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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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De compras do mercado à musculação: cardiopatas podem carregar peso?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

09/10/2022 04h00

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Seja ao levar sacolas na volta do supermercado, levantar objetos pesados em casa ou na prática de exercícios que exigem força, como a musculação, você sabe dizer o quanto nosso coração é afetado quando carregamos peso?

O coração se mantém ativo 24 horas por dia para cumprir sua principal função, que é a de bombear sangue pelo corpo todo e assim manter a vitalidade de órgãos e tecidos. Qualquer estímulo realizado vai requisitar que ele, assim como o restante do corpo, se adapte para atender as exigências do momento.

Quando carregamos peso, o coração é exigido e pode reagir de diversas formas. De modo geral, a tendência é uma possível elevação nos níveis de pressão arterial e frequência cardíaca. Isso acontece, particularmente, porque o corpo passa a demandar uma quantidade maior de sangue e oxigênio nos músculos. Com o aumento do esforço físico, o órgão terá que trabalhar mais para suprir as necessidades do organismo.

Isso é saudável?

Tudo dependerá do quadro de saúde de cada um. Se o coração não estiver em boas condições, a experiência pode ter consequências negativas. Porém, um órgão em pleno funcionamento sairá até beneficiado com o estímulo, em especial se for treinado para isso de forma periódica.

Com o tempo e a repetição ele passa, por exemplo, a sofrer menos com a ação dos hormônios que elevam a pressão e a frequência dos batimentos. Portanto, embora possa exigir mais do órgão, se inserido na rotina de forma correta e cuidadosa, o peso não representa uma sobrecarga inadequada para um coração sadio.

E quando falamos de um órgão debilitado?

A partir da existência de uma cardiopatia ou se o indivíduo enfrentou um evento ou procedimento cardíaco o cenário é outro. Em casos assim é possível haver a necessidade de atenção especial e até, em quadros mais graves, a proibição do peso.

Quando uma pessoa com uma questão cardiológica levanta pesos mais elevados, a pressão arterial diastólica sobe e a sistólica desce. Isso significa, basicamente, que o coração recebe menos sangue fazendo com que ele trabalhe mais duro.

Para exemplificar, ao erguer pesos com um bloqueio de 40% nas artérias, o coração passa a trabalhar como se houvesse um bloqueio maior, ao redor de 60%. Quadro que pode ser perigoso para aqueles com doenças cardíacas, principalmente das artérias coronárias.

Cada situação deve ser avaliada individualmente, entretanto, no geral, mesmo para quem apresenta alguma adversidade cardiovascular —até mesmo aqueles que já sofreram um infarto— o peso pode não trazer problemas ou riscos. E isso inclui a realização atividades da rotina e treinamentos físicos de resistência e força.

Benefícios

Estudos realizados ao longo dos últimos anos comprovam que a musculação, assim como atividades similares de fortalecimento muscular, força e resistência, tem efeito benéfico para o sistema cardiovascular. Isso porque promovem o aumento da força e controle da redução da massa muscular causada pelo envelhecimento ou sedentarismo, que levam a um alto índice de desenvolvimento de doenças que envolvem o coração e os vasos sanguíneos.

Com o ganho de força e massa, o coração sofre uma sobrecarga menor com esforços do dia a dia. Além disso, esse tipo de exercício contribui para reduzir e prevenir diversos fatores de risco para questões cardiovasculares, como obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol e triglicérides.

Esses exercícios, que anteriormente eram contraindicados para cardiopatas em geral, passaram a integrar inclusive as prescrições de tratamentos e cuidados. As evidências sugerem uma melhora na capacidade funcional até em certos grupos de portadores de insuficiência cardíaca e para pessoas com doença arterial coronária. Ou seja, são seguros e eficientes.

Porém, essas atividades se tornam vantajosas quando realizadas rotineiramente. Ao praticarmos de forma regular, o coração trabalha com mais eficiência sem realizar um esforço desnecessário. A recomendação é de uma prática de, no mínimo, duas vezes por semana, com intensidade moderada a acentuada.

Entretanto, sempre com a orientação de um profissional e, para aqueles que têm algum histórico de questão cardíaca, somente com liberação, orientação e acompanhamento médico.

Quem não deve levantar pesos

Após a realização de certas intervenções, como uma angioplastia com stent (procedimento para restaurar o fluxo sanguíneo por meio da introdução de uma malha de metal no interior do vaso obstruído) o indivíduo, na maioria dos casos, tem recuperação relativamente rápida e precisa evitar exercícios vigorosos ou pesos acima de 10 kg nas primeiras duas semanas.

Se for um cateterismo para diagnóstico, o que se recomenda é não pegar peso no dia em que o exame foi realizado. A partir do dia seguinte, é possível retornar às atividades usuais.

Para aqueles que passam por um cateterismo para tratamento de problema cardíaco, a possibilidade de pegar peso vai depender do tipo de doença, se o procedimento foi bem-sucedido e se não houve nenhuma complicação durante a internação. Com situação favorável, o paciente pode voltar a pegar peso em poucos dias após a alta.

No caso de um infarto, frequentemente em uma segunda etapa de recuperação, a musculação é até recomendada para ampliar a potência, força e resposta muscular.

Já em pacientes com angina, a recomendação é que o quadro melhore para que o médico avalie a possibilidade da realização deste tipo de atividade. Para quem tem cardiomiopatia hipertrófica (doença em que o músculo do coração apresenta uma porção do miocárdio hipertrofiada sem nenhuma causa óbvia, gerando uma deficiência no seu funcionamento) a prática de exercícios e o carregamento de pesos não são indicados.

Outros cenários em que a limitação é maior: insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão pulmonar severa, estenose aórtica grave e sintomática, infecção aguda do coração ou dos tecidos que envolvem o órgão, pressão arterial alta não controlada (mais de 180/110 mmHg), dissecação aórtica e síndrome de Marfan.

Cuidados extras

Portanto, a ideia de que cardiopatas não podem carregar peso e se exercitar em nenhuma hipótese não é verdade. Cada caso é um e as doenças podem se apresentar em variados níveis. Tudo dependerá de uma análise aprofundada do especialista responsável, que pode liberar ou não o paciente.

Além disso, é natural ter medo de realizar qualquer atividade, seja ela a mais simples e comum, após o diagnóstico de uma doença cardíaca ou um evento no coração, a exemplo de um infarto. No entanto, como vimos, é possível até se beneficiar. O que precisa ficar claro é que mesmo que existam contraindicações e adaptações necessárias, isso não quer dizer que o indivíduo deva se render ao sedentarismo.

O importante é que todas as pessoas, especialmente aquelas com qualquer questão cardiovascular ou que buscam iniciar uma atividade física após um longo período de sedentarismo, devem passar por uma avaliação para verificar as condições do coração, levando em conta o histórico de saúde. Dessa forma, é possível incluir na rotina a prática de atividades sem riscos e, melhor, com benefícios.