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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Quantos infartos um coração pode aguentar? Saiba o que acontece com o órgão

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

11/12/2022 04h00

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Não é à toa que o coração é uma das grandes preocupações quando o assunto é a saúde. Segundo a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), aproximadamente 14 milhões de pessoas no país têm alguma doença cardiovascular e cerca de 400 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades. Entre os principais motivos está o infarto agudo do miocárdio, o popular ataque cardíaco.

De acordo a Arpen Brasil (Associação de Registradores de Pessoas Naturais), nos últimos anos, em torno de 100 mil indivíduos/ano perderam a vida em consequência de um infarto. Para entender a dimensão, estima-se que a cada dois minutos uma pessoa sofra um ataque cardíaco no país. Isso não quer dizer, no entanto, que todo infarto é fatal.

As chances de sobrevivência, assim como as sequelas, variam de acordo com a gravidade do ataque, que envolve em especial a dimensão e o comprometimento do órgão e a velocidade do atendimento médico de emergência.

O que ocorre com o coração durante o infarto?

A principal causa desse evento é a doença arterial coronariana (DAC), que se caracteriza como consequência de uma aterosclerose. Isso quer dizer: pela formação e acúmulo de placas de gordura na parede das artérias coronárias. Com o tempo, o quadro pode evoluir e provocar um bloqueio parcial ou total da passagem do sangue dentro desses vasos e assim interromper o fluxo para o coração, o que leva ao infarto do miocárdio —o músculo cardíaco.

Ou seja, na ocorrência de um ataque do coração, o miocárdio pode ficar danificado e entrar em um processo de necrose causado por essa interrupção no fornecimento sanguíneo. A área que deixou de ser irrigada perde sua funcionalidade, prejudicando a capacidade de bombeamento do órgão para o restante do corpo.

Um agravante: a falta de sinais

O problema se desenvolve diante da presença de fatores de risco, como diabetes, obesidade, hipertensão, tabagismo e colesterol, mas o grau de obstrução muda de acordo com cada caso, assim como os sintomas. Aquela cena de filme em que a pessoa que sofre um infarto sente uma forte dor no peito e cai no chão pode ficar só nas telas mesmo.

O fato é que nem todo infarto é perceptível, aumentando a probabilidade de o ataque ser fulminante. É possível que a DAC se desenvolva ao longo de anos de forma progressiva e sem sinais claros. A estimativa é que um em cada cinco casos ocorra de forma silenciosa. No Brasil, dados apontam que cerca de 2% dos pacientes não percebem que estão infartando. Há quem descubra apenas com a realização de exames após o evento ter ocorrido.

De maneira geral, obstruções de mais de 70% nas coronárias têm como principal indício a dor no peito (angina), entretanto, ela não é a única manifestação do infarto. Outros sintomas podem ocorrer, como tontura, desmaio, palpitação, fadiga extrema, transpiração intensa, náusea, vômito, dormência e sensação de formigamento, falta de ar ou ainda dores abdominais (muitas vezes confundidas com indigestão), nos ombros, braços, mandíbula ou nas costas.

Danos cumulativos

É importante reforçar que mesmo os ataques cardíacos leves podem causar danos cumulativos e provocar problemas e disfunções no sistema cardiovascular nos anos subsequentes. Tanto as consequências a curto como em longo prazo são em grande parte determinadas pelo quanto o músculo cardíaco foi afetado. Outras variantes: quais artérias estão envolvidas, onde ocorreu o bloqueio, quanto tempo passou até a revascularização do tecido do coração e até fatores adicionais, como idade e sexo.

São inúmeras possíveis sequelas. Após o infarto, por exemplo, o tecido cicatrizado do coração pode levar a instabilidade elétrica permanente e arritmias recorrentes (alterações na frequência cardíaca) ou ainda, se a extensão do dano for grave, há riscos de o paciente apresentar insuficiência cardíaca aguda (o coração passa a não ser capaz de bombear o sangue como deveria).

Quais os riscos de um novo infarto acontecer?

Após um ataque cardíaco, um paciente tem risco 20% maior de sofrer outro dentro de cinco anos, se comparado com alguém que nunca enfrentou o problema.

Como vimos, primeiro devido às diversas sequelas que podem permanecer, depois porque os mesmos problemas que o provocaram —como a pressão alta, excesso de peso, estilo de vida sedentário, estresse, cigarro, entre outros—, ainda estarão presentes. Portanto, os cuidados devem ser maiores e o tratamento de recuperação levado à risca.

Jovens têm menos chances de resistir?

Você já deve ter ouvido que o ataque cardíaco em pessoas jovens é mais grave e fatal do que naqueles com mais idade. O que muitos apontam é que com o tempo o coração se prepara melhor para futuros problemas. Afirmação que divide opiniões. A questão gira em torno do que chamamos de circulação colateral.

Em resumo, trata-se de uma rede de vasos sanguíneos que se desenvolvem ao redor do músculo cardíaco com o passar dos anos ou por aqueles que já se recuperaram de um infarto. Uma espécie de proteção natural, uma via alternativa do corpo caso uma artéria seja novamente obstruída. Dessa forma, mesmo que os jovens tenham mais força física para suportar um ataque do coração, o problema entre os mais velhos seria menos intenso e mais lento por conta da compensação.

O que vem se estudando, no entanto, é que a circulação colateral pode ser decisiva, mas a idade não teria influência sobre esse fenômeno, uma vez que há indícios que ela não seja maior ou menor no jovem, mas, sim, determinada geneticamente.

O fato é que não existe ainda um consenso sobre o tema, porém, em relação às sequelas todos concordam: a velocidade dos primeiros socorros é o principal fator determinante. Quanto mais rápido for iniciado o atendimento, melhor o prognóstico e as chances de sobreviver.

E quantos infartos um coração pode aguentar?

O número de ataques cardíacos em si, por mais grave que isso seja, não é o maior problema. Conforme explicado acima, são os danos ao músculo do coração que vão determinar a recuperação e a qualidade dos anos seguintes bem como a resistência desse órgão a novas complicações. Um infarto grave é muito mais preocupante e ameaçador do que vários que não resultaram em lesões significativas.

Estudos apontam que as taxas de sobrevivência de pessoas hospitalizadas por ataques cardíacos são de aproximadamente 90% a 97%. Essa não é uma realidade histórica. De acordo com a Universidade de Harvard, décadas atrás, um ataque cardíaco era frequentemente mortal, matando até metade de suas vítimas em poucos dias. O cenário mudou com o avanço do conhecimento, da tecnologia e da ciência.

Hoje não é tão raro encontrar uma pessoa que sobreviveu a mais de um ataque cardíaco, inclusive seguindo uma vida praticamente normal. No passado, os casos eram exceção. O ex-vice-presidente americano, Dick Cheney, é um exemplo incomum: sobreviveu a cinco ataques cardíacos. Seu primeiro, em 1978, aconteceu quando ele tinha 37 anos.

Um infarto é um evento sério, que muda a vida. Sua ocorrência é um sinal de alerta. Os cuidados com fatores de risco devem assumir um novo significado.

Uma pesquisa da Cleveland Clinic (Ohio/EUA) reforça a importância de evitar que o evento volte a acontecer. O estudo examinou os resultados de pacientes que sofreram um segundo infarto dentro de 90 dias após a alta do hospital: enquanto cerca de 2,5% foram readmitidos no período por outro ataque cardíaco, quase 50% morreram dentro de cinco anos.

Como levar a vida após o infarto e evitar um novo ataque cardíaco

A vida será diferente por um tempo. Muitas vezes atividades simples se tornam exaustivas. Por isso, é importante ter calma e paciência. Dar ao corpo o período necessário para recuperação. O coração precisa, geralmente, de três meses para se reestabelecer —para algumas pessoas isso pode levar mais tempo.

Seguir a reabilitação cardíaca é extremamente importante. Isso inclui o tratamento e todas as recomendações médicas com questões que provocaram o problema ou para prevenir e administrar possíveis consequências. Pesquisas citadas pela Associação Americana do Coração mostram que a reabilitação ajuda a reduzir em 47% o risco de um ataque cardíaco subsequente.

Além disso, lembre-se: se engana quem acredita que a questão é coisa de quem chegou à terceira idade. Casos na faixa dos 20, 30 ou 40 anos se multiplicam no Brasil e no mundo. Portanto, os cuidados têm de começar na gestação e se estender durante toda a nossa trajetória.

É fundamental dar a devida atenção ao coração e manter em dia o check-up cardiológico, além de estar atento aos sinais do corpo.

Muitos fatores, predisposições genéticas e alterações cardíacas podem ser controlados com acompanhamento médico, tratamentos precoces, mudanças de hábitos e estilo de vida, reduzindo as chances de um infarto e outras complicações ao longo da vida.