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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Aquela tosse que não passa também pode ser sinal de problema no coração

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista de VivaBem

07/05/2023 04h00

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Parece uma simples tosse, consequência de uma gripe ou resfriado. Semanas, meses e ela se mantém presente. Se você tem apresentado o sintoma por um período prolongado, talvez seja hora de investigar a causa. A tosse pode ser um indicativo de problema sério no coração.

O que provoca a tosse?

Há vários motivos pelos quais você pode ter tosse. De modo geral, é uma ação reflexa do corpo para limpar as vias aéreas de muco e agentes irritantes ou alérgenos, que vão desde poeira, fumaça, mofo, poluentes do ar e tabaco até a deglutição ou ingestão inadequada de bebidas e alimentos.

Além das gripes e resfriados, também pode estar relacionada a outras questões pulmonares e respiratórias, como bronquite, rinite, asma, pneumonia, ou ainda a doença do refluxo gastroesofágico (também conhecida como refluxo ácido). Na maioria dos casos, o sintoma não é motivo de preocupação.

A tendência é que a tosse desapareça dentro de alguns dias ou poucas semanas. No entanto, uma tosse persistente ou crônica, especialmente sem um motivo que a justifique, merece ser investigada, uma vez que pode ser indício de uma disfunção mais grave ocorrendo no organismo.

A tosse e o coração

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Imagem: iStock

Poucos fazem a associação da tosse à saúde cardiovascular, entretanto, se você tem uma doença cardíaca ou fatores de risco para tal, é aconselhável estar atento a essa possibilidade. Isso porque não há apenas uma, mas algumas questões que alteram o funcionamento do órgão e podem provocar o sintoma.

Se o coração não estiver trabalhando direito, especialmente quando deitamos, pode haver um aumento do retorno de sangue para os pulmões, o que resulta na congestão pulmonar e estimula a tosse (em geral com muco).

Em resumo, isso ocorre por uma insuficiência cardíaca, quadro em que o coração fica dilatado e com sua função de bombeamento reduzida —o órgão se torna incapaz de bombear adequadamente o sangue pelo corpo.

Ao fazer contrações com menos força do que deveria, permite que o sangue volte aos pulmões e gere um acúmulo de líquido na região, criando o que chamamos de edema pulmonar. O organismo então reage com a tosse intermitente na tentativa de eliminar o excesso de fluido.

A tosse cardíaca surge, por exemplo, em quadros de doenças da valva mitral, em casos avançados das lesões da valva aórtica, nas doenças obstrutivas do coração, em cardiomiopatias e em várias cardiopatias congênitas.

Esteja atento aos sinais

Normalmente, a tosse cardíaca vem acompanhada da sensação do peito borbulhar, com um som de assobio dos pulmões, respiração forte e chiado intenso; falta de ar ao caminhar, se movimentar e até ao ficar deitado; fadiga e fraqueza; retenção de líquidos e inchaços nas pernas, tornozelos e pés; dispneia noturna paroxística (acordar no meio da noite, ofegar e tossir); batimentos cardíacos rápidos ou irregulares e aumento da necessidade de urinar durante a noite.

Tossir pode interromper um ataque cardíaco?

Talvez você já tenha se deparado com um texto no WhatsApp ou post nas redes sociais sugerindo que tossir de forma repetida e vigorosa ajuda o coração a recuperar o ritmo, fazendo com que a pessoa que está infartando ganhe tempo para chegar até o hospital.

Mas será mesmo possível corrigir um ritmo cardíaco irregular e escapar de um infarto simplesmente tossindo?

A resposta é não. Ao tossir, alteramos a pressão intratorácica (que envolve os pulmões), afetando o fluxo sanguíneo que vai para o coração. Também há uma ativação no sistema nervoso —especialmente o sistema nervoso parassimpático (vagal), que liga o coração, os pulmões e o abdome ao cérebro. Quando o efeito é estimulado, ocorre um impacto no sistema elétrico do coração —mudanças sutis no fluxo sanguíneo e no sistema elétrico que podem auxiliar na melhora de alguns casos de arritmia.

Porém, o infarto do miocárdio ocorre quando o fornecimento de sangue ao músculo cardíaco é interrompido pela artéria coronária. Nessas situações, há predomínio do efeito vagal, com redução da frequência cardíaca, no entanto, o estímulo dado pela tosse não é suficiente para reverter o quadro.

O ato de tossir não é eficaz, portanto, na recuperação da interrupção do fluxo de sangue —pelo contrário pode agravar o quadro e atrasar o atendimento. Em quadros de infarto, a recomendação é, ao primeiro sinal, procurar o serviço de emergência o mais breve possível. Quanto mais rápido o diagnóstico e o início de tratamento, menores são as chances de danos ao músculo cardíaco e sequelas.

Quando devo me preocupar com a tosse?

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Se algo está causando irritação nos pulmões ou o organismo está tentando se livrar de um corpo estranho preso no muco, a tosse tende a parar assim que o fator irritante ou a infecção desaparecer. No caso da tosse persistente, como vimos, é outra questão. Por isso, é preciso avaliar a frequência e os sintomas associados.

Para tosses de curta duração, o provável é que se trate de uma infecção viral que melhorará por conta própria em dias ou poucas semanas. Na presença de tosse persistente e limitante, a recomendação é buscar um especialista para uma avaliação cardiopulmonar.

Só assim será possível o diagnóstico e o início do tratamento, que varia dependendo da causa. O importante é não esperar o quadro se agravar.