Paulo Chaccur

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Reportagem

Precisamos falar sobre dor! Ela pode prejudicar o sistema cardiovascular

A dor é uma experiência sensitiva e emocional complexa. Pode se manifestar de forma leve, quase imperceptível, ou causar um desconforto intenso e até mesmo paralisante. É possível sentir a dor de diferentes formas: ela surge como uma agulhada, formigamento, queimação, pontada, choque ou sensação elétrica, por exemplo. Centenas de condições, síndromes ou distúrbios compõem o espectro da dor.

Ela se difere muito de pessoa para pessoa, mesmo entre aquelas com lesões e/ou doenças semelhantes. Porém, seja como for, a dor nunca deve ser negligenciada. Isso porque geralmente é um sinal de que algo não está bem. Precisa ser levada a sério, tida como um alerta do corpo, um aviso para que algumas atitudes sejam tomadas ou evitadas, dependendo da sua causa.

Tipos de dor

Considerada um mecanismo de defesa do organismo, a dor pode ser dividida entre duas categorias principais, aguda e crônica.

A dor aguda, em geral, chega repentinamente. Na maioria dos casos é resultado de um ferimento, lesão, doença e/ou inflamação específica.

Também pode ser gerada por meio de estímulos provocados por situações ou agentes externos, como uma dor de cabeça desencadeada por um cheiro forte, um momento de estresse ou ainda ser decorrente de um trauma ou cirurgia.

Trata-se de algo mais pontual, momentâneo. Mesmo que essa dor incomode, quando sua causa é encontrada e tratada, ela desaparece. Podemos dizer assim que é uma dor autolimitada, ou seja, ocorre em um determinado período de tempo e gravidade.

Entretanto, se não for tratada, a dor aguda pode se tornar crônica.

Dor crônica: um incômodo constante

Quando falamos em dor, está aqui o maior problema: a dor crônica, isto é, aquela que persiste por um longo período e pode ser difícil de controlar.

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Por definição, a dor crônica tem como característica durar mais de três meses. Atinge qualquer parte do corpo e é capaz de provocar incômodos de forma contínua ou ir e vir. Em muitos casos significa conviver com dor 24 horas por dia, todos os dias.

Esse é um tipo de dor mais limitante, um problema que impacta de inúmeras maneiras a qualidade de vida e o bem-estar físico e emocional. É capaz de interferir significativamente em atividades diárias, como comer, trabalhar, ter uma vida social, cuidar de si ou de outras pessoas.

Indivíduos com dor crônica normalmente sofrem de mais de uma condição dolorosa. São pessoas que têm maior probabilidade de desenvolver diversos tipos de complicações físicas, de cognição e reações emocionais.

Estamos falando, portanto, de uma questão bastante prejudicial, que pode indicar ou desencadear problemas de saúde graves. Dependendo do quadro, a dor crônica leva à depressão, ansiedade e dificuldade para dormir, o que pode piorar o cenário e criar um ciclo difícil de interromper.

E se você acha que isso é raro de acontecer, se engana.

Cada vez mais brasileiros convivem com a dor

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Imagem: iStock

Segundo a OMS, cerca de 30% da população mundial sofre com algum tipo de dor crônica. Por aqui, uma pesquisa realizada em 2017 pela Sbed (Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor) apontava que pelo menos 37% das pessoas —ou 60 milhões de brasileiros— viviam com a dor frequente.

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Alguns anos depois, em 2021, um novo estudo feito por pesquisadores ligados à mesma organização, em parceria com diversas universidades e faculdades do país, apontou um aumento nesses dados: dessa vez, os números revelaram a prevalência da dor crônica em 45,59% do total de brasileiros.

Entre as dores mais relatadas estão a lombar, nas articulações, face, boca, pescoço, dores de cabeça, enxaquecas e neuropatia.

Mais do que um sintoma, uma doença

A dor crônica pode ser resultado, entre outras razões, de:

  • procedimentos cirúrgicos de reparação de hérnias
  • amputações e revascularização miocárdica
  • movimentos repetitivos e rotineiros (tendinites)
  • lesões antigas
  • resposta inflamatória (associada ao dano de algum tecido)
  • doenças crônicas (como fibromialgia, artrite reumatoide, gota e febre reumática)
  • problemas neurológicos, na coluna e oncológicos (causados por um câncer)

Quando pensamos no sistema cardiovascular e seus fatores de risco, é comum que pessoas que sofrem com diabetes e obesidade, questões que não têm cura, persistem por vários anos e exigem tratamento constante, também apresentem dores crônicas.

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Entretanto, há muitos quadros em que a dor surge e permanece sem uma causa óbvia. As estatísticas apontam que em apenas 1% dos casos a dor crônica é sinal de algo mais grave. Quando isso ocorre, ela deixa de ser um sintoma para ser o problema em si. Por isso, também é considerada uma doença.

Embora ainda haja muito a ser aprendido e revelado sobre a dor crônica, muitas das suas características estão associadas a sistemas cerebrais.

Resumidamente, é como se houvesse uma doença no nosso sistema de controle de dor. Assim, algumas vezes, ela vem e fica, mesmo sem um estímulo, gerando a dificuldade na inibição e modulação desse desconforto.

Danos ao coração

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Imagem: iStock

À medida que a dor se torna frequente, crescem as chances de consequências para a saúde cardiovascular. E isso ocorre por diversos aspectos.

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A dor pode ser uma forma de estresse para o corpo. Estar sob seu efeito de forma constante expõe o organismo a níveis insalubres e persistentemente elevados de hormônios, como o cortisol e a adrenalina, que são lançados na circulação e causam efeitos adversos para o coração e os vasos sanguíneos.

Além disso, indivíduos com dor crônica muitas vezes têm limitações em sua capacidade de se exercitar ou realizar atividades físicas, o que pode levar a um estilo de vida mais sedentário. A falta de atividades regulares está associada a fatores de risco para as doenças cardíacas, incluindo obesidade, diabetes, altas taxas de colesterol e hipertensão.

A dor crônica também está relacionada à inflamação persistente do organismo, contribuindo dessa forma para a progressão da aterosclerose (acúmulo de placas nas artérias) —quadro que tem como consequência o infarto do miocárdio e o AVC (acidente vascular cerebral).

Dores constantes podem ainda influenciar o sistema nervoso autônomo, responsável pelas ações involuntárias do corpo, incluindo a regulação do ritmo de batimentos do coração e a pressão arterial. Quando esse sistema é estimulado por sinais de dor, a frequência cardíaca e a pressão tendem a aumentar.

Por fim, existe a possibilidade de alguns medicamentos, especialmente analgésicos e anti-inflamatórios, darem origem ao problema. Assim, é fundamental que o uso de remédios não seja feito de forma indiscriminada, mas apenas com orientação médica.

Existe saída

Apesar de a OMS reconhecer a dor crônica como doença, quem convive com uma dor constante sabe o tamanho do desafio e dos percalços enfrentados. Muitos precisam lidar com o preconceito, a desinformação e a descrença de familiares, amigos, colegas de trabalho e até de profissionais de saúde.

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Por isso, reforço: dor nenhuma deve ser normalizada ou negligenciada. É fundamental a realização de uma avaliação completa do quadro do paciente, a identificação da possível causa do problema e a elaboração de estratégias abrangentes para o gerenciamento da dor e suas consequências.

O tratamento da dor crônica geralmente tem uma abordagem multidisciplinar, incluindo medicamentos, fisioterapia, terapias cognitivo-comportamentais, procedimentos intervencionistas, entre outras opções, dependendo da causa subjacente e das necessidades de cada indivíduo.

Com um plano de tratamento adequado é possível encontrar o alívio para a dor e assim conquistar uma melhora no bem-estar e na qualidade de vida.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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