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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que sentimos mais dor quando envelhecemos (e como minimizar isso)

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Colunista de VivaBem

04/11/2022 04h00

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A medida que os anos vão passando, é normal nos queixarmos de mais dores. Mas será que isso acontece pois ficamos mais sensíveis às dores ou sentimos mais dores de verdade?

Ter dores é muito subjetivo, porque podemos sentir o incômodo sem que, de fato, haja uma lesão ou inflamação que o gere.

Antes de me aprofundar no assunto, quero que você entenda que envelhecer não é sinônimo de doença ou de que certos problemas vão piorar. O que precisa estar cada vez mais claro é que, à medida que envelhecemos, para acompanhar as mudanças fisiológicas, devemos investir mais tempo e esforço em um estilo de vida saudável —que contempla sono de qualidade, exercícios com foco em fortalecimento e boa alimentação, além de evitar o tabaco, bebidas alcoólicas e alimentos ultraprocessados.

Por que sentimos mais dor

À medida que envelhecemos, os ligamentos e tendões tendem a ficar mais rígidos. Ao mesmo tempo, problemas como osteoartrite podem causar o desgaste da cartilagem de uma articulação. Ambos os processos podem levar gerar desconforto. Entretanto, quando condicionamos nosso corpo e nos mantemos ativos, todos esses sintomas ficam mais leves e, para muitos, imperceptível. Portanto, temos de estar atentos à flexibilidade, à resistência aeróbica e à força muscular.

Vamos pegar o exemplo das dores nas costas que costumam aparecer ou ficar mais intensa conforme os anos passam. A dor musculoesquelética é uma característica comum do envelhecimento e a dor nas costas está entre as queixas mais comuns de todas, afetando até 75% dos adultos com mais de 60 anos, de acordo com uma revisão da revista "Clinics".

Com o tempo, regiões da sua coluna podem simplesmente começar a se desgastar, incluindo os discos e articulações, culminando em dor nas costas. O amortecimento que reveste as articulações da coluna vertebral pode começar a degenerar, fazendo com que as articulações tenham um atrito e fiquem inflamadas. A substância gelatinosa que fica entre cada disco espinhal pode começar a perder umidade, aumentando o risco de dor e lesões, como discos rompidos ou hérnias de disco. Esses problemas podem causar desconforto em qualquer parte da coluna, incluindo o pescoço, mas o desgaste é mais provável que leve a dores na parte inferior das costas.

Segundo a Cleveland Clinic, o desgaste normal que acontece com a idade pode preparar o cenário para doenças crônicas nas costas, como estenose espinhal (a medula espinhal e os nervos ficam comprimidos e causam dores nas costas e no pescoço, além de fraqueza nos braços ou nas pernas), espondilolistese (quando uma vértebra da coluna desliza para a frente em outra vértebra), artrite (cartilagem da coluna fica fina e inflamada), osteoporose (os ossos se tornam mais fracos e quebradiços) etc.

Falando em osteoporose, é possível que a condição cause pequenas fraturas na coluna. Essas microfraturas não acontecem por um acidente como tropeçar ou cair, mas podem se desenvolver quando os ossos da coluna não são resistentes o suficiente para suportar seu peso ou atividades cotidianas.

O estilo de vida sedentário pode enfraquecer os músculos das costas, do abdome, do quadril e do corpo todo, tornando a pessoa mais propensa a lesões.

Foque na boa alimentação

À medida que envelhecemos, podemos sofrer com certas deficiências nutricionais, em parte devido a mudanças físicas e em parte devido a reduções no apetite ou variedade alimentar.

Para a saúde dos ossos e articulações, os alimentos ricos em gorduras saudáveis, cálcio e vitamina E são importantes. Dessa forma, alimentos como azeite, salmão, amêndoas, manteiga de amendoim e abacate são bem-vindos.

Produtos lácteos (queijos, leite) e sardinhas inteiras (inclusive enlatadas) são boas fontes de cálcio, que fortalece os ossos. Para absorver esse cálcio, seu corpo precisa de vitamina D —portanto, tome sol adequadamente. A manutenção de massa muscular também é muito importante e comer proteína (peixe, frango, carne, ovo etc.) contribui com isso.

Faça exercícios

De acordo com um novo estudo, realizar altos níveis de atividade pelo menos uma vez por semana, como jogar tênis, correr e nadar, - ajuda a evitar dores musculoesqueléticas crônicas no corpo. O estudo examinou os dados de 5.802 pessoas com 50 anos ou mais ao longo de dez anos, sendo que quase metade relatou que sofria de dor musculoesquelética no final do período de uma década.

A pesquisa concluiu que toda atividade física ajuda a diminuir o risco de sofrer dor, mas, com o tempo, apenas altos níveis de atividade física parecem diminuir o risco de alguém desenvolver dor musculoesquelética.

Qualquer atividade ajuda as pessoas a ficarem bem e se sentirem melhor do que não se exercitar, mas exercícios leves (caminhada, alongamento, hidroginástica) não parecem ter um efeito em longo prazo na redução do risco de desenvolvimento da dor crônica. Por isso, a atividade física precisa ser vigorosa —e feita pelo menos uma vez por semana.

O estudo descobriu que a dor persistente era mais comum em mulheres, possivelmente devido a diferenças hormonais; naqueles que eram obesos ou com sobrepeso, provavelmente porque os quilos extras sobrecarregam as articulações do corpo; e naqueles com condições socioeconômicas mais baixas, possivelmente porque uma renda disponível mais alta pode permitir que as pessoas busquem cuidados extras (massagens etc.).

Se você ainda é jovem e não sofre com dores, adote desde já hábitos saudáveis para não ter o problema no futuro. Se você está na meia-idade ou passou dos 60 e os desconfortos estão incomodando, busque ajuda de um médico e de um profissional de educação física, que irão orientá-lo sobre as melhores práticas para manter a saúde e inibir dor. Consulte-se também com um profissional de nutrição, para ajustar o cardápio conforme suas necessidades.

Referências:

de Souza IMB, Sakaguchi TF, Yuan SLK, Matsutani LA, do Espírito-Santo AS, Pereira CAB, Marques AP. Prevalence of low back pain in the elderly population: a systematic review. Clinics (Sao Paulo). 2019 Oct 28;74:e789. doi: 10.6061/clinics/2019/e789. PMID: 31664424; PMCID: PMC6807687.

NeuroscienceNews. Exercise Harder if You Want to Ward off Pain Due to Aging. Disponível em: https://neurosciencenews.com/pain-aging-exercise-19998/

Cleveland Clinic. 13 Ways to Fix Your Age-Related Back Pain. Disponível em: https://health.clevelandclinic.org/back-pain-your-spine-and-father-time/

Cleveland Clinic. When (and How) Physical Therapy Can Provide Relief for Your Low Back Pain. Disponível em: https://health.clevelandclinic.org/when-and-how-physical-therapy-can-provide-relief-for-your-low-back-pain/

Mayo Clinic. Back pain at work: Preventing pain and injury. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/adult-health/in-depth/back-pain/art-20044526

Mayo Clinic. Back pain: overview. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/back-pain/symptoms-causes/syc-20369906