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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Por que parece que meu coração está doendo? O que explica a dor na região

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

02/07/2023 04h00

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Desconforto, pontadas, pressão e aperto no peito. A sensação é de uma dor vindo diretamente do coração. Em muitos casos, reflexo de uma situação emocional forte, como uma tristeza profunda, sofrimento, aflição ou angústia.

No entanto, será que o órgão é mesmo capaz de provocar o sintoma no corpo? A resposta é sim. Conhecida também como dor torácica, a dor física relacionada ao coração de fato ocorre e por uma série de razões.

Cada um com a sua dor

A dor no peito é sentida de forma diferente por cada pessoa. Dependendo da causa, é descrita como:

  • aguda
  • constritiva
  • ardente
  • esmagadora
  • em pontadas
  • com sensação de aperto, queimação, compressão e desconforto

Pode se espalhar para o pescoço, mandíbula, um ou ambos os braços, ombros ou para as costas.

É possível se prolongar por alguns minutos ou horas. Em alguns quadros, se manifesta até por meses. Ocorre com diferentes graus de intensidade, de leve a intensa. Pode ir e vir e piorar durante ou após uma atividade física. Além disso, varia dependendo do que a motivou.

De onde vem a dor

De modo geral, o músculo cardíaco (o miocárdio) em si não é uma fonte direta de dor, pois possui poucas terminações nervosas sensíveis ao sintoma.

Porém, a dor ocorre quando há lesões, inflamações ou condições que afetam o miocárdio ou as estruturas ao redor do coração. Nesses casos, estimulam as terminações nervosas adjacentes, permitindo que o cérebro reconheça e interprete a sensação dolorosa.

Principais motivos

Os problemas cardíacos mais comuns que geram a dor no peito, em resumo, incluem:

Pericardite: condição caracterizada pela inflamação do pericárdio, o revestimento externo do coração. Pode ser originada por diversas razões, incluindo infecções virais ou bacterianas, doenças autoimunes e inflamatórias, trauma ou efeitos colaterais de certos medicamentos. Geralmente provoca uma dor súbita, aguda e lancinante, que piora quando o indivíduo respira profundamente, muda de posição ou se deita.

Cardiomiopatias: grupo de doenças que atingem o músculo cardíaco e, em alguns casos, provoca a dor. Nessas condições, o miocárdio pode ficar anormal, enfraquecido, espesso ou rígido, o que eleva as chances de disfunções no bombeamento sanguíneo e afeta a capacidade do coração em fornecer sangue rico em oxigênio para o corpo. As cardiomiopatias podem ter diferentes causas, como fatores genéticos, doenças do tecido conjuntivo, infecções e inflamações, uso excessivo de álcool ou drogas e doenças metabólicas.

Miocardite: um exemplo de cardiomiopatia. Trata-se da inflamação do músculo cardíaco, geralmente causada por uma infecção viral, bacteriana ou fúngica, doenças autoimunes, reações alérgicas a medicamentos, exposição a toxinas ou substâncias químicas. Essa inflamação pode enfraquecer o músculo cardíaco e afetar sua capacidade de bombear o sangue adequadamente.

A dor associada à miocardite é frequentemente descrita como aguda. Sua intensidade e localização podem variar. Alguns indivíduos sentem um aperto no peito, enquanto outros podem descrever a dor como uma pontada ou uma sensação de pressão.

Dissecção aórtica: condição potencialmente fatal que ocorre quando a parede da artéria aorta se rompe —a aorta é o principal vaso sanguíneo que transporta sangue do coração para o resto do corpo. A dor súbita e aguda no peito é um sintoma muito comum nesses casos.

Problemas nas válvulas cardíacas: quadros em que as válvulas do coração não funcionam corretamente, resultando em alterações no fluxo sanguíneo dentro do coração. Existem várias condições que podem afetar as válvulas cardíacas, por exemplo, a estenose valvar (uma ou mais válvulas ficam estreitas) e a insuficiência valvar (uma ou mais válvulas cardíacas não se fecham completamente, permitindo que o sangue vaze de volta para a câmara de onde veio).

Doença arterial coronariana (DAC): condição em que as artérias coronárias, responsáveis por fornecer sangue ao músculo cardíaco, são parcial ou totalmente obstruídas devido ao acúmulo de placas compostas de gordura, cálcio e outras substâncias que se acumulam em suas paredes. A DAC pode levar a complicações graves, incluindo angina, infarto e insuficiência cardíaca.

O grau de obstrução das coronárias varia de acordo com cada caso, assim como os sintomas. De maneira geral, obstruções nas coronárias têm como principal indício a dor, pressão, ardor ou aperto na região do peito —que pode irradiar para outros locais, como costas, pescoço, mandíbula, ombros e braços.

Angina x infarto

A angina de peito (ou pectoris) é um sintoma caracterizado por um desconforto na região, que pode remeter a um quadro de infarto ou não. Ambos são processos distintos.

A angina pode surgir devido à doença arterial coronária ou a partir de uma embolia, vasculite ou dissecção coronariana. Quando não investigada e tratada, tem entre suas possíveis consequências o ataque cardíaco. Portanto, serve como um alerta de que o coração não está sendo oxigenado adequadamente.

Outras causas

É importante lembrar que a dor no peito nem sempre é de origem cardíaca. O desconforto na região também pode ser motivado, por exemplo, por questões pulmonares, infecciosas, gastrintestinais (do esôfago, estômago e intestino), musculoesqueléticas e psicológicas (crises de ansiedade, estresse crônico e síndrome do pânico).

A dor no peito gerada pelo excesso de gases é uma das razões mais comuns de confusão, uma vez que acarreta em dores muito similares a um problema cardiológico. A explicação está no processo de digestão, do momento em que levamos o alimento à boca até o intestino.

Quando os gases se acumulam, provocam inchaço e a compressão de alguns órgãos. Tudo isso pode então ser sentido por nós em forma de dor no peito, acompanhada de cólicas.

Se a dor se intensifica a cada respiração profunda ou tosse e mover-se parece piorar a situação, é provável que o problema esteja relacionado ao pulmão. O risco cresce se a dor estiver concentrada no lado direito do peito. Quadros de pneumonia, infecção ou inflamação no revestimento dos pulmões (pleurisia), um coágulo de sangue no local ou até um ataque de asma podem desencadear o sintoma.

A azia (refluxo ou indigestão ácida) acontece quando o ácido estomacal flui de volta ao esôfago. Ela causa queimação ou dor no peito que pode subir até o pescoço e a garganta. Como o esôfago está localizado próximo ao coração, muitas vezes é difícil reconhecer de onde vem a dor. De modo geral, a azia ocorre pouco tempo depois de uma refeição, quando o indivíduo se deita ou dobra o corpo.

Dor emocional

A dor sentida no coração também surge como consequência do fim de um relacionamento, a perda de um parente ou amigo querido ou um choque traumático.

Nem todo mundo sabe, mas a dor emocional permanente, que envolve sentimento e é difícil de ser superada, pode se traduzir em uma dor ou mudança no corpo, inclusive no coração.

Trata-se da síndrome do Coração Partido, também conhecida como cardiomiopatia induzida por estresse ou síndrome de Takotsubo, uma alteração súbita, normalmente desencadeada por situações de estresse agudo e de intensidade elevada, que alteram o funcionamento do órgão.

Em resumo, a síndrome gera um descompasso temporário no músculo cardíaco —o ápice e o centro do ventrículo esquerdo sofrem uma paralisia transitória durante a sístole, distúrbio que o deixa sem força suficiente para bombear o sangue para o corpo.

Geralmente, a pessoa que apresenta esse tipo de cardiomiopatia tem início súbito de insuficiência cardíaca, juntamente com fortes dores no peito e alterações no eletrocardiograma que sugerem o infarto. No entanto, nesse caso o gatilho são os fatores emocionais, e não o bloqueio de artérias.

Isso ocorre porque as situações de estresse provocam aumento na produção de adrenalina e outros hormônios liberados pelas glândulas adrenais. Esses hormônios atuam sobre as artérias coronárias, determinando o estreitamento desses vasos que irrigam o músculo do coração.

A dor no peito não deve ser ignorada nunca!

Como vimos, dores no tórax podem revelar problemas de saúde mais simples, como excesso de gases no organismo, mas também serem um indício de que há algo grave acontecendo com o coração. O tratamento depende da causa subjacente e da gravidade dos sintomas.

O fato é que a dor no peito não é algo a ser ignorado em nenhuma hipótese, acima de tudo se não houver razão óbvia para acontecer e em especial por aqueles que têm hipertensão, diabetes, obesidade, colesterol alto, diagnóstico de insuficiência coronariana, histórico pessoal ou familiar de complicações no coração ou outros fatores de riscos para um infarto ou evento cardiovascular.

Na dúvida, não tente se autodiagnosticar ou diagnosticar quem está passando pela situação. Somente um profissional de saúde qualificado poderá realizar uma avaliação precisa, considerando os sintomas, histórico clínico e exames para determinar a razão da dor.

No caso do ataque cardíaco, a questão é que quanto mais rápido for iniciado o atendimento de emergência, menor o tempo para o restabelecimento do fluxo de sangue, assim como os danos ao miocárdio, com possibilidade de recuperação completa.