Por que pessoas que fazem exercícios iguais podem ter resultados diferentes

É cada vez mais comum as pessoas seguirem treinos de influenciadores ou que encontram na internet (porque são legais ou prometem resultados infalíveis). Porém, ao fazer isso, esquecemos de um princípio básico, o da individualidade biológica.

Na faculdade de educação física, uma professora sempre dizia nas aulas: "Gente, treino não é receita de bolo! Não existe uma abordagem única". Cada indivíduo tem as suas especificidades. É por isso que duas pessoas podem realizar os mesmos exercícios e ter resultados bem diferentes.

Isso ocorre principalmente porque carga e intensidade, duas variáveis importantes no treinamento, são individuais e estão relacionadas com o nível de condicionamento de cada um. Correr por 30 minutos a 10 km/h na esteira pode ser um ritmo leve para mim, mas muito forte para você. Da mesma forma, uma carga de 60 kg no supino é elevada para mim, mas moderada para outras pessoas.

Diversos estudos mostram que alguns participantes melhoram muito e outros não melhoram nada usando o mesmo programa de treinamento. Pode ser frustrante para quem se esforça e não vê os resultados que deseja, mas podemos aprender com as pesquisas nessa área para garantir que todos obtenham os benefícios do exercício.

Em um estudo de 24 semanas, 120 participantes realizaram caminhada cinco vezes por semana. Eles foram divididos em três grupos aleatoriamente, que fizeram o exercício em diferentes intensidades. Ao olharmos os indivíduos do mesmo grupo, alguns participantes melhoram o condicionamento, outros nem tanto. Em um dos grupos, o indivíduo menos responsivo ao treino melhorou apenas 7%, enquanto o melhor respondente melhorou 118%.

Se essa diferença ocorre dentro de um estudo minimamente controlado, com os mesmos estímulos e abordagem dentro de cada grupo, como podemos ter o mesmo resultado de uma pessoa da internet ou de um coleguinha da academia?

Além da carga e da intensidade, fatores como sono, estresse e nutrição podem afetar a forma como alguém responde a um programa de exercícios. Condições genéticas certamente também desempenham um papel importantíssimo, sendo que cerca de 50% da resposta ao exercício aeróbico é resultado de diferenças genéticas.

Portanto, busque orientação de um profissional de educação física, que irá elaborar um programa de exercícios adequado para seu nível de condicionamento físico e objetivo. Tenha em mente que a consistência é, provavelmente. o fator mais importante para alcançar resultados. Concentre-se em estabelecer metas pequenas e atingíveis e criar hábitos de exercícios sustentáveis antes de se preocupar com qualquer um dos detalhes do programa que está fazendo.

Algumas dicas importantes para o resultado no treino:

• Tenha uma boa alimentação, seja ativo durante o dia, beba bastante água, durma bem e busque estratégias para controlar o estresse.
• Sente que o treino que está fazendo não funciona? Avalie a execução e velocidade dos movimentos e o tempo de intervalo entre as séries, com ajuda de um profissional.
• Se estiver realizando o mesmo treino há muito tempo e parou de ter resultados, mude os estímulos como número de repetições, carga, tempo de intervalo --ou troque os exercícios.
• Observe se está melhorando outros fatores de saúde e não só o que estava almejando. Muitas vezes, focamos tanto em um só fato (como emagrecer) e esquecemos de todo o resto. O exercício fornece uma gama de benefícios diferentes e vitais --muda a composição corporal, diminui o risco de muitas doenças, melhora o desempenho, a função cerebral, o humor e muito mais. E todos esses fatores, com certeza, serão pilares essenciais para o seu resultado final.
• Não se compare aos outros. Deve estar evidente agora que só porque seu amigo obteve ótimos resultados seguindo um determinado programa, não significa que você também terá. Concentre-se no seu progresso, não no de outra pessoa.
• Se você não tiver os resultados desejados, continue tentando. Se você ainda não tiver resultados, tente algo diferente. Mas tenha sempre em mente que a ciência é clara, todos melhoram de alguma forma.
• Mantenha a constância, ela trará benefícios significativos.

REFERÊNCIAS

Sociedade Brasileira de Diabetes. Não respondedores ao exercício físico: determinismo genético, erro de prescrição, má adesão ou simplesmente terminologia inadequada? Disponível em: https://diabetes.org.br/nao-respondedores-ao-exercicio-fisico-determinismo-genetico-erro-de-prescricao-ma-adesao-ou-simplesmente-terminologia-inadequada-2/

Tanaka H. Exercise nonresponders: genetic curse, poor compliance or improper prescription ? Exerc Sport Sci Rev 2018;46(3):137

Skinner JS, Jaskólski A, Jaskólska A et al. Age, sex, race, initial fitness and response to training: the HERITAGE Family Study. J Appl Physiol (1985) 2001;90(5):1770-6

Bouchard C, An P, Rice T et al. Familial aggregation of VO2max response to exercise training: results from the HERITAGE Family Study. J Appl Physiol (1985) 1999;87(3):1003-8

Shiba CK, Dâmaso AR, Rhein SO, Machado PP, Masquio DCL, Oyama LM, Lombardi JAB, Duca LL, Tock L, Oliveira GI, Campos RMDS. Interdisciplinary therapy had positive effects on inflammatory state, mediated by leptin, adiponectin, and quality of diet in obese women. Nutr Hosp. 2020 Jul 13;34(3):456-464. English. doi: 10.20960/nh.02777. PMID: 32207312

Dâmaso AR, Machado PP, Rhein SO, Masquio DCL, Oyama LM, Boldarine VT, de Oliveira GI, Tock L, Thivel D, da Silveira Campos RM. Effects of an interdisciplinary weight loss program on fibroblast growth factor 21 and inflammatory biomarkers in women with overweight and obesity. Arch Endocrinol Metab. 2021 Nov 24;65(6):821-831. doi: 10.20945/2359-3997000000419. Epub 2021 Nov 11. PMID: 34762789

Pickering C, Kiely J. Do Non-Responders to Exercise Exist-and If So, What Should We Do About Them? Sports Med. 2019 Jan;49(1):1-7. doi: 10.1007/s40279-018-01041-1. PMID: 30560423; PMCID: PMC6349783

Ross R, de Lannoy L, Stotz PJ. Separate Effects of Intensity and Amount of Exercise on Interindividual Cardiorespiratory Fitness Response. Mayo Clin Proc. 2015 Nov;90(11):1506-14. doi: 10.1016/j.mayocp.2015.07.024. Epub 2015 Oct 9. PMID: 26455890

Gurd BJ, Giles MD, Bonafiglia JT, Raleigh JP, Boyd JC, Ma JK, Zelt JG, Scribbans TD. Incidence of nonresponse and individual patterns of response following sprint interval training. Appl Physiol Nutr Metab. 2016 Mar;41(3):229-34. doi: 10.1139/apnm-2015-0449. Epub 2015 Nov 3. PMID: 26854820

Hubal MJ, Gordish-Dressman H, Thompson PD, Price TB, Hoffman EP, Angelopoulos TJ, Gordon PM, Moyna NM, Pescatello LS, Visich PS, Zoeller RF, Seip RL, Clarkson PM. Variability in muscle size and strength gain after unilateral resistance training. Med Sci Sports Exerc. 2005 Jun;37(6):964-72. PMID: 15947721

Gardner CD, Trepanowski JF, Del Gobbo LC, Hauser ME, Rigdon J, Ioannidis JPA, Desai M, King AC. Effect of Low-Fat vs Low-Carbohydrate Diet on 12-Month Weight Loss in Overweight Adults and the Association With Genotype Pattern or Insulin Secretion: The DIETFITS Randomized Clinical Trial. JAMA. 2018 Feb 20;319(7):667-679. doi: 10.1001/jama.2018.0245. Erratum in: JAMA. 2018 Apr 3;319(13):1386. Erratum in: JAMA. 2018 Apr 24;319(16):1728. PMID: 29466592; PMCID: PMC5839290

Ross R, Goodpaster BH, Koch LG, Sarzynski MA, Kohrt WM, Johannsen NM, Skinner JS, Castro A, Irving BA, Noland RC, Sparks LM, Spielmann G, Day AG, Pitsch W, Hopkins WG, Bouchard C. Precision exercise medicine: understanding exercise response variability. Br J Sports Med. 2019 Sep;53(18):1141-1153. doi: 10.1136/bjsports-2018-100328. Epub 2019 Mar 12. PMID: 30862704; PMCID: PMC6818669

Montero D, Lundby C. Refuting the myth of non-response to exercise training: 'non-responders' do respond to higher dose of training. J Physiol. 2017 Jun 1;595(11):3377-3387. doi: 10.1113/JP273480. Epub 2017 May 14. Erratum in: J Physiol. 2018 Apr 1;596(7):1311. PMID: 28133739; PMCID: PMC5451738

Bonafiglia JT, Rotundo MP, Whittall JP, Scribbans TD, Graham RB, Gurd BJ. Inter-Individual Variability in the Adaptive Responses to Endurance and Sprint Interval Training: A Randomized Crossover Study. PLoS One. 2016 Dec 9;11(12):e0167790. doi: 10.1371/journal.pone.0167790. PMID: 27936084; PMCID: PMC5147982

Beaven CM, Cook CJ, Gill ND. Significant strength gains observed in rugby players after specific resistance exercise protocols based on individual salivary testosterone responses. J Strength Cond Res. 2008 Mar;22(2):419-25. doi: 10.1519/JSC.0b013e31816357d4. PMID: 18550956

Scharhag-Rosenberger F, Walitzek S, Kindermann W, Meyer T. Differences in adaptations to 1 year of aerobic endurance training: individual patterns of nonresponse. Scand J Med Sci Sports. 2012 Feb;22(1):113-8. doi: 10.1111/j.1600-0838.2010.01139.x. Epub 2010 Jun 18. PMID: 20561283