Paulo Chaccur

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Reportagem

É preciso ter medo da atividade física após um infarto?

A vida depois de um infarto será diferente durante algum tempo. Isso é praticamente inevitável. Em boa parte dos casos, atividades simples e cotidianas passam a ser desafiadoras e exaustivas. O corpo precisa de um período de recuperação.

O coração leva, em média, três meses para se restabelecer —para algumas pessoas essa fase é mais longa, variando de acordo com o quadro e a gravidade. Sendo assim, é fundamental ter calma e paciência, além de seguir o processo de reabilitação cardíaca, extremamente importante tanto para os aspectos físicos quanto emocionais.

Isso inclui o tratamento e todas as recomendações médicas para prevenir e administrar possíveis consequências. E nem todo mundo sabe, mas os exercícios entram nessa história como um aliado para o restabelecimento da saúde cardiovascular e até a redução do risco de eventos futuros.

Mas é seguro praticar exercícios após um ataque cardíaco?

Essa é uma dúvida frequente entre pacientes que enfrentaram um infarto. Muitos inclusive temem e evitam retomar as atividades com receio de o músculo cardíaco não suportar ou se adaptar à prática.

Entretanto, quando realizados de maneira adequada e sob supervisão, os exercícios físicos podem ser extremamente benéficos.

Eles ajudam a aumentar, por exemplo, a capacidade do coração de bombear sangue e, consequentemente, oxigênio para o corpo.

Há ganhos em relação ao fortalecimento muscular: um treinamento de resistência é capaz de fortalecer os músculos, inclusive o músculo cardíaco, melhorando a circulação sanguínea e a eficiência do sistema cardiovascular.

Outro ponto que merece destaque é a associação dessas atividades com os fatores de risco para o órgão. A prática contribui no controle da pressão arterial, colesterol, diabetes e obesidade. Ou seja, atua na prevenção da reincidência do infarto e outros possíveis distúrbios que atingem esse sistema.

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Há ainda uma interferência positiva no estresse e em quadros de ansiedade, comuns em indivíduos que estão em período de recuperação, e que também afetam a saúde cardiovascular. Estatísticas apontam que na sequência de um infarto a probabilidade de uma depressão é significativamente maior.

Cada caso é único!

O que não quer dizer que todo paciente que sofreu um infarto pode sair por aí fazendo qualquer atividade, voltar à academia ou à prática de esportes como tinha o costume antes de passar pelo problema.

É preciso cautela. Um descuido é capaz de desencadear outro ataque cardíaco. Assim, é importante destacar que a intensidade e o tipo de exercício precisam ser adaptados às capacidades e necessidades individuais de cada um.

Por isso, a supervisão profissional, especialmente durante os estágios iniciais da reabilitação, é crucial. As atividades físicas devem ser retomadas de forma gradual e progressiva, evitando esforços excessivos. Isso ajuda o coração a se adaptar pouco a pouco ao aumento da demanda de oxigênio e reduzir o risco de complicações.

Vale reforçar ainda que essa atenção não se restringe a esportes de grande impacto ou as atividades de exaustão, que levem à hipertrofia muscular ou ao emagrecimento. Qualquer movimento do corpo que exija trabalho da musculatura e gasto de energia precisa ser feito com cuidado por aqueles que enfrentaram um infarto recente.

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Por onde começar?

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Imagem: iStock

Em geral, é possível dar início a retomada das atividades habituais algumas semanas após o infarto. Isso depende das condições de saúde, do nível de condicionamento físico antes do evento, além dos danos provocados pelo ataque cardíaco.

Dentro de um programa de reabilitação, após avaliação, cada paciente obtém uma prescrição individualizada do tipo de prática a ser realizada. Apesar dos riscos inerentes à execução de exercícios, a reabilitação supervisionada é segura.

Uma maneira de começar é pelas atividades leves e cotidianas, como cozinhar e caminhar pela casa. No início, são indicadas caminhadas lentas de 5 a 10 minutos por dia, aumentando o tempo e a distância progressivamente.

Aos poucos se torna viável caminhar até uma loja local ou dar a volta no quarteirão, por exemplo. Importante se certificar que o trajeto seja plano e seguir um ritmo confortável, que possibilite falar sem sentir falta de ar.

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Retomada com consciência

Nesse processo, a ideia é adicionar gradualmente novas atividades e exercícios de baixo impacto e intensidade, sempre com atenção a possíveis dores ou desconfortos e o monitoramento da pressão arterial e frequência cardíaca —ambas tendem a subir dependendo do esforço exigido.

Dentre as atividades recomendadas, entram: alongamentos, treinos de força, resistência e fortalecimento muscular, além de exercícios respiratórios e aeróbicos (esteira ergométrica, bicicleta, máquinas elípticas ou de remar são alguns deles). Atividades aquáticas, como natação ou hidroginástica, também podem ser benéficas nessa fase. A flutuabilidade (capacidade de flutuar na água) reduz o impacto sobre o corpo.

Um programa de reabilitação cardíaca varia bastante de paciente para paciente em relação à quantidade, intensidade e duração: de 15 a 120 minutos por sessão, duas a sete sessões por semana, por períodos de 12 a 90 semanas. Ao final dessa etapa, à medida que o condicionamento físico e a confiança aumentam, é possível retomar esportes mais intensos.

Cuidados e recomendações

No entanto, antes de iniciar ou modificar treinamentos físicos, é indispensável obter a aprovação e orientação do médico que acompanha o caso. Só ele poderá avaliar o quadro, considerando fatores como a extensão do infarto, a saúde geral e outros problemas relacionados.

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Nesse processo, a auto-observação também fará diferença: durante o exercício, é fundamental estar atento aos sinais do corpo. Se houver dor no peito, falta de ar, tontura ou outros sintomas, a orientação é interromper a atividade e procurar assistência imediata.

Vale lembrar que qualquer pessoa que começa ou retoma a prática de exercícios deve ter cautela, principalmente em relação ao coração. Quando o órgão é exigido, reage de diversas formas. Se não estiver em boas condições, a experiência pode ter consequências negativas.

A conquista de uma vida com qualidade

Após um evento grave, como um infarto, é comum ser tomado pelo medo, ter restrições ou dificuldades para voltar a uma rotina normal. Porém, com os devidos cuidados, não é necessário temer as atividades físicas. Como vimos, exercícios bem planejados e supervisionados podem ser uma parte crucial do processo de recuperação.

Interessante destacar, entretanto, que eles não agem sozinhos: integram um conjunto de ações que envolvem a manutenção de um estilo de vida saudável, o gerenciamento de fatores risco cardiovasculares e da saúde em geral.

Para alguns, esse processo é árduo, exige apoio e tempo. Contudo, na grande maioria dos casos, é bem-sucedido e os pacientes voltam a desfrutar de uma vida ativa, com autonomia, bem-estar e qualidade.

Reportagem

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