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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Gastrite e o coração. Há alguma relação entre eles?

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Colunista de VivaBem

26/02/2023 04h00

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Ela começa, de modo geral, com uma queimação leve na parte superior do estômago até que, gradualmente, a sensação de ardor irradia para o peito e vai ganhando novos sintomas. A gastrite é uma inflamação da mucosa interna —o revestimento— do estômago.

É capaz de provocar inchaços, desconforto e dores intensas (especialmente na parte superior do abdome), perda de apetite, gosto azedo e ardor na garganta, náusea, vômito, azia e diarreia.

Dependendo da gravidade da inflamação estomacal, é possível desencadear sangramentos. Uma forma severa de gastrite pode levar a anemia, causando palidez, batimentos cardíacos acelerados, tonturas e falta de ar.

Se não tratada, a condição pode chegar até a um problema mais sério, como a úlcera ou câncer. Em casos extremos, há inclusive o risco de morte.

Crônica x aguda

Podemos classificar os casos da doença como gastrite aguda, aquela que ocorre de forma breve e repentina, ou crônica, condição de maior duração, com possibilidade de se prolongar meses ou mesmo anos se não for adequadamente tratada.

O problema está associado a diversos fatores, entre condições médicas e cirúrgicas, consumo excessivo de álcool, cafeína, fumo e o uso de certos medicamentos (como aspirina ou anti-inflamatórios não esteroides - AINEs).

Também ocorre em decorrência da bactéria Helicobacter pylori, que se instala em ambientes ácidos, como a mucosa do estômago. Nesse caso, é transmitida pelo contato com fezes, saliva, água e alimentos contaminados.

Aliás, no que diz respeito aos alimentos que consumimos, os hábitos alimentares também têm interferência e precisam de atenção quando o assunto é a gastrite. Alguns podem contribuir com os danos na barreira da mucosa do estômago e, assim, com o agravamento da inflamação.

Esses alimentos diferem de pessoa para pessoa, no entanto, os picantes e ricos em gordura são alguns dos mais comuns para a piora dos quadros.

Gastrite e estresse

Gastrite, dor de estômago, úlcera - iStock - iStock
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As emoções e sentimentos produzem alterações em nosso corpo. A ansiedade, estresse e emoções fortes podem interferir diretamente no sistema digestivo (ou sistema gastrointestinal). Assim, o estresse é tido como outro exemplo dentre os principais desencadeadores da gastrite, quadro que recebe o nome de gastrite nervosa.

Alguém constantemente estressado tende a não dar a devida atenção para a alimentação, permanecer em jejum prolongado e até mesmo apresentar uma má mastigação. Questões que ajudam a promover o enfraquecimento da mucosa estomacal, permitindo que o suco digestivo produzido pelo estômago cause danos ao tecido que reveste o órgão.

Adicionalmente, em situações de estresse excessivo, o corpo aumenta a produção de adrenalina e, consequentemente, a de ácido clorídrico no organismo, substância que agride o estômago.

Além disso, ao elevar a produção de hormônios relacionados à tensão, acaba por agir negativamente sobre a imunidade, dando espaço para o surgimento ou agravamento de inflamações e infecções.

A gastrite nervosa normalmente apresenta sintomas durante ou logo após períodos de maior estresse ou ansiedade, como a preparação para uma prova importante, fases de muita pressão no trabalho, desentendimentos afetivos ou problemas familiares.

Entretanto, quando o cenário de estresse se torna recorrente, os danos à saúde podem ser mais sérios e envolver o sistema gastrointestinal e o cardiovascular —em situações extremas de estresse o ritmo cardíaco e a pressão arterial tendem a aumentar.

Parece infarto, mas não é

"Uma dor aguda que atinge o peito, causa sensação de ardor ou queimação na região do coração." A descrição é uma das razões de a gastrite —assim como outras condições que envolvem esôfago, estômago e intestino— ser um dos problemas no sistema digestivo que mais se confundem com um infarto do miocárdio. E aí você pode se perguntar: mas o que há em comum entre o ataque cardíaco e a gastrite?

De fato o aspecto que os liga diretamente é essa sensação de dor intensa na região do tórax, que pode acometer quem sofre de ambas as questões. Porém, o infarto é uma condição na qual o músculo cardíaco não recebe sangue e oxigênio suficientes. Na maioria das vezes pela obstrução parcial ou total das artérias coronárias (responsáveis por irrigar o órgão).

Tudo está relacionado

No entanto, é preciso reforçar que o coração tem como principal função bombear sangue para todos os órgãos do corpo —incluindo o sistema digestivo. Assim, doenças ou eventos cardíacos ou outras condições que interferem na capacidade do coração de executar seu trabalho eficientemente podem ter um efeito no funcionamento do organismo.

O nosso sistema digestivo recebe, de modo geral, entre 20-25% do sangue oxigenado bombeado pelo coração, quantidade que praticamente dobra depois que comemos e o corpo precisa trabalhar para digerir a refeição. Portanto, se o coração não for capaz de enviar sangue suficiente ao seu estômago, pode provocar problemas —desde dor abdominal aguda até diarreia, náusea ou vômito.

O contrário também ocorre: o sistema digestivo interfere no coração. Quando alguém tem uma doença inflamatória intestinal, a barreira intestinal é afetada, não protegendo como deveria o restante do corpo contra bactérias perigosas.

Uma vez que elas entram na corrente sanguínea contribuem para o desenvolvimento ou agravamento de uma série de condições e complicações cardíacas —até mesmo para a insuficiência cardíaca crônica e o infarto.

Além disso, embora a gastrite não seja uma causa direta de palpitações (alterações na frequência dos batimentos do coração), pode provocar a aceleração da frequência indiretamente.

Por exemplo, uma pessoa com gastrite, ao sentir-se estressada ou ansiosa sobre seus sintomas, pode sentir palpitações. O consumo de álcool e muita cafeína também é capaz de alterar o ritmo dos batimentos e da mesma forma, como vimos, interferir em quadros de gastrite. Ou seja, todo nosso organismo está conectado.

Cuidados importantes

Silhueta de corpo humano com coração em destaque, saúde cardíaca, cardiovascular - iStock - iStock
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Vale destacar por fim que uma pessoa com gastrite pode não apresentar quaisquer sintomas ou ainda os indícios não revelarem à extensão do problema e comprometimento das alterações no revestimento do estômago. Por isso, é importante realizar exames periodicamente e, sempre que desconfiar de qualquer alteração, procurar atendimento médico.

O diagnóstico e o tratamento da gastrite devem considerar sintomas, histórico de saúde, fatores emocionais, hábitos e estilo de vida, bem como medicamentos que são tomados pelo paciente.

Há diversos estudos que traçam essa conexão entre a saúde gastrointestinal e a cardiovascular. É importante procurar orientação sobre qualquer problema digestivo ou estomacal recorrente o mais rápido possível.