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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Como negligência com saúde aumenta riscos de complicações cardiovasculares

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

25/06/2023 04h00

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O negacionista é aquele que simplesmente não aceita uma ideia, a validade ou a verdade de algo ou de um fato, apesar de evidências ou argumentos que o comprovem, mesmo que seja apresentado, por exemplo, por uma comunidade científica, acadêmica ou filosófica. Trata-se de rejeitar, recusar-se a admitir e a reconhecer determinada questão.

O negacionismo está presente em diferentes esferas da nossa vida, inclusive quando falamos de saúde. Nesses casos, a negação pode ser vista como uma estratégia psicológica de enfrentamento, a escolha de negar a realidade para escapar de uma situação desconfortável.

Podemos fazer isso ao negligenciar ou minimizar fatores de risco, manter hábitos que sabemos ser prejudiciais, ignorar sintomas, evitar consultas e exames, fingir não notar dores e alterações no funcionamento do corpo. Mas quais são as consequências e os riscos de tais atitudes?

"Logo passa!"

Sabe quando o corpo dá sinais de que algo não anda bem? De maneira geral, percebemos o alerta enviado, mas nem sempre damos a devida atenção.

Não é difícil ouvir histórias de quem deixou um quadro se agravar por acreditar que não era nada sério ou o problema se resolveria sozinho, sem buscar um especialista para investigar o que estava acontecendo. Quando nos referimos aos indivíduos mais novos então, essa situação pode ser ainda mais corriqueira.

Muitas das doenças que atingem o sistema cardiovascular são mais frequentes depois da quinta ou sexta década de vida, entretanto nem por isso os jovens estão livres de descobrir um problema cardíaco.

Vemos de forma recorrente casos na mídia de atletas, esportistas, celebridades que antes mesmo dos 30 anos apresentaram alguma disfunção ou evento envolvendo o coração, como sopros, arritmias, cardiopatias congênitas, insuficiência cardíaca e infarto.

De modo geral, as doenças cardiovasculares, quando não detectadas cedo, durante a gestação ou nos primeiros anos de vida, apresentam sintomas no decorrer da vida. E quanto antes são diagnosticadas e tratadas, mais chances temos de evitar sequelas ou complicações graves.

Por isso, é de extrema importância ter essa percepção das mensagens que o corpo nos dá. Com as doenças do coração, esse alerta precisa ser ainda mais respeitado.

O coração nem sempre pode esperar

O coração é considerado uma máquina perfeita: executa o bombeamento de cerca de 100 mil contrações por dia, fazendo o sangue circular pelo organismo para manter a vitalidade de todos os órgãos e tecidos.

E como uma máquina, para garantir seu bom funcionamento, precisa que todas as peças e engrenagens estejam trabalhando.

Quando alguma delas para ou apresenta falhas, interfere em seu desempenho e pode provocar uma pane generalizada.

Assim, uma doença que não é devidamente tratada pode se agravar e trazer consequências. No caso de um infarto, elas podem ser até fatais. Diante de um ataque do coração, quanto mais rápido for iniciado o atendimento médico, menor será o tempo para o restabelecimento do fluxo de sangue, assim como os danos ao miocárdio e células do músculo cardíaco, com possibilidade de recuperação completa.

Esteja atento

O fato é que os sintomas de anomalias envolvendo o coração e até de um ataque cardíaco nem sempre são óbvios, claros e fáceis de associar com questões relacionadas ao órgão, mas se percebidos, não devem jamais ser ignorados. Muito além das dores no peito, outros indícios podem sinalizar que tem alguma coisa errada com a saúde cardiovascular.

O simples controle dos batimentos e suas variações podem identificar desde adaptações fisiológicas até disfunções, permitindo tratar e tomar as medidas necessárias. Limitações físicas atípicas também devem servir como alerta.

Uma pessoa na faixa de 20 ou 30 anos que não consegue acompanhar os amigos em atividades diárias ou na prática de esportes, precisa ficar atenta.

Cansaço excessivo e fora do normal, falta de ar, palpitações, dor torácica e nas costas, sensação de pressão ou aperto no peito e pescoço, incômodo na mandíbula e no estômago, suor frio, náusea ou tontura, aceleração ou diminuição repentina dos batimentos, tudo isso poderá caracterizar problemas no coração, principalmente quando desencadeados pelo esforço, situações de ansiedade e estresse bem como quando há fatores de risco envolvidos.

"Mas e se eu nunca senti nada disso, devo me preocupar?"

Esperar que um sintoma se manifeste pode ser tarde quando falamos do coração. Isso porque eventos graves —e até fatais— podem não dar qualquer indício até que efetivamente aconteçam, como o infarto do miocárdio.

Por isso, para saber se há ameaças é necessário investigar, acompanhar e manter os cuidados ao longo de toda a vida. Agir proativamente quando o assunto é a saúde cardiovascular pode ser determinante no agravamento ou surgimento de doenças.

Segundo a OMS, aproximadamente 80% das mortes por doenças cardíacas no mundo seriam evitadas com mudanças de comportamento, a adoção de um estilo de vida mais saudável e o monitoramento de fatores de risco, entre eles o colesterol, diabetes, obesidade e pressão arterial.

A importância do check-up

Seja por imprudência, teimosia ou medo de identificar um problema e ter de enfrentar longos tratamentos, basta pensar na ideia de fazer um check-up que muitos fogem de imediato —diversas pesquisas apontam que os homens costumam ser mais negacionistas nesse sentido do que as mulheres.

O fato é que fazer um check-up cardiológico é essencial em qualquer fase da vida. Atualmente, em função da qualidade e ritmo de vida que temos, do estresse e desafios do dia a dia, a prevenção deve ser iniciada mais cedo.

A orientação é que a primeira avaliação seja feita a partir dos 30 anos em pessoas com casos de eventos cardiológicos na família (quando não existe nenhum indício para realizá-la antes).

Na ausência de fatores de risco, sintomas e histórico familiar, esse acompanhamento, para as mulheres, deve começar entre 35 e 40 anos, e para os homens, a partir dos 35 anos —com reavaliações anuais.

Para aqueles que já têm algum diagnóstico de cardiopatia ou problema no coração, a recomendação é uma visita ao médico especialista de 6 em 6 meses (ou até menos, dependendo do indicado pelo profissional que faz o acompanhamento do caso).

Outro grupo que precisa desse monitoramento semestral é dos hipertensos, diabéticos e pessoas que têm o colesterol elevado.

Cuidado com a automedicação

O negacionismo em relação aos exames de rotina costuma vir acompanhado do hábito da automedicação. Geralmente, assim que um sintoma aparece, é prático e cômodo recorrer a uma busca na internet, parentes e amigos. Porém, a atitude pode ser arriscada tanto por causa de possíveis efeitos colaterais quanto por "mascarar" um distúrbio grave.

A informação imprecisa pode ser mais barata e rápida, porém, ilusória e prejudicial, capaz de expor a saúde do coração ao risco de eventos fatais. Toda medicação deve sempre ser orientada por um profissional, de forma individualizada, considerando condições de saúde, possíveis fatores de risco e predisposição genética para algumas doenças.

A negação após um choque

Negar um fato por um curto período pode até ser um mecanismo de enfrentamento, um tempo para nos ajustarmos a uma questão dolorosa e estressante. Às vezes, se algo chocante ou angustiante acontece, uma fase de negação é útil para dar a mente a oportunidade de absorver inconscientemente as informações ou a nova realidade em um ritmo que não nos levará a um colapso psicológico.

Por exemplo, ao receber o diagnóstico da doença arterial coronariana ou após sofrer um ataque cardíaco ou uma cirurgia no coração é normal ter sentimentos como choque, negação, culpa, raiva, medo e tristeza.

O paciente pode tentar evitar qualquer coisa que leve a pensar sobre a doença, entre consultas, medicamentos e mudanças de hábitos.

Muitos necessitam de tempo e apoio para se acostumar com o cenário que exigirá cuidados pelo resto da vida.

A negação nesses casos pode ser um mecanismo de defesa usado para reduzir a ansiedade. Isso é normal, necessário e até considerado saudável. Passa a ser um problema quando se prolonga e afeta o tratamento.

Rotina de cuidados

A ideia de que a prevenção deve ser iniciada aos 40 anos é coisa do passado. Os cuidados com a saúde do coração têm de se estender durante toda a vida.

Se você tem 20, 30 anos e nunca notou nenhum sintoma, mantenha seu check-up sempre em dia.

Não deixe para procurar um médico apenas quando sentir algo muito errado.

Algumas doenças são descobertas sem querer, mas em fase inicial, o que aumenta a chance de tratamento e de recuperação mais rápida.