Paulo Chaccur

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Opinião

Oxigênio e a importância da respiração para o bom funcionamento do coração

Ele é um gás incolor, inodoro e insípido, ou seja, sem cor, sem cheiro e sem gosto (características em condições normais de temperatura e pressão). Poderia até passar despercebido se não fosse a sua importância. Estamos falando do oxigênio (O2), elemento fundamental e um dos protagonistas da nossa respiração.

De modo geral, não conseguimos ficar muito tempo sem oxigênio: em média, após 2 a 4 minutos já ocorre a falta de oxigenação cerebral e a perda de consciência. Podemos dizer, portanto, que o oxigênio é uma necessidade básica para manter as nossas funções vitais. O O2 é indispensável para as reações metabólicas, os processos regenerativos e o funcionamento de todos os sistemas do corpo, incluindo o cardiovascular.

A respiração

Para entendermos a importância do oxigênio, primeiro é interessante esclarecer alguns pontos sobre o sistema respiratório. Formado por um conjunto de estruturas saculares e tubos conectores, esse sistema tem como objetivo principal promover trocas gasosas, o que chamamos de hematose. Trata-se do processo de absorção e o transporte de oxigênio e a remoção de dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2) do organismo.

Isso acontece, resumidamente, da seguinte forma: o ar é transportado da boca até pequenas estruturas que estão dentro dos pulmões, os alvéolos. Cada alvéolo contém uma malha de vasos por onde o oxigênio pode entrar na corrente sanguínea.

Uma vez no sangue, ele é distribuído para todo o corpo através do trabalho incessante do coração, que bombeia o líquido rico em oxigênio e nutrientes. Nossas células dependem, dessa forma, do sistema cardiovascular (que também já foi chamado de circulatório) para obter e eliminar o que precisam para continuar funcionando adequadamente.

Dois processos fundamentais

E para ocorrer a troca gasosa e a distribuição sanguínea, contamos com duas circulações isoladas e interligadas: o sangue chega pelo lado direito do coração e é enviado aos pulmões para obter oxigênio e se livrar do CO2. Em seguida, retorna oxigenado para o lado esquerdo do coração, processo que recebe o nome de circulação pulmonar. Esse sangue que acabou de receber oxigênio dos pulmões é então bombeado pelo coração para o restante do corpo, o que chamamos de circulação sistêmica.

Tudo conectado

O processo respiração é um ato involuntário, porém, qualquer mudança no seu compasso natural pode causar problemas e alterar o funcionamento de todo o corpo. Como vimos, os sistemas respiratório e cardiovascular estão diretamente conectados. Quando um dos dois apresenta falhas, acaba comprometendo ou influenciando no funcionamento do outro.

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A oxigenação adequada do sangue é essencial, por exemplo, para a regulação da pressão arterial. Quando o sangue está bem oxigenado, os vasos dilatam e contraem de forma eficaz para manter a pressão dentro de limites saudáveis —o que ajuda a proteger contra problemas cardiovasculares, a exemplo da hipertensão.

Além disso, como qualquer outro tecido do corpo, o músculo cardíaco deve receber sangue rico em oxigênio e ter seus resíduos removidos pelo sangue. Ou seja, o coração em si também requer O2 para funcionar corretamente.

O oxigênio é fornecido ao órgão através de pequenos vasos sanguíneos, as artérias coronárias. Essas artérias entregam oxigênio e nutrientes ao músculo cardíaco, o miocárdio, garantindo que ele tenha a energia necessária para bater de forma eficaz e distribuir sangue pelo corpo. A falta de oxigênio ou o abastecimento insuficiente leva a danos ao miocárdio e, em casos graves, até a um ataque cardíaco (infarto).

Se não respiramos direito...

Quando os pulmões não fornecem O2 para o sangue de forma satisfatória, ocorre o que chamamos de insuficiência respiratória, condição grave, que dificulta a troca gasosa assim como prejudica a dinâmica do coração. A doença pulmonar obstrutiva crônica ou a embolia pulmonar são exemplos desse cenário.

Quando o coração está com problemas

Dificuldades na respiração podem também revelar que algo errado com o coração. A falta de ar é um dos sintomas mais comuns de insuficiência cardíaca, isto é, a incapacidade do órgão em atuar adequadamente na distribuição do sangue.

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Nos estágios iniciais da doença, muitas pessoas se sentem sem fôlego após exercícios ou ao realizar tarefas que exigem mais do corpo. No entanto, se o quadro avança, a sensação de falta de ar pode se tornar comum mesmo em atividades corriqueiras, como subir escadas, tomar banho e até ao se deitar.

Eliminar o que não precisamos

Vale reforçar que além de fornecer o oxigênio, a respiração também é responsável por manter o equilíbrio ácido-base, eliminando CO2, resíduo do metabolismo celular que pode ser prejudicial quando em excesso.

O acúmulo de dióxido de carbono pode levar, por exemplo, à hipercapnia, condição em que o pH do sangue se torna mais ácido, afetando o funcionamento das células e órgãos do corpo. É possível ocorrer aumento na pressão sanguínea e da frequência respiratória —o organismo tenta compensar o excedente de CO2 aumentando a ventilação pulmonar.

Uma hipercapnia avançada agrava quadros de doenças respiratórias e chega até a afetar o funcionamento do sistema nervoso central, causando sintomas como confusão, sonolência e, em casos extremos, o coma.

A condição é causada por várias razões, incluindo insuficiência respiratória, obstrução das vias aéreas, doenças pulmonares crônicas, uso inadequado de ventiladores mecânicos e overdose de drogas depressoras do sistema respiratório.

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Situações de esforço físico intenso, em que perdemos o ar, trazem risco?

Quando uma pessoa está se exercitando, o oxigênio é usado de forma mais rápida para fornecer aos músculos a energia necessária para ela se movimentar. Por isso, exercícios intensos podem, às vezes, causar uma sobrecarga significativa no sistema cardiovascular e o aumento expressivo na pressão arterial, o que por sua vez é capaz de levar a complicações e ao maior risco de problemas cardíacos graves, como arritmias e infarto.

A falta de ar durante o exercício intenso eleva também riscos de hiperventilação, cenário em que o indivíduo respira rapidamente e expulsa muito dióxido de carbono do corpo. Em alguns casos, as consequências podem ser sentidas em tonturas, confusão e até desmaios.

Para não confundir

Entretanto, é importante destacar que o ar que respiramos não é composto apenas de O2. O oxigênio representa cerca de 21% da composição, enquanto o restante é nitrogênio e pequenas quantidades de outros gases.

Outro ponto que deve ser esclarecido: a concentração de oxigênio na atmosfera já é regulada para manter um equilíbrio saudável. Embora o oxigênio seja vital para a maioria dos seres vivos, ele também pode ser tóxico em altas concentrações e causar danos a tecidos e órgãos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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