Paulo Chaccur

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Reportagem

O que é psoríase e por que ela pode causar danos à saúde do coração?

Quando falamos em fatores de risco para as doenças cardiovasculares, a maioria das pessoas logo faz a associação com os aspectos mais comuns envolvendo o coração.

Entretanto, o que se tem observado é que certas condições como gota, doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide e psoríase também podem causar ou agravar problemas cardíacos. Em situações assim, o que esses indivíduos têm em comum é a inflamação crônica.

Para começar: o que é a psoríase?

Provavelmente você já deve ter ouvido falar na psoríase, uma doença inflamatória, não contagiosa, que atinge aproximadamente 2% da população mundial. No Brasil, segundo dados da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), ela acomete cerca de 1,3% das pessoas.

Dizemos que a psoríase é cíclica, ou seja, apresenta sintomas que surgem e desaparecem periodicamente.

A enfermidade se manifesta, geralmente, na faixa dos 20 aos 30 anos, em ambos os sexos, e tende a persistir por toda a vida, com períodos de melhora e piora.

Predisposições genéticas, junto com fatores ambientais ou de comportamento, normalmente, são apontados como as causas de seu aparecimento.

Processo inflamatório

Apesar de os sinais serem mais evidentes na pele, trata-se de uma doença que pode atingir outras áreas do corpo, como articulações, tecidos e órgãos, a exemplo do coração.

Como muitas doenças autoimunes, a psoríase sobrecarrega o sistema imunológico, ocasionando uma crescente inflamação no organismo. Esse sistema imunológico hiperativo é o responsável por acelerar o ritmo de renovação das células cutâneas.

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Em resumo: os linfócitos (células responsáveis pela defesa do corpo) liberam substâncias inflamatórias que atacam células saudáveis da pele.

Em resposta, elas passam a ser produzidas em maior quantidade e velocidade.

Com esse crescimento intensificado, camadas de pele se acumulam na superfície e formam placas ou escamas, desencadeando assim uma descamação cutânea e o possível surgimento de feridas e outras complicações.

O mesmo processo de autoinflamação que causa as lesões na pele e articulações é capaz de provocar o aparecimento de outras patologias, também conhecidas como comorbidades, entre elas as doenças cardiometabólicas.

Como o coração entra nessa história?

Em função de seu caráter sistêmico, a enfermidade, antes considerada somente de pele, também passou a ser associada a questões que envolvem a saúde do coração, a exemplo da síndrome metabólica, condição caracterizada pela combinação de aspectos que elevam os riscos de doenças e eventos cardiovasculares, como distúrbios no ritmo cardíaco (arritmia), infarto ou AVC.

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Com a presença de pelo menos três fatores no organismo, é dado o diagnóstico da síndrome. Esses problemas crônicos incluem obesidade e o excesso de gordura na região abdominal, hipertensão arterial, alterações nos níveis de glicose no sangue (a resistência à insulina e a intolerância à glicose podem levar ao diabetes tipo 2) e dislipidemia (presença de níveis elevados de lipídios - colesterol LDL e triglicerídeos - no sangue).

Pesquisas apontam que pacientes com psoríase, especialmente casos graves, apresentam até 70% mais risco de ter a síndrome metabólica.

Especialistas apontam alguns pontos que explicam essa possível relação, tais como:

  • genes compartilhados (certos genes que aumentam o risco de ambas as condições)
  • resistência à insulina (pessoas com psoríase não respondem tão bem quanto deveriam à insulina)
  • além de problemas ligados a lipoproteína, responsável pelo transporte do colesterol no sangue (a psoríase pode influenciar na composição dessas proteínas e levar ao acúmulo de colesterol)

Por que uma doença inflamatória de pele aumenta o risco cardiovascular?

De acordo com a National Psoriasis Foundation (entidade nacional sobre a doença nos EUA), é possível assim que a inflamação crônica causada pela psoríase leve ao acúmulo de placas de gordura na parede das artérias, o que pode acarretar no estreitamento da passagem ou bloqueio total do fluxo de sangue —o que recebe o nome de aterosclerose.

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Quando isso acontece nas artérias que fornecem sangue oxigenado ao coração (as coronárias), provoca a doença arterial coronariana. Além disso, as manchas e placas de psoríase tendem a desencadear o crescimento de novos vasos sanguíneos, um processo chamado angiogênese que também aumenta a probabilidade da aterosclerose.

A psoríase pode ainda aumentar a atividade de coagulação, fazendo crescer a probabilidade de um coágulo bloquear ou prejudicar a circulação. Dessa forma, sem sangue suficiente chegando ao músculo cardíaco ou cérebro, ocorrem, respectivamente, o infarto e o AVC.

Outras possíveis relações entre psoríase e a saúde cardíaca

Um aspecto relevante é a tendência de isolamento entre os pacientes que sofrem com a condição. Como em momentos de crise muitos indivíduos evitam sair de casa e interagir com os demais em decorrência do aspecto das lesões, acabam adotando um estilo de vida pouco saudável, com prejuízos diretos e importantes no organismo.

Outra característica comportamental com sérias consequências é o impacto que ela tem sobre a saúde mental. A doença em alguns casos pode levar distúrbios por conta de preconceito, problema de autoestima e aceitação, chegando a quadros de depressão e ansiedade.

As pesquisas recentes trazem, portanto, diversos indícios de que pessoas com psoríase têm mais fatores de risco de doenças cardíacas do que as pessoas que não têm. No entanto, é preciso novos estudos para esclarecer e aprofundar o entendimento dessa relação.

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Recomendações

Como mencionado, a psoríase é multifatorial. Entre suas possíveis causas, é possível citar:

  • predisposição genética
  • estresse
  • tempo frio
  • uso de certos medicamentos
  • infecções diversas
  • tabagismo
  • consumo excessivo de álcool

Há diferentes tipos da doença, sendo necessário um dermatologista especializado para poder identificar, classificar e indicar a melhor opção de tratamento —de modo geral, adotar e manter um estilo de vida saudável ajuda na diminuição da progressão ou melhora da psoríase.

A condição pode surgir em qualquer parte do corpo, como cotovelos, joelhos, couro cabeludo, costas, unhas, palma das mãos e pés.

Sua lesão mais comum é uma placa seca, avermelhada e com escamas esbranquiçadas que de desprendem facilmente, e costumam coçar e doer. Em situações consideradas graves, a pele em torno das articulações corre o risco de rachar e sangrar.

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Assim, os sintomas da psoríase também variam, conforme a apresentação e gravidade do quadro. A psoríase leve traz apenas desconforto, mas em casos avançados é dolorosa e gera alterações que impactam significativamente na qualidade de vida.

Por isso, o ideal é procurar tratamento o quanto antes. A doença, mesmo não tendo cura, pode ser controlada e passar anos sem se manifestar.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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