Paulo Chaccur

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Opinião

Você sabia que a cor da língua pode indicar problemas no coração?

Nosso corpo está todo conectado. Um problema ou disfunção em alguma parte dele muitas vezes afeta ou dá indícios em locais que nem imaginamos haver correlação. A língua, por exemplo, é capaz de fornecer pistas valiosas sobre a saúde - e isso não se restringe a bucal.

Alterações nesse pequeno órgão muscular presente dentro da boca são, em certos casos, sinais de distúrbios em outros órgãos ou ainda indicadores da presença de determinadas doenças. A cor da língua pode, inclusive, revelar que há algo de errado com o coração.

Coração em risco

É o que aponta uma pesquisa realizada no Hospital da Universidade de Guangzhou (China), publicada pela European Society of Cardiology (Sociedade Europeia de Cardiologia). Segundo o estudo, a língua reúne informações que mostram a probabilidade de um indivíduo ter ou não problemas cardiológicos.

A pesquisa traz evidências de que pacientes com insuficiência cardíaca crônica têm línguas com características bem diferentes quando comparados a indivíduos que não vivem com a condição. Nesses casos, a língua é geralmente mais avermelhada (um tom vermelho intenso, mais forte), com um revestimento amarelo, e a aparência muda à medida que a doença progride.

Os pesquisadores também descobriram que a presença de microrganismos nesse órgão muscular pode ajudar no diagnóstico do problema: a composição, a quantidade e as bactérias dominantes do revestimento da língua diferem entre pacientes com e sem insuficiência cardíaca. Aqueles com insuficiência apresentaram os mesmos microrganismos, o que dá a tonalidade mais escura.

No estudo, nenhum dos participantes tinha questões bucais ou odontológicas que pudessem confundir os resultados, nem haviam usado antibióticos ou imunossupressores, eram gestantes ou estavam amamentando, o que também poderia ter influenciado nas conclusões.

Como eu sei se minha língua aponta para um quadro saudável?

Uma língua "tipicamente saudável" tem características semelhantes: ela é rosada ou vermelha clara, viçosa, brilhante, de aparência "viva" e com uma fina e úmida camada esbranquiçada na superfície. Você deve então estar se perguntando: "Se minha língua tem uma cor diferente disso, é sinal de que estou com algum problema?" Nem sempre!

A verdade é que esse pequeno órgão pode apresentar uma variedade de cores: vermelha, amarela, branca e até roxo, em diferentes tonalidades. Algumas são de fato indícios de distúrbios ou doenças, outras são alterações normais por motivos diversos. Não devemos esquecer que a coloração e a aparência da língua variam de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como idade, genética, hábitos, entre outros fatores.

O que cor da língua revela sobre a saúde?

Vejamos a seguir algumas alterações e o que elas podem significar:

- Vermelha: além de sinalizar a presença de uma questão cardíaca, como vimos acima, uma língua com tom vermelho acentuado pode revelar algo simples como uma deficiência de vitamina B (especialmente B12 e B6), ácido fólico ou ferro. Outras possíveis causas são: escarlatina, eczema, faringite estreptocócica e a doença de Kawasaki.

- Branca ou esbranquiçada: uma língua de cor branca geralmente é consequência de manchas que crescem em sua superfície, causadas em grande parte dos casos por infecções fúngicas, como candidíase oral (popularmente conhecida por "sapinho"). Uma língua esbranquiçada pode revelar ainda desde uma má higiene (por falta de limpeza adequada durante a escovação) até quadros de lesões pré-malignas, infecciosos e tumorais.

- Azul ou roxo: questões relacionadas à má circulação sanguínea (enfermidades que modificam o fluxo de oxigenação no sangue) podem fazer com que a língua fique em um tom mais arroxeado ou azul. O que é ser atribuído, por exemplo, a problemas pulmonares, hematológicos, doença renal e cardiopatias (do grupo cianogênicas). Intoxicação por gás cianeto ou inseticidas e exposição a fumaça de incêndios são outras causas de uma língua roxa ou azulada.

- Amarela: uma aparência amarela é capaz de revelar anos de tabagismo (em alguns quadros a língua chega até a ficar marrom). Às vezes, a icterícia e a psoríase também deixam a língua amarela - a icterícia, por sua vez, é um possível sinal de doenças do fígado e vias biliares, como pedra na vesícula e hepatites.

Além da cor, que aspectos devemos observar?

A observação da língua como subsídio para a descoberta de doenças não é algo novo. Trata-se de uma prática milenar, usada especialmente pela medicina chinesa, que vem sendo utilizada inclusive em diversos estudos clínicos - princípios que consideram a língua uma representação da saúde geral.

Além da cor, outras características devem ser consideradas como importantes indicadores de saúde, entre elas a textura, o revestimento (uma película espessa esbranquiçada ou amarelada pode se estender a outras áreas da boca e indicar uma infecção), umidade e viscosidade (pacientes diabéticos normalmente apresentam disfunções relacionadas à saliva que reduzem o fluxo salivar, assim como em quadros de estresse crônico e ansiedade).

Alterações no tamanho ou formato da língua (a exemplo de inchaços, caroços ou nódulos incomuns ou afinamento), manchas, lesões e bolhas também devem ser tidas como sinais de alerta e podem revelar uma lista extensa de condições.

Quando procurar avaliação médica

É importante ficar claro que a cor da língua fornece algumas informações sobre a saúde do coração, mas não é um indicador direto de problemas. Questões cardíacas devem ser diagnosticadas por meio de investigações que envolvem exames médicos específicos, como eletrocardiogramas, ecocardiogramas, exames de sangue e outros procedimentos clínicos.

O mesmo vale para outras condições: alterações na língua são apenas alguns dos muitos sintomas que podem revelar disfunções e doenças. Sua observação é complementar e não dispensa a avaliação geral do indivíduo por um profissional de saúde. Vale ressaltar, entretanto, que essas mudanças nunca devem ser negligenciadas, principalmente se permanecerem por um longo período.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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