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Paulo Chaccur

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Existe relação entre as pedras nos rins e as doenças cardiovasculares?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

05/06/2022 04h00

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Para começarmos a falar do assunto, é importante deixar claro: as pedras nos rins especificamente não causam doenças cardiovasculares. Porém, existe, sim, relação entre as duas questões. Também chamadas de cálculos renais, nefrolitíase, urolitíase ou ureterolitíase, elas são resultado do acúmulo dos resíduos que os rins filtram da urina, como cálcio, oxalato, urato, cistina, xantina e fosfato.

De modo geral, essas substâncias saem naturalmente do corpo. No entanto, quando muito concentradas na urina, se cristalizam e formam uma massa sólida, que pode atingir qualquer parte do trato urinário —rins, ureteres, bexiga ou uretra. Não há somente um tipo, tamanho ou formato, as pedras variam em sua composição e características.

Alimentação, excesso de peso, suplementos, medicamentos e certas condições médicas estão entre as muitas causas do surgimento dos cálculos renais. Doença de Crohn, bypass gástrico, doença inflamatória intestinal, hiperparatireoidismo, gota e diabetes são alguns exemplos de condições que têm sido associadas ao aumento do risco de pedras nos rins.

Quem já enfrentou uma crise renal deve ter o momento marcado na memória. A passagem dos cálculos pode ser bastante dolorosa. Entretanto, geralmente não causam danos permanentes se forem descobertos em tempo hábil para intervenção e tratamento.

E qual a ligação das pedras nos rins com as doenças cardíacas?

O principal ponto é que ambos podem ter uma origem em comum: quando o metabolismo do cálcio no organismo é alterado, o excesso da substância tem potencial para provocar as pedras bem como endurecer veias e artérias, o que tem como possível consequência um evento cardiovascular, como infarto ou AVC (acidente vascular cerebral).

Estudos apontam que indivíduos que apresentam cálculos renais recorrentes também podem ter altos níveis de depósitos de cálcio em seus vasos sanguíneos. No entanto, não é só isso.

Embora cada órgão do corpo tenha um trabalho específico, eles dependem um do outro para que tudo siga em pleno funcionamento. Ou seja, quando um não desempenha seu papel da maneira como deveria, pode gerar estresse em outros, fazendo com que deixem de atuar satisfatoriamente. Assim, se os rins não funcionam bem, mais estresse é gerado ao coração.

Como as doenças renais interferem na saúde cardíaca

Quando alguém tem doença renal crônica, isto é, quando os rins não conseguem filtrar toxinas e resíduos do sangue tão bem quanto seria necessário, o coração pode acabar sobrecarregado, especialmente porque vai precisar bombear mais sangue para os rins.

Nesses casos, é possível que a pressão arterial também sofra alterações. Se o cenário se mantém ou ocorre com frequência, pode desencadear doenças cardíacas.

Pesquisas apontam que a doença renal crônica ou a doença renal terminal são capazes de dobrar o risco de fibrilação atrial, tremores ou batimentos cardíacos irregulares que levam a um quadro de insuficiência cardíaca ou AVC. A probabilidade também é maior do surgimento da doença arterial coronária e, por consequência, do infarto do miocárdio.

Além disso, cálculos renais não tratados chegam até a insuficiência renal e a necessidade de transplante ou diálise (tratamento que remove artificialmente os resíduos e excesso de fluidos do sangue). E embora seja necessária por causa dos rins, a doença cardíaca é uma das principais causas de morte em pacientes em diálise —como explicado, quando os rins não funcionam corretamente, o coração tem que trabalhar mais para fazer o sangue circular, levando à pressão alta e outras consequências já mencionadas.

O coração também afeta os rins?

Sim, o oposto é uma realidade: problemas no coração têm efeitos negativos para os rins. Pacientes com insuficiência cardíaca ou que sofreram um infarto do miocárdio podem desenvolver complicações renais, seja uma lesão renal aguda ou doença renal crônica. Isso porque, como apontado, mudanças na função cardíaca são capazes de diminuir o suprimento de sangue para os rins.

No caso de um infarto do miocárdio, é possível ainda que uma série de outros fatores contribua para um declínio subsequente da função renal. Medicamentos administrados após o infarto são um deles. O estresse de um ataque cardíaco também pode, por exemplo, resultar em mudanças hormonais, e isso ter efeito negativo sobre o funcionamento dos rins.

O quadro se agrava quando o indivíduo apresenta tudo simultaneamente. Para ilustrar, seria o caso de uma pessoa que já tem doença renal crônica ou problema relacionado aos rins somado ao diabetes ou pressão alta, e enfrenta um infarto ou insuficiência cardíaca aguda. Circunstância em que a incidência de lesão renal após um evento cardiovascular é substancialmente maior e a possibilidade de recuperação bem mais baixa.

Pacientes em situação assim têm riscos elevadas para o desenvolvimento da doença renal crônica; progressão de uma doença renal crônica existente a um ponto que requer diálise; e até uma sobrevida mais curta após o ataque cardíaco.

Pesquisa

Os cálculos renais têm sido cada vez mais associados a doenças cardiovasculares e outras condições que afetam o coração, tais como diabetes, obesidade e hipertensão. De acordo com um levantamento da National Kidney Foundation (EUA) —que analisou dados de mais de 3,5 milhões de pacientes, cerca de 50 mil com pedras nos rins—, indivíduos com cálculos apresentam 19% mais probabilidade de sofrer um incidente de CHD —aqui classificado como um ataque cardíaco ou cirurgia de bypass arterial— e têm 40% mais riscos de ter um AVC.

Síndrome cardiorrenal

Pacientes que manifestam tanto problemas ou fatores de risco cardíacos quanto renais, podem ter sua condição chamada de síndrome cardiorrenal. Cenário em que é possível prevenir, administrar e ter o risco de complicações reduzido com ações em comum. E muito tem a ver com hábitos e estilo de vida saudáveis.

Grande parte deles já conhecidos pela maioria, como manter atividades físicas regulares, cuidar da alimentação e da hidratação, gerenciar o peso, controlar diabetes e pressão arterial e parar de fumar.

Portanto, indivíduos com cálculos renais devem ser monitorados quanto a doenças cardíacas; e aqueles com complicações cardiovasculares precisam ter atenção ao funcionamento dos rins.