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Diabetes fora de controle: como isso afeta a saúde cardiovascular?
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Uma das condições crônicas mais comuns em todo o mundo, o diabetes é uma doença silenciosa, que sem o controle e tratamento adequados pode acarretar em uma série de problemas e danos à saúde, entre doenças cardíacas, cegueira, doenças renais, amputações e até a morte. O diabetes também é uma condição pré-existente que aumenta o risco de infecções oportunistas, como a Covid-19. Por isso, necessita de atenção e cuidados.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), nas Américas, cerca de 60 milhões de pessoas têm diabetes (principalmente do tipo 2) e a cada ano mais de 340 mil morrem na região de complicações relacionadas à doença. No Brasil, a estimativa é que hoje aproximadamente 13 milhões de pessoas sejam diabéticas. E esse número está crescendo. Segundo a OPAS, a previsão é que em 2040 mais de 100 milhões de adultos vão ter a doença nos países das Américas.
Diabetes: o que é?
Para entendermos a gravidade, primeiro é preciso esclarecer sobre o que estamos falando. Diabetes é uma doença crônica, uma condição em que o corpo não fabrica insulina (hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue) ou não consegue utilizar adequadamente a insulina que produz. O nível de glicose no sangue então fica alto, o que chamamos de hiperglicemia.
O responsável pela regulação da insulina é o pâncreas. Em condições normais, quando o nível de glicose no sangue sobe, células especiais (chamadas de células beta) liberam a insulina. Desta forma, de acordo com as necessidades do organismo no momento, a glicose é utilizada como combustível para as atividades do corpo ou fica armazenada como reserva, em forma de gordura. Esse controle mantém em níveis normais a glicose (ou taxa de glicemia) no sangue.
Entre os tipos mais comuns de diabetes estão o 1 e o 2. O primeiro é causado pela perda da capacidade do pâncreas em produzir insulina suficiente. Quando o hormônio está em falta, permite que a glicose fique presa na corrente sanguínea ao invés de ser usada como energia. O tipo 1 é caracterizado por ser autoimune e genético (o paciente sofre uma mutação nos genes). Geralmente, aparece na infância ou adolescência.
Já o tipo 2 é frequentemente adquirido com o passar dos anos, já na fase adulta - pode ser desencadeado por hábitos e estilo de vida. Nesses casos, as células adiposas e musculares não conseguem aproveitar completamente o hormônio liberado pelo pâncreas e a glicose passa a ser utilizada de modo ineficaz pelo organismo. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o tipo 2. E aqui está o maior perigo para os problemas cardiovasculares.
O diabetes tipo 2 não apenas potencializa as chances de complicações cardíacas como geralmente vem associado aos principais fatores de risco para as doenças que acometem o coração, como obesidade, pressão e colesterol altos.
Diabetes e o coração
Com níveis elevados de glicose no sangue, várias alterações que interferem no sistema cardiovascular podem acontecer. Para começar, o nível de colesterol aumenta, formando um número maior de placas de gordura nas artérias coronárias, que correm o risco de serem obstruídas. Além disso, a quantidade excessiva de glicose no sangue favorece a produção de coágulos, que também podem bloquear as coronárias - artérias que são as responsáveis por irrigar o coração.
O problema é que para manter-se em pleno funcionamento, o músculo cardíaco necessita de uma demanda constante de sangue. A obstrução (parcial ou total) das artérias coronárias tem como consequência complicações ou o surgimento de fatores de risco ou doenças cardíacas.
Entre elas a insuficiência cardíaca (quando o coração não bombeia o sangue como deveria em decorrência da lesão sobre o músculo cardíaco); a hipertensão arterial (aumento da pressão devido as alterações das paredes das artérias, um fator de risco para a doença arterial coronária); aneurisma da aorta (quando a maior artéria do corpo fica enfraquecida, levando a dilatação acentuada deste vaso sanguíneo) e o infarto do miocárdio (a interrupção do fluxo sanguíneo desencadeia o infarto e o processo de necrose da musculatura do coração).
Existe a possibilidade de que o mesmo processo que acontece com as coronárias ocorra em outras artérias do corpo. O resultado pode ser a falta de sangue no cérebro, que provoca o acidente vascular cerebral (AVC), ou a ausência de sangue suficiente nos pés, mãos ou braços, causando a doença vascular periférica.
Perigo extra: a combinação de fatores de risco
Segundo estimativas, sem os cuidados e controle adequados, a probabilidade de um diabético morrer de doenças cardíacas é 2 a 4 vezes maior do que uma pessoa sem a enfermidade. O quadro se agrava se, somada a condição crônica, ainda existir a presença de outros fatores de risco, como obesidade, tabagismo, sedentarismo, estresse, altos níveis de colesterol e pressão arterial. Ou seja, quanto mais fatores associados mais chances de desenvolver doenças cardíacas e até de morrer delas.
Problema silencioso
Como outras condições crônicas, é possível conviver com o diabetes por meses ou mesmo anos até que os sintomas se tornem evidentes ou que as alterações nos níveis de glicose sejam detectadas em um exame de rotina. A demora no diagnóstico, porém, favorece o aparecimento de complicações.
O agravante é que muitos diabéticos acreditam que sem sintomas o problema está sob controle. Da mesma forma, creem que podem continuar a comer o que quiserem, seguir sem praticar atividades físicas e até mesmo descuidar da medicação, podendo aderir a tratamento e cuidados depois, quando o quadro se tornar mais sério.
No entanto, estão equivocados - e muito! A falha no início do tratamento do diabetes a partir do momento do diagnóstico pode ter consequências graves. Muitas vezes os danos causados ao corpo são irreversíveis. Por isso, ter ou não sintomas não deve ser um indicador.
Covid-19 e o automonitoramento
A situação do controle glicêmico é, inclusive, um fator preocupante. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), 90% dos diabéticos tipo 1 e 73% do tipo 2 estão com a doença fora de controle. E uma das principais causas é a falta da automonitorização da glicemia, o que retarda o diagnóstico de desequilíbrio e possíveis medidas para reverter o quadro.
A automonitorização é uma prática essencial para o bom controle da doença. Com a pandemia de Covid-19 isso se tornou ainda mais essencial. A chegada do coronavírus interrompeu a rotina diária de milhões de pessoas nas consultas de acompanhamento e tornou o diabetes ainda mais difícil de controlar. Assim, é importante que os pacientes tenham conhecimento da prática e realizem o seu controle glicêmico.
Cuidados e tratamentos
A melhor maneira de prevenir o surgimento de uma doença cardíaca é então cuidar adequadamente do diabetes, mantendo os níveis de glicose sob controle, seguindo as orientações do seu médico, além de adotar um estilo de vida com hábitos saudáveis. Isso quer dizer: alimentação equilibrada, regular, variada e mais natural (ou seja, com menos industrializados e processados), prática de exercícios físicos rotineiramente, controle da pressão sanguínea e do colesterol, controle de peso, não fumar e reduzir o estresse diário.
Além disso, manter seu check-up em dia. Isso porque quando é detectado em exames de rotina que os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal (o chamado pré-diabetes) é possível monitorar e reverter ou retardar a evolução para o diabetes e suas complicações. O que acontece, no entanto, é que muitos pacientes, ao serem comunicados do pré-diabetes, não enxergam ali uma oportunidade e deixam para iniciar os cuidados apenas quando o problema se agrava.
Já no caso de ter diabetes e também o diagnóstico de doenças cardiovasculares, existem várias opções de tratamento, dependendo da gravidade do problema cardíaco. Tudo isso deve ser avaliado caso a caso. O fato é que as pessoas não morrem de diabetes, mas sim da falta de controle e por consequências da enfermidade. É possível conviver bem com a doença, transformando a condição em mais um motivo para cuidar da saúde.
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