Diabetes tipo 1 Condição autoimune em que o corpo destrói as células do pâncreas, elevando o nível de glicose (açúcar) no sangue, que é então excretada na urina. Essa excreção excessiva de glicose pode levar à perda de peso não intencional.

Doença inflamatória intestinal Termo geral para uma série de condições caracterizadas por inflamação do intestino. Essas condições, como a doença de Crohn e a colite ulcerativa, podem ter impactos negativos na capacidade de manter o peso, podendo limitar os tipos e quantidades de alimentos que uma pessoa pode comer. Eles também podem causar diarreia frequente, o que pode causar perda de peso em alguns casos.

Referência:

Riveros-McKay F, Mistry V, Bounds R, Hendricks A, et al. Genetic architecture of human thinness compared to severe obesity. PLOS Genetics.