Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
O que acontece com o nosso coração quando sentimos medo?
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O medo é uma reação a algo que interpretamos como perigoso ou ameaçador, uma resposta instintiva de autoproteção e sobrevivência. Um estado emocional experimentado por razões diversas que vão desde uma apresentação em público até fobias mais intensas.
Quando sentimos medo, nosso corpo passa por uma série de mudanças que envolvem diferentes alterações no funcionamento do organismo.
Tudo começa no cérebro
Assim que reconhece o medo, a amígdala, pequena estrutura no meio do nosso cérebro responsável pelas respostas emocionais, aciona uma espécie de botão de alerta: ao detectar uma possível necessidade de luta ou fuga, sinaliza que algo pode dar errado e prepara o corpo para a ação, desencadeando uma série de mudanças fisiológicas imediatas no organismo.
Durante uma situação assustadora ou amedrontadora, normalmente, temos a sensação de "borboletas no estômago", alterações digestivas, transpiração excessiva, calafrios, músculos trêmulos, pupilas dilatadas e a respiração mais ofegante ou dificuldade para respirar, até o fígado e o pâncreas são afetados. O coração e os vasos sanguíneos também passam por mudanças.
O medo e o sistema cardiovascular
Hormônios relacionados ao estresse, como a adrenalina, são liberados mais intensamente no organismo. O coração começa a bombear sangue de forma mais rápida e assim o ritmo dos batimentos cardíacos aumenta.
O fluxo sanguíneo muda e, ao invés de priorizar os órgãos internos, passa a favorecer os principais grupos musculares, entre eles os membros periféricos, como pernas e braços, capazes de nos ajudar a correr e nos defender.
O corpo mobiliza energia e libera mais açúcares (elevando os níveis de glicose) e gorduras na corrente sanguínea para uso rápido dos músculos. A pressão arterial tende a subir.
É efetivamente possível "morrer de medo"?
A resposta é sim, apesar de isso ser raro. De modo geral, as reações descritas são temporárias e passam logo após o fim da situação que causou este tipo de estresse ao corpo. No entanto, podem ser intensas o suficiente para servir de gatilho para predisposições ou o agravamento de problemas já diagnosticados.
As reações do corpo ao medo são capazes de afetar o sistema elétrico do coração e causar arritmias, a constrição dos vasos sanguíneos (mesmo quando não há bloqueios) ou espasmos. É possível ainda que a função cardíaca diminua ou falhe e o músculo do coração passe a não bombear o sangue tão eficientemente quanto necessário.
Segundo um artigo publicado pela Cleveland Clinic, os sustos inesperados podem ter consequências graves. Emoções intensas, como o medo, são capazes de desencadear um ataque cardíaco ou infarto, por exemplo, particularmente em indivíduos suscetíveis —especialmente aqueles que já sofrem de condições que envolvem o sistema cardiovascular.
Síndrome do coração partido
A síndrome do coração partido ou cardiomiopatia de Takotsubo é um exemplo de condição que ocorre com a descarga de adrenalina e outros hormônios na corrente sanguínea após um forte estresse físico ou emocional. Essa cardiomiopatia induzida pelo estresse de uma situação amedrontadora ou choque traumático provoca a disfunção ou falha do músculo cardíaco.
O ápice e o centro do ventrículo esquerdo sofrem uma espécie de paralisia transitória durante a sístole (fase de contração do coração), distúrbio que o deixa sem força suficiente para impulsionar o sangue para o corpo. O acúmulo de sangue dentro do ventrículo esquerdo lhe confere o formato abaulado, que dá a impressão do "coração estar partido ao meio".
Os sintomas são semelhantes aos de um infarto agudo do miocárdio (entre eles a falta de ar e a dor no peito), mas nesses casos o gatilho é emocional e os indivíduos não têm artérias coronárias bloqueadas (como ocorre na doença arterial coronária). Felizmente, para a maioria, a condição é reversível e a função cardíaca volta ao normal com o tempo. Entretanto, em raras ocorrências, ela pode causar a morte súbita.
Como lidar com o imprevisível?
Infelizmente é difícil prever quem tem mais probabilidade de sofrer um evento desse tipo por conta do medo e, embora não possamos controlar os incidentes assustadores ou amedrontadores, podemos cuidar e monitorar a saúde do nosso coração.
O organismo tem suas maneiras de "acalmar" e reestabelecer as condições normais se a ameaça percebida for considerada inócua ou inexistente.
O sistema nervoso parassimpático assume o controle baixando o ritmo cardíaco bem como o fluxo dos hormônios que estão elevados. Assim, no momento em que a ameaça detectada se mostra inofensiva, o corpo relaxa. Sem o parassimpático, o processo continuaria e poderia gerar consequências prejudiciais ao coração.
Embora o medo seja uma resposta natural a algumas situações, ele também pode levar à angústia e perturbação quando extremo ou fora de proporção à ameaça real. É o caso, por exemplo, de quadros de medo crônico, como em distúrbios de pânico ou crises de ansiedade.
Em muitos episódios, um ataque de pânico desencadeia um ritmo cardíaco acelerado, o que chamamos de taquicardia. Os batimentos chegam a 200 por minuto —ou até mais rápido.
Por fim, devemos lembrar que nem sempre sentir medo é algo considerado ruim. Algumas pessoas estão à procura de adrenalina, apreciando esportes radicais e outras situações emocionantes que induzem ao medo.
Porém, vale ressaltar que antes de se expor a situações assim é importante checar como anda a saúde do coração, mantendo os cuidados gerais e os check-ups médicos sempre em dia.
Curiosidade: a relação entre o medo e o coração também aparece em casos de anginofobia, nome dado ao medo irracional de dores no peito ou angina, e na cardiofobia, ou seja, o medo excessivo de ataques cardíacos e das doenças do coração.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.