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Infarto nas mulheres pode ocorrer cedo e com sintomas atípicos; saiba mais
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Jovem, sem sintomas e aparentemente saudável. É possível imaginar que uma mulher com essa descrição possa ter riscos de sofrer um ataque cardíaco?
Pois a probabilidade existe e deve ser motivo de atenção. Segundo levantamento da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), no Brasil, as doenças cardiovasculares matam duas vezes mais mulheres que todos os tipos de câncer.
Outro dado a que devemos nos atentar: a cada dez mortes por infarto do miocárdio, seis são entre pessoas do gênero feminino, de acordo com a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia). Os números apontam ainda para o aumento de casos entre as mais novas.
É cada vez mais frequente nos depararmos com mulheres vítimas de um infarto na faixa dos 20, 30 ou 40 anos. E isso vem ocorrendo por diversos fatores: estilo de vida, ausência de sintomas claros e até de conhecimento dos riscos iminentes.
O fato de uma jovem ter em mente que dificilmente irá sofrer um ataque do coração faz com que os sinais ou cuidados sejam negligenciados. Na rotina médica, de modo geral, entram os exames ginecológicos e a mamografia, mas grande parte nunca passou por uma avaliação cardíaca antes de chegar à meia-idade ou à menopausa.
Assim, uma mulher com tendência a problemas cardiovasculares ou a fatores de risco para tal, como diabetes, hipertensão, colesterol alto, obesidade e histórico familiar, acaba não dando a atenção necessária para o risco de um infarto. Quando o evento acontece, muitas vezes, pode ser mais agressivo, e a mortalidade, maior.
Uma doença que pode ser traiçoeira
Para manter o seu funcionamento, o músculo cardíaco necessita de uma demanda constante de sangue. O infarto acontece justamente por um bloqueio parcial ou total dessa circulação sanguínea, principalmente, devido à formação de coágulos e o acúmulo de placas de gordura nas artérias coronárias, responsáveis por irrigar o órgão —o que chamamos de doença arterial coronária (DAC).
Um ponto preocupante é que a DAC pode se desenvolver de forma progressiva e silenciosa, sem apresentar qualquer indício, aumentando os riscos de um ataque fulminante em indivíduos de qualquer idade.
Sintomas atípicos
Quando o ataque cardíaco apresenta sinais, o mais comum —tanto para as mulheres como para os homens— é algum tipo de dor no peito, pressão ou desconforto na região, que dura mais do que alguns minutos ou que vai e vem, geralmente, em curtos intervalos.
Porém, são as mulheres que estão mais propensas a sofrerem infartos sem sintomas ou com sinais atípicos e dores genéricas, como ardência na pele, desconforto no pescoço, rosto e mandíbula, dores no abdome, nas costas e ombros, tontura, desmaio, sudorese, cansaço incomum, indigestão, náuseas e vômitos.
E mesmo quando há a dor torácica, nem sempre ela é severa ou mesmo perceptível. Cenário que acaba, muitas vezes, gerando atraso na busca por um atendimento médico emergencial e o diagnóstico preciso.
Principais causas de infarto entre as mulheres
Os ataques cardíacos nas mulheres jovens estão mais frequentemente associados ao estresse mental, emocional e psicossomático, além de fatores de risco já conhecidos, como sedentarismo, falta de cuidados com a alimentação, automedicação sem limites e má qualidade do sono.
Questões muitas vezes relacionadas à jornada dupla ou tripla que muitas enfrentam no dia a dia. Sem deixar de mencionar vícios e hábitos prejudiciais ao coração, a exemplo do tabagismo e abuso do consumo de álcool e outras drogas.
Tudo isso acaba contribuindo para o surgimento ou agravamento cada vez mais cedo dos fatores tradicionais de risco da doença arterial coronária, tais como níveis altos de colesterol e pressão, diabetes e obesidade. Entre as mais jovens podemos ainda associar as chances de ataque cardíaco ao ovário policístico, menopausa precoce, disfunções de hipertensão na gravidez, diabetes gestacional e parto prematuro.
Problema que poucos conhecem
Outra condição que pode desencadear o ataque cardíaco cedo, especialmente entre o gênero feminino, é a chamada dissecção espontânea de artéria coronária (do inglês SCAD - spontaneous coronary artery dissection).
Pouco conhecida, a SCAD acontece quando uma laceração se forma em uma dessas artérias e também pode retardar ou bloquear o fluxo sanguíneo para o coração, causando o ataque cardíaco, anormalidades no ritmo dos batimentos ou até a morte súbita.
Pesquisas da Associação Americana de Cardiologia apontam que essa síndrome coronariana aguda é responsável por 35% dos infartos em mulheres com menos de 50 anos. A condição é mais comum entre a faixa de 30 a 60 anos, mas, como relatado em publicações recentes, também atinge mulheres jovens e saudáveis já a partir dos 22 anos (em média) e sem fatores de risco anteriores para doenças cardiovasculares.
Nota-se ainda um aumento da probabilidade de SCAD entre aquelas que tiveram um parto há pouco tempo, apresentam condições subjacentes dos vasos sanguíneos (como a displasia fibromuscular, quadro que causa o crescimento irregular de células nas paredes das artérias), doenças do tecido conjuntivo hereditário (entre elas a síndrome de Ehlers-Danlos vascular e a síndrome de Marfan) e pressão arterial elevada.
Infarto em jovens é mais grave e fatal?
Você já deve ter ouvido a pergunta acima algumas vezes. Toda essa história tem opiniões diversas e não é tão simples. O que muitos afirmam é que com o tempo o coração se prepara melhor para futuros problemas.
Em resumo, a questão gira em torno do que chamamos de circulação colateral, ou seja, uma rede de vasos sanguíneos que se desenvolvem ao redor do músculo cardíaco com o passar dos anos ou por aqueles que já enfrentaram um infarto ao longo da vida.
Uma espécie de proteção natural, uma via alternativa caso uma artéria seja obstruída, garantindo que o sangue chegue ao músculo cardíaco. Desta forma, mesmo que jovens tenham mais força física para suportar um ataque cardíaco, o problema entre os mais velhos seria menos intenso e mais lento por conta da compensação.
O que vem se estudando, no entanto, é que a circulação colateral pode, sim, ser decisiva para o desfecho de um infarto, mas a idade não teria influência sobre esse fenômeno, uma vez que há indícios que ela não seja maior ou menor no jovem, mas, sim, determinada geneticamente.
Porém, no caso das mulheres, há mais um detalhe que pode interferir em relação à gravidade: o calibre das artérias. Nelas, esses vasos são, de modo geral, mais finos do que nos homens. Quando obstruídas, a tendência é de apresentarem consequências mais perigosas.
Cuidados durante toda a vida
Quando falamos das mulheres, é importante reforçarmos a necessidade da ampliação de uma representatividade feminina em estudos clínicos e pesquisas. A iniciativa pode nos ajudar a obter mais dados e estabelecer melhores diagnósticos e tratamentos para as doenças do coração voltados e mais direcionados as características e necessidades desse público.
Além disso, vale ressaltar que aquela ideia de que a atenção aos riscos de infarto deve ser iniciada após os 40 ou 50 anos é coisa do passado. Não há idade de risco para um ataque cardíaco. Os cuidados devem se estender durante toda a vida.
Por isso, muito além do que buscar ajuda quando algum sinal aparecer (se aparecer!), é importante investir na prevenção e manter em dia o check-up cardiológico, mesmo na ausência de sintomas.
Muitos fatores podem ser controlados com acompanhamento médico, mudanças de hábitos e estilo de vida, reduzindo os riscos de infarto e outras doenças cardíacas ao longo da nossa trajetória. Nunca é cedo demais para adotar comportamentos saudáveis para o coração.
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