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Paulo Chaccur

Como o estresse afeta a saúde do coração?

Emoções desse tipo podem ativar fatores de risco cardiovasculares - iStock
Emoções desse tipo podem ativar fatores de risco cardiovasculares Imagem: iStock

Colunista do UOL

09/12/2018 04h00

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"Nos seres humanos, grande determinante do potencial nocivo do estresse é um estado interior de insatisfação consigo mesmo e com a vida. Ao contrário do que ocorre com os animais, portanto, o que hoje nos ameaça a vida e a saúde não são, como regra, os perigos que vêm de fora, e sim aqueles que trazemos dentro de nós mesmos."

As palavras acima não foram ditas por mim, embora concorde com todas elas. O parágrafo entre aspas é um trecho extraído do livro "Quem Ama não Adoece" (Editora Best Seller), de Marco Aurélio Dias da Silva (1949-2001). Entender a relação entre estresse e o estado de saúde das pessoas é essencial, especialmente em dias desgastantes como os que tendemos a viver.

Mas o estresse nem sempre é vilão. Quando esse estado de perturbação ocorre por um episódio isolado ou um evento qualquer, como uma preocupação, de certa forma não traz nenhum prejuízo. Pelo contrário, ele ajuda o organismo a reagir e poder, do ponto de vista mental, tomar uma atitude. Já na parte física, ajuda a melhorar as defesas do corpo naquela situação específica.
 
O grande problema é quando essa situação permanece de forma crônica, como a pessoa que não está bem adaptada ao trabalho ou que tenha um problema familiar por longo período. Então, no dia a dia, a consideramos um indivíduo estressado. E isso faz com que haja uma constante liberação de hormônios que trazem vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos sanguíneos); as artérias vão diminuindo o seu potencial de adaptação e, com isso, surge aumento da pressão arterial e elevação dos batimentos cardíacos

Pode ocorrer, em função dessa situação, aumento do apetite, e a pessoa adquirir obesidade, com aumento do nível de colesterol, tudo isso acarretando problemas sérios, principalmente se o indivíduo possuir tendência à doença cardiovascular de base.

Reduzir estressar para viver melhor

Muito se fala sobre formas para diminuir o estresse da mente e do corpo, sobre como fazer um relaxamento. Nesse momento, a atividade física surge como um fator muito importante. O exercício acaba trazendo a liberação de substâncias no organismo que trazem bem-estar e geram efeitos contrários aos que promoveriam a vasoconstrição, por exemplo. O exercício acaba trazendo uma neutralização dessa situação e sensação de boa disposição ao indivíduo.

O exercício realizado de forma continuada leva à perda de peso, aumento da massa muscular e diminuição da gordura corporal, podendo reduzir o colesterol ruim (LDL) e aumentar o colesterol bom (HDL). Todos esses fatores somados proporcionam proteção ao coração e diminuição do risco da doença cardiovascular, como a angina.

O estresse diário é, sim, um fator de risco. Acaba mexendo muito com o psiquismo e a pessoa naturalmente procura outras formas de compensação. E, às vezes, por exemplo, com o aumento do apetite, o que traz como consequência o ganho de peso. Esse seria até mesmo um fator de perpetuação do estresse. O indivíduo começa a notar o aumento de peso e, por não gostar dessa situação, eleva também o estresse, entrando num círculo vicioso. Esse ganho de peso, no entanto, nem sempre irá refletir em problema cardiovascular. Mas o diabetes pode surgir: com a ingestão de alimentos que elevam o teor de açúcar no sangue pode ocorrer o desenvolvendo o diabetes tipo 2, quando o corpo não produz adequadamente ou cria resistência à insulina.

O estresse realmente traz a liberação do cortisol e da adrenalina pelas glândulas suprarrenais (extensão do sistema nervoso). Isso é o que leva ao aumento da frequência cardíaca e do tônus vascular. Como consequência, aumento da pressão arterial, palidez cutânea em função da vasoconstrição, e extremidades às vezes mais frias, com a presença de um pouco de suor nas mãos. Tudo ocorre em função da liberação do cortisol e da adrenalina pelo estresse diário e contínuo.

Dois lados do estresse

O estresse ruim é aquele constante, em que o indivíduo realiza seu trabalho de forma deprimida, uma vez que não está na posição em que gostaria ou caso o relacionamento com os colegas de trabalho não esteja agradável. Estes são exemplos do que é ruim ao coração. Em relação ao estresse bom, o da conquista de algo positivo, este realmente gera uma motivação pessoal muito grande. Essas sensações de bem-estar por trabalho executado, resultado de uma pesquisa, qualquer alegria nesse sentido traz realmente uma sensação muito boa. É semelhante àquela da endorfina, liberada pelo exercício.

As situações de estresse constante são aquelas que persistem por um período mais longo, refletindo em sintomas físicos, como palpitações e a pressão arterial aumentada. Muitos começam a ter cefaleia em função desse aumento da pressão, às vezes com algum desconforto torácico associado. Além destes, outros sintomas podem surgir e é o momento em que o indivíduo precisa fazer uma pausa: realizar uma avaliação cardiológica e, ao mesmo tempo, conversar com um terapeuta para interromper esse processo bastante deletério ao organismo e ao coração.

Em alguns casos, é necessário não apenas uma avaliação psicológica, mas psiquiátrica. Surge a importância de atuação de uma equipe multidisciplinar, principalmente quando envolve o aparecimento de diabetes e uma obesidade a ser controlada. São situações que, com certeza, acabam se revelando em função desse desequilíbrio físico e mental.

Para cada pessoa, possivelmente, existirá uma forma de ajuste do estresse. Pode ser o exercício, uma leitura, uma reunião entre amigos, algo que permita ao indivíduo não ficar mentalizando o problema. Não ficar remoendo insatisfações, que é algo importante. Tudo isso permite neutralizar essa situação que está ameaçando a saúde como um todo. As técnicas de relaxamento, como ioga, práticas deste tipo, podem contribuir, sim, para um ajuste e uma melhora da situação, diminuindo os níveis de estresse e trazendo tranquilidade ao coração.

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