Paulo Chaccur

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Reportagem

Muito além do peso: 8 tópicos que indicam que você pode estar fora de forma

O que é estar em forma para você? Muita gente provavelmente responderia: ter um corpo magro, malhado ou musculoso. Entretanto, não basta levar em conta apenas a aparência seguindo padrões estabelecidos socialmente, é preciso considerar a saúde.

Isso porque nem sempre aquele indivíduo que aparentemente se cuida e tem a balança a seu favor está de fato em boa forma física. Antes de fazer essa afirmação sobre alguém é importante considerar alguns aspectos que vão além do peso.

Perigos que não conseguimos ver

O sobrepeso e a obesidade são normalmente apontados como os principais indícios de que uma pessoa está fora de forma. E nesse ponto não há dúvidas: aqueles com maior circunferência abdominal têm realmente mais probabilidade de enfrentar problemas, especialmente quando falamos da saúde cardiovascular.

Porém, esse é apenas um ponto a ser analisado entre tantos outros. Não devemos nos esquecer que um corpo magro também pode esconder uma série de fatores de risco para a saúde, incluindo a do coração.

A explicação para isso vem das diversas variáveis envolvidas, como maus hábitos alimentares, sedentarismo, pressão sanguínea elevada, dislipidemia (altos níveis de gorduras no sangue) e estresse crônico.

Questões que, em muitos casos, determinam o desenvolvimento ou agravamento de um quadro cardíaco, independentemente de o indivíduo aparentar estar dentro do peso ideal e ter pouca gordura no corpo.

Além disso, uma pessoa supostamente saudável pode ter uma cardiopatia congênita ou adquirida, mas não diagnosticada, com a possibilidade de sofrer um infarto fulminante —isso sem nunca ter apresentado qualquer sintoma ou ter um quilo extra na balança durante a vida.

Indicadores de que a saúde NÃO está em dia

Assim, estar "fora de forma" tem um significado diferente para cada um. Isso porque há múltiplos aspectos para serem observados e avaliados, entre eles os sinais vitais, como a pressão arterial e as frequências cardíaca e respiratória.

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Outros indicadores são:

  • nível de atividade física (desempenho ao realizar uma tarefa ou exercício)
  • resistência cardiovascular (a capacidade do coração e dos pulmões de fornecer oxigênio aos músculos)
  • força e tônus muscular (capacidade dos músculos exercerem força)
  • flexibilidade (amplitude do movimento das articulações)
  • composição corporal abaixo ou acima do recomendado (proporção de gordura em relação aos músculos)

Portanto, não se deixe levar apenas pelas aparências. Temos que considerar uma série de indicadores para dizer se de fato a saúde e o condicionamento físico estão em dia. Vejamos alguns deles:

1. A relação entre gordura x peso

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

O senso comum, via de regra, parte do princípio que pessoas gordas não são saudáveis e quem aparentemente está magro é. Nem sempre é assim.

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Boa parte desse equívoco vem de um dos parâmetros usados para estabelecer o peso ideal e indicar sobrepeso e obesidade: o IMC (índice de massa corporal), que traça a relação entre peso e altura.

Um indivíduo magro pode ter o peso considerado adequado para sua altura, mas isso não necessariamente significa que ele esteja saudável e em forma. Para tal afirmação também é preciso avaliar o percentual de gordura, bem como sua localização no corpo.

A gordura visceral (aquela que se concentra ao redor de órgãos internos, como fígado, intestino e coração), por exemplo, pode levar as pessoas a não serem metabolicamente saudáveis, mesmo quando o IMC sugere que elas deveriam ter baixo risco de doenças cardiovasculares. Por outro lado, há quem possa ter um IMC que aponte sobrepeso ou obesidade, mas apresente baixos níveis de gordura visceral.

Esse último caso, de modo geral, reúne aqueles que não têm muita gordura concentrada na região abdominal —pessoas com excesso de gordura predominantemente ao redor da barriga têm chances mais elevadas de complicações que envolvem os vasos sanguíneos e o coração.

2. Outra avaliação importante: gordura x massa muscular

Ao falarmos em composição corporal, é importante esclarecer também a relação entre gordura e índice de massa muscular (ou massa magra).

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Um dos sinais de que o índice de massa muscular está inadequado é a falta de força e resistência física. Ou seja, quando você está fora de forma, seus músculos não são tão fortes quanto deveriam. Até mesmo movimentos básicos, como se levantar de uma cadeira ou erguer um objeto, exigem um esforço incomum.

Normalmente, o quadro é reflexo de um corpo que pode ser magro, mas tem pouca massa magra e um percentual de gordura elevado. Essa redução da força e massa é chamada de sarcopenia, um processo natural que atinge principalmente quem já passou dos 60 anos por fatores que vão desde alterações hormonais e fisiológicas comuns do envelhecimento até o estilo de vida. Sedentarismo, má alimentação, depressão, doenças crônicas e infecções acentuam o declínio da musculatura.

Com a redução da massa muscular, boa parte das pessoas substitui os músculos perdidos por gordura. Por isso, os exercícios de fortalecimento são tidos como fundamentais, uma vez que neutralizam essa tendência: ajudam a reduzir a gordura e criar uma massa muscular mais magra.

Atividades para fortalecer os músculos também contribuem para evitar e melhorar quadros de doenças cardíacas. Com o ganho de força e massa, o coração sofre uma sobrecarga menor diante dos esforços do dia a dia.

3. Sente cansaço excessivo com facilidade?

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Imagem: iStock

Atividades rotineiras, como carregar compras, arrumar a cama ou varrer a casa te desgastam muito? Isso pode ser um indício de estar fora de forma. O cansaço excessivo relacionado a atividades corriqueiras, em alguns casos, indica uma condição cardiorrespiratória ruim, isto é, pulmões com baixa eficiência e o coração trabalhando em excesso (quando o órgão precisa bater muitas vezes por minuto para levar sangue, oxigênio e nutrientes para o corpo).

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Quando o coração é exigido de forma intensa, está fraco ou dilatado, não bombeia o sangue com eficiência para pulmões e músculos, causando fadiga.

Vasos sanguíneos bloqueados ou problemas na circulação são outras causas desse cenário. É possível que o cansaço extremo e sem explicação esteja ainda associado a uma má absorção de nutrientes (minerais, proteínas e vitaminas) pelo organismo.

Aqui, o alerta surge especialmente quando essa exaustão se repete constantemente e passa a interferir na rotina, mesmo com noites inteiras de sono. O quadro pode revelar um problema de saúde subjacente e, portanto, merece ser investigado.

4. A qualidade do sono

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Imagem: Andrey Popov/Panthermedia/IMAGO

Por falar em sono, dormir mal ou pouco também deve ser um sinal de atenção. Uma pessoa que tem dificuldade para relaxar, dorme poucas horas por noite, sofre com insônia ou apneia, não tem um sono reparador, ampliando a possibilidade do surgimento de fadiga, estresse e outras complicações mais sérias que vão interferir no condicionamento, disposição e energia.

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O sono tem como finalidade oferecer recuperação ao corpo —e consequentemente ao coração. Durante o período em que estamos dormindo o organismo entra em estado de compensação de energia. Há diminuição do ritmo cardíaco e redução da pressão arterial.

Em casos de pouco sono profundo ou fragmentado é possível ocorrer um aumento da pressão e do estresse, amplificando o trabalho do coração. O corpo de quem dorme mal não faz assim essa pausa, estando mais propenso aos problemas cardíacos —cresce o risco de hipertensão, aterosclerose, infarto e AVC (acidente vascular cerebral).

5. Sua saúde mental não anda bem?

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Imagem: iStock

Estar em forma não deve se limitar apenas a questões físicas, mas incluir aspectos relacionados à saúde mental, como níveis de estresse e bem-estar emocional. Em maior ou menor grau, as situações estressantes estão presentes no cotidiano de todos.

Quando ocorrem, levam o corpo a reagir de forma imediata como mecanismo de defesa, alterando a respiração, ritmo dos batimentos e até os músculos, que ficam enrijecidos.

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Momentos de estresse afetam ainda o sistema imunológico, alteram a pressão, níveis de colesterol e de hormônios (como o cortisol).

O cenário se agrava quando é frequente, chegando inclusive a um ataque cardíaco ou AVC. Diante disso, é indispensável cuidar da saúde mental. Estar atento às relações e ao ambiente em que vivemos.

6. As taxas de colesterol e triglicérides

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Um dos mitos mais ultrapassados é acreditar que o colesterol é problema apenas de quem tem obesidade. Não é difícil encontrar alguém supostamente "em forma" com altos índices de colesterol e triglicérides. Essa presença de altas taxas de lipídios (ou gorduras no sangue) é chamada dislipidemia.

Isso pode ser explicado, primeiro, porque alguns indivíduos, apesar de estarem no peso considerado ideal, exageram em alimentos gordurosos, industrializados e ultraprocessados.

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Depois, por um componente genético que interfere na capacidade de remoção de colesterol pelo fígado.

Um parente de primeiro grau com colesterol alto ou o histórico familiar de algumas doenças, como diabetes e hipotireoidismo, também aumentam a probabilidade de níveis elevados de colesterol no organismo.

Com o acúmulo de gordura no sangue, placas podem se formar dentro das artérias, provocando a obstrução do fluxo sanguíneo, o que leva ao desenvolvimento de complicações cardiovasculares. Situações muitas vezes sem sinais evidentes e descobertas somente após a realização de exames.

7. Qual foi a última vez que você mediu sua pressão?

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A hipertensão ou pressão alta é uma doença, na maioria dos casos, silenciosa: estima-se que apenas 10% dos hipertensos tenham sintomas. Não escolhe idade, sexo ou estrutura corporal. Ou seja, pode atingir até mesmo quem aparentemente é saudável e apresenta boa forma física.

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Segundo o Relatório Global sobre Hipertensão, divulgado pela OMS em setembro deste ano, atualmente quase metade das pessoas com pressão alta em todo o mundo desconhece a sua condição. Assim, boa parte desses indivíduos só descobre o problema quando ocorre um evento cardiovascular grave, algumas vezes fatal.

Apesar de a pressão alta ter forte relação com fatores genéticos e até com o envelhecimento, costumes e comportamentos mantidos ao longo da vida contribuem de maneira significativa para o surgimento ou evolução da doença.

O consumo excessivo de sal e uma má alimentação, o hábito de fumar e ingerir bebidas alcoólicas são atitudes que, aliadas à falta de exercícios físicos, estresse, distúrbios do sono, obesidade e diabetes, potencializam os riscos.

8. Você recorre a dietas radicais sempre que deseja perder peso?

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O cuidado com a dieta alimentar é fundamental para manter a boa forma, o condicionamento físico e a saúde. No entanto, a preocupação exagerada e a busca pelo corpo perfeito levam a excessos desnecessários e prejudiciais ao organismo.

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O problema é que nem sempre a forma escolhida para controlar ou reduzir o peso é a melhor. Recorrer a dietas malucas ou medidas drásticas pode levar a uma série de riscos e danos. Quando a perda de peso é feita a partir de uma dieta extremamente restritiva, os resultados surgem de forma acelerada, mas não duradoura.

Sem o planejamento correto para a conquista do resultado em longo prazo, o corpo acaba eliminando aquilo que não deveria e mantém o que era para eliminar.

A consequência é o vai e vem na balança, o chamado efeito sanfona. Isso acontece porque o organismo, percebendo uma mudança radical na ingestão de alimentos, começa a agir de modo a proteger e reservar a energia para manter o seu funcionamento (inclusive na forma de gordura).

Para isso, diminui a produção de hormônios que tiram o apetite e eleva a liberação daqueles que aumentam a fome. Outra medida é a redução da atividade metabólica e, consequentemente, a queima de gordura mais lenta. Nesse processo, ocorre uma diminuição de massa muscular e de água nos tecidos.

O número na balança até diminui, entretanto, com o tempo e o retorno da alimentação menos controlada, o ganho de peso será maior e mais rápido.

Afinal, você está fora de forma?

Portanto, "estar forma de forma" representa muito mais do que ter um corpo sarado e musculoso. É a maneira como sentimos e executamos as atividades diárias. Reflete aspectos de nossa saúde física e emocional, inclusive estado clínico, a presença de fatores de risco e a probabilidade de doenças.

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A busca por um melhor condicionamento físico é, sim, importante. Não pela estética, mas como uma maneira de prevenir e combater todos os graves riscos à saúde que foram mencionados.

Assim, a prática de atividades físicas regulares é fundamental, bem como os cuidados com a alimentação, o sono, a saúde mental e a manutenção de hábitos e um estilo de vida saudável.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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