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Paulo Chaccur

Trocou o cigarro normal pelo eletrônico? O seu coração continua em risco!

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

27/10/2019 04h00

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Eles chegaram devagarinho, foram ganhando adeptos e pouco a pouco se popularizaram. Os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vape, e-cigarro, e-cig ou e-cigarette, já não são mais uma novidade no Brasil. Basta dar uma olhada ao seu redor que logo você encontrará alguém fumando com um desses dispositivos.

Sem a fumaça característica do cigarro convencional por não funcionar a partir da combustão de substâncias, os cigarros eletrônicos chegaram ao mercado como uma alternativa "mais saudável" ao consumo de nicotina e até como um aliado para aqueles que desejam parar de fumar. Seu uso é relativamente simples: alimentado por uma bateria recarregável, basta que o usuário puxe o ar pelo cartucho para ativar um atomizador que aquece e vaporiza o líquido que está em seu refil, permitindo que a substância seja aspirada.

Um dos seus principais apelos é oferecer a nicotina sem os outros compostos prejudiciais à saúde que existem nos cigarros comuns, entre eles o alcatrão (uma mistura complexa de vários compostos maléficos à saúde) e o monóxido de carbono (gás originado da queima de inúmeras substâncias responsáveis por encadear asfixia e estar relacionado à doenças cardiovasculares, respiratórias e cancerígenas).

Assim, não demorou muito e os e-cigs caíram nas graças, principalmente, de um público jovem, por seu aspecto moderno, inovador, por não deixar cheiro ou mau hálito e ainda oferecer essências com sabores diversificados. Para se ter ideia, no Brasil, um estudo do Programa Nacional de Tabagismo do SUS aponta que 30% dos usuários menores de 30 anos já experimentaram o cigarro eletrônico. E como fica a saúde?

Que os e-cig causam problemas, já se sabe, mas quais são eles?

Apesar de já estarem disponíveis para venda há mais de 15 anos (os primeiros produtos comercializados foram em 2003, criados por um farmacêutico chinês), os prejuízos que o uso desses aparelhos causam à saúde ainda não foram completamente revelados. Isso porque estamos falando de um produto com grande variedade de tipos e compostos químicos. Além disso, o resultado de estudos e pesquisas e até alguns de seus efeitos ao corpo só estão sendo descobertos com o passar dos anos.

Não há dúvidas, porém, de que os cigarros eletrônicos contêm menos substâncias que fazem mal à saúde do que os cigarros convencionais. O problema está nos efeitos — ainda desconhecidos — que se manifestam em longo prazo, com o uso recorrente do dispositivo.

Pesquisadores já descobriram, por exemplo, que o vape pode causar prejuízos sérios aos pulmões. Outros problemas e riscos constatados são: convulsões, baterias que podem explodir e até casos de mortes. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) já confirmou1.604 casos de doenças respiratórias graves associadas ao hábito, além de 34 mortes. No Brasil, nenhum caso foi registrado até agora, mas fica o alerta. A doença recebeu o nome de Evali e ainda está sendo mapeada para saber como se instala no corpo.

Problemas para o coração

Uma pesquisa americana, realizada na Escola de Medicina do Kansas, aponta que fumantes de e-cigarros possuem risco 56% maior de ter um ataque cardíaco em comparação com não fumantes. O risco de um AVC (acidente vascular cerebral) é cerca de 30% maior. Depressão, transtornos de ansiedade e emocionais são cerca de duas vezes mais comuns do que em não fumantes.

Já um estudo da faculdade de medicina da Universidade de Nova York, que foi publicado nos anais da Academia Americana de Ciência (PNAS), revela que o cigarro eletrônico pode aumentar o risco de vários tipos de câncer e outras doenças, inclusive cardiovasculares. O trabalho, realizado em ratos e células humanas, sugere que o vapor da nicotina é mais nocivo do que se pensava.

Os roedores foram expostos durante 12 semanas ao vapor de nicotina equivalente em dose e duração a dez anos para os humanos. Ao fim do experimento, os cientistas constataram danos no DNA das células de pulmões, bexiga e coração desses animais, assim como uma redução do nível de proteínas de reparação das células nesses órgãos. Embora os cigarros eletrônicos contenham menos substâncias cancerígenas que os convencionais, o vapor poderia representar um risco maior para contrair um câncer pulmonar ou de bexiga e também desenvolver doenças cardíacas.

Além disso, com as pesquisas que estão sendo realizadas mundialmente ao longo dos últimos anos, sabe-se que os cigarros eletrônicos que satisfazem os fumantes são os que contêm alta concentração de nicotina e que o consumo dessa substância por esses dispositivos pode ser igual ou até maior do que no cigarro comum.

No coração, a nicotina causa o estreitamento e enrijecimento das artérias. Outro ponto desfavorável: seu consumo regular provoca um espessamento do sangue, aumentando a chance de obstrução das artérias e, consequentemente, de um infarto.

Os levantamentos recentes revelam ainda que o cigarro eletrônico pode elevar a frequência cardíaca e a pressão sanguínea, além do risco maior de formação de placas nas paredes das artérias, o que pode levar a um ataque cardíaco ou derrame.

E o problema não está só na nicotina! Os aromas dos líquidos utilizados nos cigarros eletrônicos são capazes de danificar os vasos sanguíneos da mesma maneira que as doenças cardíacas. Os produtos químicos usados para dar sabores ao vapor também podem causar inflamação nas células das artérias, veias e coração.

Comercialização no Brasil

Apesar de ser considerado menos prejudicial do que o cigarro tradicional, o eletrônico está longe de ser classificado como seguro para a saúde, até porque ainda é um dispositivo para administração de nicotina. De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), do Ministério da Saúde, a essência utilizada nesses aparelhos é composta por saborizadores e nicotina líquida, disponível nas concentrações que variam entre zero e 36 mg/ml — ou até mais em alguns casos.

E aqui surgem outros pontos polêmicos: os cigarros eletrônicos, mesmo sem nicotina, apenas com refis de sabores, não seriam uma porta de entrada dos não fumantes ao tabagismo? E quais riscos essas substâncias, quando aspiradas, podem trazer em longo prazo ao organismo? O fato é que seguimos em busca de muitas respostas.

Hoje, no Brasil, os e-cigs são oficialmente proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O órgão justifica o veto, em vigor desde 2009, afirmando que ainda não é possível determinar todos os seus riscos e consequências. Ainda sim, eles podem ser facilmente comprados pela internet em sites brasileiros e internacionais. Fica a reflexão: será mesmo que vale o risco?