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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Os efeitos do açúcar no coração: consumo exagerado pode causar problema

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Paulo Chaccur

Colunista de VivaBem

27/11/2022 04h00

Você é do tipo que não dispensa um docinho depois do almoço todos os dias? Mas será que esse costume pode trazer algum dano ao organismo? Na verdade, tudo vai depender muito da quantidade ingerida, do tipo de doce, do perfil e das condições de saúde de cada indivíduo.

De modo geral, é o excesso de açúcar que pode trazer consequências prejudiciais ao funcionamento do corpo. Estudos apontam que é possível que contribua, por exemplo, com o surgimento da acne, cáries, ganho de peso e cansaço.

Já em longo prazo pode aumentar o risco do desenvolvimento ou agravamento de doenças crônicas, tais como obesidade, diabetes e hipertensão, assim como prejudicar alguns órgãos, entre eles o coração.

E de onde vem todo esse açúcar?

O açúcar está naturalmente presente nos alimentos que contêm carboidratos, como frutas, vegetais, grãos e laticínios. Como o corpo tende a digerir esses alimentos lentamente, o açúcar neles presente oferece suprimento constante de energia para o corpo. Ou seja: alimentos que têm açúcar natural (como a frutose) fazem bem, porém, sem exageros!

Entretanto, o que se tem verificado é que as principais fontes de açúcar hoje na dieta são provenientes da adição pessoal do ingrediente nos preparos do cotidiano e em produtos industrializados, a exemplo de refrigerantes, sucos artificiais, iogurtes aromatizados, cereais, biscoitos e bolos.

Parte ainda fica "escondida" em certos produtos, adicionada em itens que muitos não imaginam entrar nessa lista, entre sopas, molhos, pães e refeições semiprontas.

Dados de consumo

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, 64% do consumo de açúcares corresponde àqueles adicionados pelo próprio indivíduo em sucos, cafés e demais receitas do dia a dia. Os outros 36% são provenientes de produtos processados e ultraprocessados. E quando falamos dos hábitos dos brasileiros, estimativas apontam que, diariamente, cada pessoa no país consome em média 18 colheres de chá do ingrediente, o que corresponde a 80 g de açúcar/dia.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), no entanto, orienta limitar o consumo de açúcares livres para que não ultrapassem 10% da ingestão energética total/dia (o correspondente a 12 colheres de chá) —e melhor ainda se não excederem 5%. Isso significa que uma dieta de 2.000 kcal/dia não deve ter mais do que 50 gramas de açúcar.

Muito açúcar no corpo = hiperglicemia

A hiperglicemia é o nome dado para os elevados índices de glicose no sangue, isso quer dizer: acima de 100 mg/dL . Quadro provocado pelo consumo excessivo de açúcar, especialmente se frequente. O que ocorre é um desgaste metabólico no organismo.

Isso por conta da energia gasta para produzir e liberar insulina pelo pâncreas como forma de diminuir a taxa de glicose, tentando impedir a absorção pelas células e, dessa forma, evitar problemas de disfunção ou mesmo o diabetes —do tipo 2, caracterizado pelos elevados níveis de glicose no sangue e um dos principais fatores de risco para a saúde do coração.

Portanto, o consumo excessivo de açúcar está associado ao diabetes por conta da sobrecarga causada no pâncreas, que não consegue produzir insulina suficiente para diminuir os níveis de glicose. A hiperglicemia pode desencadear sintomas como cansaço, aumento da fome, dores de cabeça, enjoo, sonolência, perda de disposição e libido, ganho de peso, visão embaçada, dormência ou formigamentos nas mãos e pés, sede e aumento na vontade de urinar.

O tal do índice glicêmico

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Para seguirmos, vale esclarecer o que é o chamado índice glicêmico. Resumidamente, trata-se de um indicador da velocidade com que o carboidrato presente em um alimento alcança a corrente sanguínea e altera a glicemia, ou seja, o nível de açúcar no sangue.

Alimentos com baixo índice glicêmico, como feijão, pera, farelo de aveia, sementes de linhaça e girassol, chia e castanhas, fazem com que a glicemia se mantenha estável por mais tempo.

Mas não se engane: mesmo o que é natural pode ter índice glicêmico alto, a exemplo da banana. Porém, vale destacar que, no geral, quanto mais processado for um alimento, maior será o seu índice glicêmico.

Consequências para a saúde cardiovascular

Segundo pesquisa da Harvard Medical School, a ingestão de açúcar em grande quantidade pode ter um sério impacto na saúde do coração. Um estudo realizado ao longo de 15 anos revelou que pessoas que utilizavam açúcar adicionado de 17% a 21% do total de suas calorias, tinham um risco 38% maior de morrer de doenças cardiovasculares em comparação com quem consumiu 8% do total.

Basicamente, o levantamento aponta que quanto maior a ingestão de açúcar adicionado, maior o risco de doenças e complicações cardíacas.

O fato é que quando ingerimos muito açúcar, a insulina extra que vai para a corrente sanguínea pode afetar as artérias. Ela faz com que as paredes desses vasos fiquem inflamadas, mais rígidas e estreitas (o que damos o nome de vasoconstrição).

Com o tempo, isso pode danificar, gerar estresse e trabalho extra ao coração. Uma dieta rica em açúcar também é capaz de causar problemas circulatórios, já que estamos falando de um fator relevante para o aumento de colesterol.

A glicose em excesso pode provocar o espessamento e o acúmulo de placas de gordura dentro da parede das artérias, com consequente obstrução desses vasos. O resultado é o possível surgimento de doenças que afetam o sistema cardiovascular, como a insuficiência cardíaca, infarto e o AVC.

Os efeitos ainda podem ser sentidos com uma pressão arterial mais alta, inflamação, estresse oxidativo e doença hepática gordurosa (acúmulo de gordura no fígado) —todos igualmente ligados a um risco maior de ataque cardíaco e derrame.

Outras complicações

Embora não diretamente relacionadas ao coração, outras questões podem trazer complicações que acarretam problemas secundários no funcionamento do órgão. O diabetes associado ao consumo de muito açúcar pode provocar danos renais.

Os rins desempenham um papel importante na filtragem do sangue, removendo os produtos residuais, água e sal em excesso. Sem eles, teríamos retenção e acúmulos desnecessários. O coração então passaria a ser mais exigido, sendo sobrecarregado, ou teria sua função prejudicada, não atuando como o organismo precisa.

De olho nos rótulos

A leitura dos rótulos dos alimentos industrializados é uma das maneiras de monitorar a quantidade e reduzir a ingestão de açúcar, que frequentemente é listado como "açúcar total" e em gramas. É preciso estar atento ao número de gramas por porção assim como o total de porções.

Porém, um complicador é a dificuldade na identificação desses ingredientes, uma vez que podem aparecer sob vários nomes: açúcar mascavo, adoçante do milho, xarope de milho, néctar de agave, concentrados de suco de frutas, xarope de milho com alto teor de frutose, mel, suco de cana, açúcar invertido, açúcar de palma, açúcar maltado, melaço e moléculas de xarope de açúcar terminando em "ose" (dextrose, frutose, glicose, lactose, maltose, sacarose).

Atenção às generalizações

Contudo, o açúcar não deve ser tido como vilão. É necessário que seu consumo seja adaptado a cada condição de saúde e estilo de vida. Como já falamos acima, ele desempenha papel importante, em especial para a geração de energia. Também é um dos responsáveis por liberar ao cérebro a dopamina, substância que provoca a sensação de prazer e nos faz sentir bem.

Outro alerta é sobre as substituições. Primeiro, na troca do açúcar (particularmente o branco, mais refinado) pelos adoçantes artificiais (os edulcorantes), que igualmente têm potencial para provocar efeitos adversos na saúde cardiovascular.

Segundo, na escolha de opções tidas como mais saudáveis, como o mascavo e a rapadura. O que varia é o processo de obtenção e refinamento, mas esses produtos também têm calorias e podem trazer problemas se ingeridos em demasia. Portanto, a substituição, seja ela qual for, deve ser consciente e pensada.

Além disso, é preciso ficar claro que o açúcar não é a única causa do ganho de peso. A obesidade ou aumento da massa gorda deve-se a um maior consumo de calorias ingeridas em relação às utilizadas. Sendo assim, a falta da prática de exercícios físicos regulares tem interferência importante.

Logo, não devemos eliminar os açúcares da dieta. É preciso buscar o equilíbrio, a melhor forma de consumo e a variedade, além de evitar exageros —até frutas em grande quantidade podem ser prejudiciais.

A exceção é para pessoas com diabetes ou resistência à insulina, que devem seguir estritamente a orientação de um profissional especializado. Por fim e para todos, ao sentir qualquer um dos sintomas descritos é recomendado buscar avaliação médica.