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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Home office: como manter a saúde do coração trabalhando em casa?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

21/05/2023 04h00

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O home office é hoje realidade para muitos brasileiros. Depois da pandemia da covid-19, o modelo de trabalho ganhou mais espaço nas empresas e adeptos em todas as áreas.

E apesar da praticidade em fazer da casa um escritório, o home office pode também ter pontos negativos e prejudiciais. Alguns hábitos e circunstâncias geradas por essa forma de trabalho contribuem com o surgimento de alterações físicas e psicológicas, influenciando até na saúde do coração.

Pontos que precisam de atenção

Acordar minutos antes de uma reunião, fazer uma pausa no meio do dia para relaxar, estar mais perto da família ou de quem gostamos, investir as horas perdidas no trânsito em momentos de lazer... A lista de benefícios do trabalho em casa é longa, sabemos.

No entanto, é preciso tomar cuidado para que o home office não vire motivo de preocupação. Excesso de trabalho, poucas horas de sono, falta de exercícios, isolamento social, descuido com a alimentação, fumar e ingerir álcool em grandes quantidades são alguns dos pontos de atenção quando o assunto é a rotina de quem faz home office.

1. Jornadas ainda mais longas

O fato de estar em casa tem levado muitos profissionais a exceder a jornada de trabalho diário, além da sobreposição de tarefas e responsabilidades. Como não é preciso considerar o tempo de deslocamento e horário de fechamento das empresas, por exemplo, há quem esteja disponível praticamente 24 horas por dia, todos os dias.

O que pode levar a um desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal e ao burnout, termo usado para explicar um quadro de esgotamento e colapso físico e mental. Pesquisas recentes apontam o aumento de casos de doenças cardíacas isquêmicas (a doença arterial coronariana) e AVC (acidente vascular cerebral) devido às longas jornadas de trabalho.

E o principal vilão nessa história é o estresse, que quando presente de forma constante, estimula a produção de hormônios que elevam a pressão arterial e o colesterol. A experiência crônica do estresse associada às longas jornadas de trabalho afeta ainda os processos metabólicos e leva a casos de depressão e crises de ansiedade. Isso só para citar alguns dos problemas gerados.

2. Cuidado com o isolamento

O ambiente de trabalho em um escritório naturalmente permite e estimula a interação e colaboração entre os profissionais. A pausa para o cafezinho e o bate papo informal é um momento importante, o que nem sempre acontece no home office. Muitas vezes essa pausa acaba sendo usada para fazer alguma tarefa doméstica.

Por isso, pessoas que trabalham em casa podem se sentir desconectadas de seus colegas e da organização como um todo. O home office em alguns casos gera a sensação de isolamento, o que interfere na saúde mental e na qualidade do convívio social dos indivíduos. Portanto, sair para espairecer, para tomar um café, conversar com outras pessoas e tirar a mente do trabalho por alguns minutos pode fazer diferença.

3. Distrações que afetam a produtividade

Se por um lado estar em casa nos possibilita ganhar tempo e agilidade para resolver as demandas do dia a dia, as distrações presentes também têm efeitos negativos. Muito provavelmente quem trabalha em home office já enfrentou uma obra por semanas ou meses na vizinhança, teve uma reunião interrompida por uma entrega ou um membro da família ou ainda precisou estender o expediente noite adentro para dar conta de uma tarefa que exigia silêncio e concentração.

Situações que, novamente, geram estresse, somado a irritação, preocupação, acúmulo de responsabilidades e demandas. O coração sofre e acaba atingido se o cenário se mantém em longo prazo.

4. De olho no sedentarismo

Levantar da cama para frente do computador, do computador seguir para o sofá e do sofá de voltar à cama. Isso te parece familiar? Pois ter uma rotina de trabalho em casa pode estimular a inatividade física e abrir precedentes para uma vida sedentária. O que é extremamente perigoso para a saúde. A falta de atividades e exercícios regulares afeta o corpo através de vários mecanismos e é capaz de provocar mudanças no funcionamento de todos os sistemas do organismo.

Um estilo de vida sedentário aumenta o risco de diabetes (particularmente o tipo 2), obesidade, problemas relacionados à circulação, certos tipos de câncer, hipertensão, distúrbios hormonais e lipídicos (níveis altos de colesterol e triglicérides, por exemplo), depressão, estresse e ansiedade, além de provocar a redução das defesas do corpo e maior suscetibilidade a inflamações.

De modo geral, todos esses fatores, juntos ou isolados, interferem no funcionamento do coração, potencializando os riscos de obstrução das artérias, da insuficiência cardíaca e, por consequência, da doença arterial coronária, de um infarto do miocárdio ou AVC.

Vale destacar também que a utilização de ambientes residenciais como escritório cria situações ergonomicamente desfavoráveis, com a permanência por horas em posturas inadequadas e a sobrecarga de determinadas estruturas corporais.

5. Alimentação sem qualidade

Não é difícil encontrar pessoas que ganharam uns quilinhos depois que aderiram ao home office. Quando trabalhamos fora, geralmente, o horário do almoço é mais respeitado. A maioria se preocupa em ir até um restaurante ou à copa do local para comer.

Entretanto, em casa, temos a geladeira e a dispensa disponível com alimentos prontos. Isso somado a necessidade de preparar a refeição e uma rotina atribulada pode abrir espaço para os descuidos, que incluem a ingestão de alimentos sem qualidade nutricional, lanches a qualquer hora e a falta de pausa para efetivamente comer com atenção.

Aqui fica o alerta: alimentos ricos em carboidratos e açúcares simples, sódio, gorduras saturadas e trans só nos fazem ganhar peso, aumentar o risco do desenvolvimento da hipertensão, colesterol e diabetes, bem como estimular o processo de deposição de gorduras nas artérias do organismo, o que pode ser determinante para o aparecimento da doença arterial coronária, inclusive com risco de infarto e até de morte.

6. Trabalhar em casa pode não ser bom para todo mundo

O fato é que o home office pode não ser adequado à personalidade de todos ou funcionar para qualquer pessoa. E isso deve ser levado em consideração. Há quem se sinta mais motivado em ter uma equipe presente, prefira a interação com colegas e superiores para concluir tarefas e atingir metas, consiga equilibrar melhor a vida profissional e pessoal quando esses locais não se misturam ou ainda não tenha disponível um espaço físico e estrutura adequados em casa.

Assim, esse modelo de trabalho pode ser benéfico para muitos, mas ter impacto negativo para outros trabalhadores. Quando há opção, é importante encontrar uma rotina que funcione bem para cada um. É possível, por exemplo, usar a casa como base de trabalho não todos os dias, mas em parte da semana.

Sinais de alerta

Como saber que o home office não está fazendo bem? Muitas vezes um estresse crônico, quadro de burnout ou princípio de depressão vem acompanhado de:

  • cansaço crônico
  • desânimo
  • desejo de se isolar
  • insônia e outros distúrbios do sono
  • dores pelo corpo e de cabeça
  • tremores
  • problemas gastrointestinais
  • falta ou excesso de apetite
  • dificuldade de concentração
  • irritabilidade e mudanças bruscas de humor
  • declínio da produtividade
  • presença de baixa autoestima
  • falta de interesse em coisas que antes eram relevantes
  • alterações na frequência cardíaca

Tire proveito do que é positivo

Para as empresas, o home office se mostrou eficiente em questões como redução de custos, novas possibilidades de negócios, ao encurtar distâncias e promover integração imediata entre pessoas. No caso dos colaboradores, a flexibilidade de horários e a possibilidade de eliminar o deslocamento para o trabalho, especialmente para quem vive nas grandes cidades, talvez seja uma das principais vantagens.

Além de evitar o estresse gerado durante o trajeto, essa economia de tempo é uma oportunidade de obter benefícios para a saúde física e mental, o bem-estar e a qualidade de vida, como dormir mais, incluir no cotidiano a prática de hobbies e exercícios físicos, ter mais momentos com a família e amigos, poder preparar refeições mais saudáveis, estudar e usar o tempo livre —não apenas aos finais de semana— para o lazer.

Nem sempre é fácil organizar todas as tarefas e diminuir as responsabilidades do dia a dia, mas é preciso ter a intenção e fazer o possível para isso. Procure estabelecer limites entre o pessoal e o profissional e ter horários fixos para atender as demandas de trabalho —pelo menos na maior parte dos dias. A atitude ajuda a desconectar psicologicamente.

Busque ter tempo de qualidade para relaxar sem culpa, horários ou obrigações, nem que seja por alguns minutos. E tente evitar o uso de telas (como computador, televisão, tablets e celulares) próximo a hora de dormir. Boas noites de sono são fundamentais. Elas promovem o bem-estar, auxiliam o corpo a se recuperar e se preparar para as demandas de um novo dia.