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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Ressaca: como o coração sente consumo exagerado de álcool no dia seguinte?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

05/03/2023 04h00

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Bebeu demais e acordou com mal-estar, dor de cabeça, enjoo e a boca seca? Saiba que esses não são os únicos efeitos que o excesso de álcool pode causar no organismo no dia seguinte a uma bebedeira.

A verdade é que você pode estar colocando a saúde do seu coração em risco. A famosa "ressaca", de modo geral, surge entre 6 e 8 horas após a ingestão exagerada de bebidas alcoólicas e chega a durar até 24 horas. O problema é que algumas das consequências podem não ser tão passageiras.

O álcool é uma droga considerada depressora, ou seja, diminui a atividade do sistema nervoso central, deixando quem o consome mais devagar, desligado e alheio. Mesmo doses pequenas são capazes de afetar funções importantes, como a fala e o movimento. As bebidas alcoólicas tendem a provocar sonolência e reduzir o reflexo, a atenção, a concentração, a memória e a capacidade intelectual.

Beber grandes quantidades de álcool de uma só vez pode ainda causar embriaguez e até o coma, além de gerar complicações graves que envolvem o sistema cardiovascular, entre inchaços nas pernas e pés, alterações nos batimentos do coração, dificuldade para respirar, e, em situações extremas, até uma parada cardíaca.

O álcool no organismo

Em resumo, logo após ser ingerido, o álcool é absorvido pelo estômago, chegando a outros órgãos por meio da corrente sanguínea. No corpo, ele se transforma em acetaldeído, um elemento tóxico. Quando identificado, enzimas produzidas no fígado passam a agir para destruí-lo.

Assim, o organismo trabalha para metabolizar e se livrar dele o mais rápido possível. Porém, isso é possível até certa quantidade. O excesso, que não é metabolizado pelo órgão, fica acumulado, provocando os sintomas que chamamos de ressaca.

Por isso, quanto mais se bebe na noite anterior, mais graves podem ser os sintomas na manhã seguinte. Na maioria dos casos, o melhor a ser feito é ingerir muita água e manter uma alimentação leve, como medida principal. No entanto, dependendo do quadro, será preciso buscar atendimento de um profissional de saúde.

E como distinguir entre uma ligeira ressaca temporária, que pode ser tratada em casa, daquela que necessita de atenção médica? A resposta está nos sintomas.

Cada um deles é o resultado de uma resposta fisiológica à presença de álcool no nosso sistema digestivo e urinário, especialmente no estômago, rins e corrente sanguínea. Vamos então detalhar alguns dos mais comuns e apontar a seguir os riscos que trazem ao corpo.

  • Dor de cabeça
Ressaca - Istock  - Istock
Imagem: Istock

Uma das principais consequências da ressaca é provocada por uma combinação de fatores, como a perda de água e a vasodilatação. O álcool expande (dilata) os vasos sanguíneos. No início, isso pode ser sentido como um benefício, uma vez que promove a sensação de relaxamento à medida que a pressão sanguínea é reduzida.

Entretanto, após algumas doses a mais, o coração passa a bombear sangue em maior velocidade, mas os vasos não acompanham, se expandindo o suficiente. Essa pressão adicional pode causar dores de cabeça.

  • Náuseas e vômitos

O vômito é uma reação para livrar o organismo do volume excessivo de álcool e das toxinas presentes na bebida. Pode ocorrer logo após a ingestão exagerada ou no dia seguinte, durante a ressaca.

Além disso, o álcool irrita as mucosas do estômago e esôfago, gerando azia e até crises de gastrite. E não é só isso: algumas bebidas alcoólicas, como a cerveja, provocam um tipo de fermentação no intestino, afetando a flora intestinal. Por isso, muitos acabam com dor de barriga, diarreia e excesso de gases após uma bebedeira.

  • Problemas para dormir

O álcool também é capaz de interferir no sono. Quando iniciamos a ingestão de bebidas alcoólicas, o organismo começa o processo de eliminação. E isso vai acontecer até cessarmos o consumo e ele conseguir colocar tudo para fora. Porém, ao irmos para a cama no meio disso, podemos sentir, enquanto dormimos, um "efeito rebote".

Trata-se de uma interrupção do sono profundo (estado de sono REM), uma vez que o corpo não estará em seu modo normal de repouso, ainda trabalhando para expelir o que precisa. O que pode determinar o cansaço sentido no dia seguinte.

É possível ainda que essa exaustão e a fraqueza durante a ressaca seja resultado de um estímulo desencadeado pelo álcool para um fluxo sanguíneo mais intenso ao pâncreas, que passa a produzir mais insulina e faz com que as taxas de açúcar no sangue (energia) caiam.

  • Sede em excesso
Mulher bebendo copo de água - Daria Shevtsova/ Pexels - Daria Shevtsova/ Pexels
Imagem: Daria Shevtsova/ Pexels

O álcool é diurético. Isso significa que nos faz urinar com mais frequência, o que pode drenar rapidamente o corpo de líquidos, bem como minerais e vitaminas importantes. À medida que perdemos água sem a adequada reposição, passamos a ficar desidratados, especialmente quando isso ocorre em um ambiente quente, com o aumento do suor.

O resultado no dia posterior vem em sede excessiva, pressão sanguínea mais baixa e tonturas.

O efeito diurético do álcool pode acabar ainda por sobrecarregar os rins, comprometendo a eficácia do processo de filtragem das substâncias que ocorre no órgão.

  • Coração acelerado ou taquicardia

O álcool é conhecido por aumentar o ritmo cardíaco. Quanto mais bebida alcoólica consumida, mais o coração responderá. Cada vez que uma pessoa bebe, a frequência dos batimentos e os níveis da pressão arterial tendem a subir, fazendo com que o órgão bombeie mais sangue por todo o corpo. Especialmente se esse consumo for descomedido.

O ritmo cardíaco regular é de cerca de 60 a 100 batimentos por minuto (em repouso). Ao ultrapassar 100 batimentos/minuto, pode causar a taquicardia. Em média, o risco de um episódio ocorrer é maior entre 3-4 horas após o consumo de bebidas alcoólicas, mas pode acontecer em até 9 horas.

Um estudo realizado em 2018, envolvendo aproximadamente 3.000 participantes da Oktoberfest (Munique/Alemanha), constatou que altos níveis de álcool estão associados a taquicardia e elevam o risco do desenvolvimento de arritmias (o batimento cardíaco irregular).

Por que isso ocorre?

Entre os fatores que podem causar os distúrbios no ritmo cardíaco e a sobrecarga do coração podemos citar alguns exemplos.

Em primeiro lugar, o álcool acelera o metabolismo e aumenta a pressão arterial, fazendo a pessoa suar mais e perder sais minerais. Também estimula a liberação de adrenalina e noradrenalina, hormônios que provocam a aceleração da frequência cardíaca. Além disso, faz com que o corpo perca água e muito potássio, tendo em vista o aumento do volume de diurese.

Os efeitos do consumo de álcool para o coração

Silhueta de corpo humano com coração em destaque, saúde cardíaca, cardiovascular - iStock - iStock
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O alerta é que esses episódios temporários de taquicardia podem acabar em problemas sérios. Uma das consequências, por exemplo, é a disfunção no sistema elétrico do coração, que leva ao aparecimento da fibrilação atrial, distúrbio agudo do ritmo cardíaco em que os batimentos ficam irregulares ou descompassados.

É possível ainda desencadear o agravamento de quadros de hipertensão arterial ou até levar a consequências mais graves, incluindo a insuficiência cardíaca, cardiomiopatias, infarto do miocárdio e o AVC. O perigo é maior para quem já tem questões cardíacas diagnosticadas que provocam arritmias e piores entre aqueles com condições presentes, mas ainda sem conhecimento.

Não devemos deixar de mencionar que beber demais pode interferir também nos níveis de diabetes e triglicérides que, combinado com colesterol, estimula o depósito de gordura na parede das artérias coronárias.

Por fim, importante destacar que alguns medicamentos têm seu efeito reduzido, modificado ou interrompido pelo álcool, portanto, é preciso atenção, em especial, para quem faze uso de remédios para diabetes, pressão ou ainda está tomando um anticoagulante (utilizado para impedir a formação de coágulos no sangue).

O que fazer no dia seguinte?

Muitos acreditam que anti-inflamatórios, analgésicos e outros fármacos são as melhores alternativas para a cura rápida e eficaz de uma ressaca, mas existem saídas mais saudáveis e até seguras. Alguns remédios, até aqueles de uso liberado e fácil acesso, podem causar efeito reverso e trazer mais prejuízos ao corpo, como irritar a mucosa do estômago e piorar os sintomas que já existem.

O ideal é descansar, beber muita água e manter uma alimentação mais leve.

De modo geral, o ritmo irregular dos batimentos cardíacos volta ao normal espontaneamente dentro de até 24 horas, com a ingestão de álcool interrompida e as medidas indicadas. Caso isso não ocorra e ainda novos sintomas apareçam, como a dor no peito (angina), a recomendação é a busca por atendimento médico.