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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Reduzir o consumo de carboidratos simples melhora sintomas do refluxo

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Colunista de VivaBem

10/11/2022 04h00

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A doença do refluxo gastroesofágico é um problema crônico decorrente do fluxo de parte do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, o que gera uma variedade de sintomas. Os desconfortos clássicos são pirose (queimação) e a regurgitação.

Fisiologicamente, o esfíncter esofagiano inferior (EEI) é um músculo mantido em estado de contração constante, o que evita essa translocação do conteúdo gástrico para o esôfago. Mas o tônus desse músculo pode ser diretamente influenciado por vários fatores, como hormônios, anatomia e hábitos alimentares.

Um estudo publicado nesse ano no The American Journal of Gastroenterology mostra que pessoas com refluxo ácido crônico podem encontrar algum alívio dos sintomas reduzindo o consumo de carboidratos simples (açúcar, doces, pão branco, macarrão, biscoitos etc.).

O trabalho foi o primeiro a avaliar o impacto dos carboidratos no refluxo gastresofágico por meio de um estudo controlado randomizado. Os resultados sugeriram que reduzir a ingestão do nutriente pode reduzir a frequência e a gravidade da azia e outros sintomas.

Os pesquisadores observaram que em uma alimentação típica, a ingestão de carboidratos simples é extremamente alta —uma média de 140 gramas por dia. Os participantes do estudo que viram uma melhora significativa em seus sintomas de refluxo reduziram a ingestão de carboidratos simples em cerca de 62 gramas por dia.

Carboidratos simples versus complexos

Os carboidratos simples, compostos principalmente de açúcares, podem aumentar rapidamente o nível de açúcar no sangue (glicemia) e carecem de fibras ou outras vitaminas e minerais que podem ajudar na digestão. Alimentos como arroz branco, macarrão, pão branco, açúcar e biscoitos são fontes de carboidratos simples (chamados por muitos de "ruins").

Fonte de energia imediata, o nutriente é absorvido rapidamente pelo organismo e, consequentemente, aumenta a taxa de glicose (açúcar) no sangue. Quando você começa a comer, o cérebro demora cerca de 20 minutos para "entender" a sensação de saciedade —que ocorre com a ação dos hormônios leptina e grelina, além de ações periférica e sistêmica. Por esse motivo, como o processo de absorção dos carboidratos simples ocorre de forma muito rápida, é normal que você tenha a sensação de fome pouco tempo após a refeição, o que o faz comer mais e mais.

O ideal é sempre preferir os carboidratos complexos ("bons"), que estão em grãos integrais (aveia, trigo), algumas frutas, algumas leguminosas (feijão, lentilha) e algumas raízes (batata-doce, mandioquinha). O nutriente é digerido lentamente pelo organismo, aumentando de forma gradual e lenta a glicemia. Assim, você se sente saciado por mais tempo.

Por conterem uma quantidade maior de fibras, vitaminas e minerais, os carboidratos complexos são mais nutritivos do que os simples, e aliados da prática de exercícios e do emagrecimento.

Cuidados com a alimentação

Quem tem refluxo deve evitar alimentos que podem retardar (muito gordurosos, por exemplo) a digestão e reduzir a pressão no esfíncter esofágico. Para isso, o mais importante é se concentrar no tamanho da porção e no horário da refeição do que cortar toda a lista de possíveis alimentos.

Refeições volumosas levam mais tempo para serem digeridas e colocam mais pressão no LES, portanto, são mais propensas a causar refluxo. Porções pequenas podem ajudar a movimentar os alimentos do estômago para o intestino delgado mais rapidamente.

Comer muito tarde também pode piorar os sintomas porque você pode se deitar em uma posição que provoca refluxo antes que sua refeição seja totalmente digerida. Por isso, tente parar de comer pelo menos duas horas antes de dormir.

Veja outros cuidados importantes:

- Evite alimentos gordurosos, como frituras, manteiga e margarina. O consumo destes alimentos se relaciona à piora dos sintomas. Refeições ricas em gorduras podem levar à diminuição da pressão do esfíncter esofagiano inferior, aumento na frequência do relaxamento transitório e retardo do esvaziamento do estômago.

- Prefira carnes magras, como maminha, filé-mignon, patinho e evite aqueles cortes com gordura aparente (cupim, picanha, contra-filé). Reduza também o consumo de embutidos e carnes processadas, como salsicha, linguiça, bacon, hambúrguer industrializado.

- Evite frutas cítricas (laranja, limão, abacaxi e acerola) quando estiver com lesões na mucosa do esôfago.

- Evite o consumo de café, chás (preto, mate) e chocolates: alguns compostos presentes nestes alimentos e bebidas estimulam a produção de suco gástrico, podendo intensificar o refluxo.

- Não tome bebidas alcoólicas: o álcool é uma substância irritante para a mucosa gástrica e potencializa o refluxo. Estudo de metanálise relatou correlação positiva entre uso de álcool e sintomas de refluxo gastroesofágico.

- Não consuma líquidos nas refeições principais: isso provoca expansão gástrica, o que pode estar envolvido na maior chance de refluxo gastroesofágico. As bebidas gaseificadas, como os refrigerantes e água com gás, podem alterar a pressão intra-abdominal e promover o relaxamento do esfíncter esofágico inferior.