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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Os perigos da desidratação para a saúde do coração

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

15/01/2023 04h00

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Sol, calor, verão. Para muitos a combinação perfeita para aproveitar e curtir as atividades ao ar livre. Porém, é uma época em que devemos redobrar os cuidados e a atenção com a desidratação: condição caracterizada quando o corpo perde mais água do que recebe, provocando a interrupção de seus processos naturais.

Água e o coração

A água é um dos principais componentes do corpo humano: cerca de 70% dele é composto por água, substância que desempenha papel vital na maioria das funções. A hidratação adequada é, inclusive, essencial para o funcionamento e a saúde do coração.

O órgão está constantemente bombeando sangue pelo corpo através dos vasos sanguíneos. Batendo em média 72 vezes por minuto, distribui aproximadamente 7.600 litros/dia. Estar bem hidratado ajuda, portanto, o coração a fazer seu trabalho de forma eficiente e precisa.

A interferência do suor

Quando as temperaturas sobem, a transpiração interfere nas atividades do sistema cardiovascular. O coração vai buscar compensar a situação batendo mais rápido. Isso porque o suor é um dos caminhos do nosso metabolismo para regular a temperatura corporal.

O suor contém eletrólitos, minerais essenciais, a exemplo do potássio e do sódio, que são necessários para o funcionamento saudável do coração. O suor excessivo durante o tempo quente pode desequilibrar os níveis de eletrólitos e, desta forma, adicionar uma nova carga de estresse em um coração que já está trabalhando arduamente para manter o corpo mais fresco. Uma produção maior de suor pode levar, em situação extrema, à desidratação.

Em caso de desidratação

Conforme o corpo perde líquido por meio da transpiração, respiração e urina, e não tem a reposição necessária, a quantidade de sangue que circula pelo corpo diminui. Os vasos sanguíneos vão se fechando (com a constrição de suas paredes) para manter a pressão arterial dentro do ideal. O sangue fica mais grosso e a frequência cardíaca aumenta ainda mais. O cenário pode acarretar em palpitações e batimentos cardíacos irregulares —as arritmias.

Uma desidratação severa pode provocar uma grande diminuição do volume de sangue, o que resulta na redução excessiva da pressão arterial. Quando o corpo não consegue entregar o fluxo de sangue e oxigênio adequados aos órgãos e tecidos, o organismo pode entrar em choque hipovolêmico, ou choque de baixo volume sanguíneo —uma das complicações mais graves, às vezes com risco de vida, da desidratação.

Outros indícios de um corpo desidratado são: fadiga, fraqueza muscular, urina escura, dor de cabeça, tontura, boca ou pele seca, diminuição da frequência e baixo volume da urina, letargia, desmaios e febre.

Os cuidados para evitar uma desidratação precisam ser levados a sério: mesmo uma desidratação leve, ou seja, uma perda de apenas 1% do peso corporal pode gerar os sintomas descritos.

Vale destacar que estar desidratado é diferente de sentir sede. A sede é uma função do corpo para ajudar a manter o equilíbrio do organismo associado à necessidade de água. Embora seja uma resposta normal, a sede pode ser também consequência de uma insuficiência cardíaca. Por isso, é importante estar atento se o sintoma se tornar frequente.

O que fazer em caso de desidratação?

A desidratação leve pode ser facilmente recuperada em casa, apenas com o repouso em local fresco e o aumento da ingestão de líquidos e eletrólitos.

Bebidas esportivas e soluções de reidratação oral podem ajudar a devolver ao corpo os níveis necessários. Os casos mais graves precisam ser tratados em ambiente hospitalar e com fluidos intravenosos.

E quanto devemos ingerir de água por dia?

A pergunta é corriqueira e parece fácil, mas não há uma resposta simples e igual para todo mundo. Vários fatores têm relação e podem interferir, como a composição de cada corpo, o metabolismo, a dieta, o clima do lugar em que o indivíduo vive, entre outros.

O fato é que não conseguimos sobreviver muito tempo sem água. A ingestão de água recomendada por dia, de modo geral, está entre 2,1 a 2,6 litros para adultos e entre 1 a 1,6 litros para crianças. Quando falamos da ingestão total, que inclui o líquido dos alimentos, a recomendação passa para: entre 2,8 e 3,4 litros para adultos e 1,4 a 2,2 litros para crianças.

Devo beber mais água quando estiver me exercitando?

Em resumo: você deve ser guiado por sua sede. No entanto, a prática de atividades físicas prolongadas e em exposição ao calor podem aumentar a necessidade de líquidos ou água. Temos, porém, que considerar a questão da compensação, ou seja, quanto mais água você perde, teoricamente, mais você deve repor para estar em equilíbrio hídrico.

Nesse caso, é importante reforçar que o consumo deve se estender também ao longo das horas seguintes do término da atividade. Isso porque a tendência é de continuar a perder líquido através do suor e da micção por algum tempo.

Só vale água?

Embora existam algumas evidências de que as bebidas esportivas podem melhorar o desempenho e acelerar o processo de recuperação entre as sessões de exercícios, de modo geral, elas não são necessárias.

A maior parte da nossa hidratação deve vir mesmo da água, a menos que seja uma recomendação médica ou de um profissional de saúde. Alguns desses produtos, inclusive, têm sódio e açúcar adicionados.

Recomendações

Entretanto, não fique preso aos números. A hidratação é um processo dinâmico que deve seguir as necessidades do corpo em cada momento. Alguns dias, naturalmente, bebemos mais água, outros menos. Em alguns dias estamos mais ativos, em outros não. Dias quentes, de muito calor e mais transpiração, vão exigir um consumo maior.

E mesmo depois de um dia sem a ingestão da quantidade de água suficiente, o corpo tende a se recuperar quando bebemos água à noite ou até no dia seguinte. Durante um período isso se equilibra, pois temos uma reserva e certa flexibilidade no organismo para lidar com os desafios em curto prazo. No entanto, isso deve ser exceção na rotina.

A desidratação, como vimos, pode ter efeitos danosos e aumentar as chances de complicações e eventos cardíacos. Portanto, é válido aproveitar o sol, o calor e o verão, mas sem ignorar os sinais do corpo e colocar à saúde em risco.